Após alguns meses de ausência, meus comentários sobre os filmes que vi no mês estão de volta. Divirtam-se e usem como possível referência (ou não).
EM BUSCA DA FELICIDADE (HAVE DREAMS, WILL TRAVEL) – EUA, 2007 **
De Brad Isaacs. Com AnnaSophia Robb, Cayden Boyd, Val Kilmer, Lara Flynn Boyle, Matthew Modine, Heather Graham e Dylan McDermott.
Historinha bem-intencionada, mas completamente sem graça sobre duas crianças descobrindo a vida. As situações são um acumulado de clichês e as soluções para os conflitos para a trama chegam a ser risíveis, de uma facilidade absurda. O destaque mesmo fica por conta da garotinha AnnaSophia Robb, mais uma vez interpretando uma jovem “professora” a um menino, papel semelhante ao desempenhado no ótimo Ponte para Terabítia.
O DESPERTAR DE UMA PAIXÃO (THE PAINTED VEIL) – EUA, 2006 ****
De John Curran. Com Edward Norton, Naomi Watts, Toby Jones, Live Schreiber e Sally Hawkins.
Cinema pode até ser diversão, mas é muito bom ver um filme adulto, maduro e que respeita a inteligência do espectador. Esta adaptação da obra de W. Somerset Maugham é um bom exemplo. O Despertar de uma Paixão desenvolve com cuidado os personagens e as relações entre eles, além de equilibrar com categoria o aspecto histórico. Norton e Watts demonstram a competência de sempre neste filme lento, mas nunca chato, e extremamente interessante.
ESCRITORES DA LIBERDADE (FREEDOM WRITERS) - EUA, 2007 ****
De Richard LaGravenese. Com Hilary Swank, Patrick Dempsey, Scott Glenn, Imelda Staunton, April Hernandez e Kristin Herrera.
Uma espécie de continuação de Mentes Perigosas (e dezenas de outros filmes sobre professores fazendo a diferença), Escritores da Liberdade não escapa da estrutura previsível. Desde o início, é possível saber tudo o que vai acontecer. Ainda assim, o filme consegue apresentar bons personagens, tornando a história mais realista. Hilary Swank está ótima e o diretor La Gravenese não exagera no melodrama, construindo uma obra nada original, mas emocionante e inspiradora.
ENTRE O CÉU E O INFERNO (BLACK SNAKE MOAN) - EUA, 2006 ***1/2
De Craig Brewer. Com Samuel L. Jackson, Christina Ricci, Justin Timberlake e John Cotran Jr.
Podem até não gostar de Entre o Céu e o Inferno, mas ninguém pode dizer que não é um filme original. Craig Brewer (que estreou com o ótimo No Ritmo de um Sonho) cria um cenário interessantíssimo ao juntar uma ninfomaníaca e um religioso fanático por blues. O melhor é que, durante a maior parte da obra, o cineasta explora com qualidade a inusitada premissa, o que rende algumas cenas memoráveis, prontas para virarem cult. O terceiro ato do filme acaba enfraquecendo a história, mas nada que prejudique o resultado final, que ainda ganha com as ótimas interpretações de Jackson e Ricci.
FELICIDADE (HAPPINESS) – EUA, 1998 ****
De Todd Solondz. Com Phillip Seymour Hoffman, Lara Flynn Boyle, Jane Adams, Dylan Baker, Jon Lovitz, Ben Gazzarra e Molly Shannon.
Não se enganem com o título. O nome da obra de Todd Solondz é uma profunda ironia, uma vez que seu filme trata de personagens tristes, tentando encontrar um significado para suas existências. O denso roteiro possui paralelos com o de Beleza Americana, ao desnudar a hipocrisia da sociedade americana, revelando a realidade por trás das aparências. São diversas histórias interligadas tratando de temas pesados, como pedofilia, suicídio e assassinato. Solondz mantém com habilidade o clima soturno, contando, para isso, com o apoio do ótimo elenco. O filme sofre por algumas histórias serem mais interessantes que outras, porém, ainda assim, permanece como uma obra perturbadora e essencial em sua visão crítica do mundo.
O BALCONISTA 2 (CLERKS 2) – EUA, 2007 ***1/2
De Kevin Smith. Com Brian O’Halloran, Jeff Anderson, Rosário Dawson, Kevin Smith, Jason Mewes, Jennifer Schwalbach, Ethan Suplee, Ben Affleck e Jason Lee.
O Balconista foi o filme que lançou Kevin Smith. Nada surpreendente, então, que o cineasta dê mais uma chance aos personagens que o consagraram. A obra não tem uma trama propriamente dita; são apenas os personagens discutindo sobre a vida e a cultura pop em uma lanchonete. Como sempre, os diálogos são o que há de melhor, repletos de referências. Há alguns exageros por parte de Smith (como o burro), mas O Balconista 2 entretém o suficiente e, de quebra, traz os sempre impagáveis Jay e Silent Bob.
MR. VINGANÇA (BOKSUNEUN NAUI GEOT) – Coréia do Sul, 2002 ***1/2
De Chan-Wook Park. Com Kang-ho Song, Ha-kyun Shin e Du-na Bae.
Primeiro filme da trilogia da vingança de Park (composta também por Oldboy e Sra. Vingança), Mr. Vingança é uma obra acima da média, cuja originalidade do enredo é o maior atrativo. À semelhança de uma história de Almodóvar, Mr. Vingança surpreende o espectador a cada poucos minutos, com diversas reviravoltas na trama. Somado a isso, o apuro técnico de Park constrói cenas belíssimas, repletas de poesia e violência. O problema fica por conta da narrativa, que por vezes deixa coisas sem explicação, jogando-as na história sem pretensão de fazer o público entender. É inferior a Oldboy, mas merece uma olhada.
A ÚLTIMA CARTADA (SMOKIN’ ACES) – EUA/Inglaterra, 2006 ***
De Joe Carnahan. Com Ryan Reynolds, Ray Liotta, Jeremy Piven, Ben Affleck, Andy Garcia, Alex Rocco, Peter Berg, Alicia Keys, Taraji P. Henson, Chris Pine e Matthew Fox.
Tentativa de Joe Carnahan (Narc) de seguir os passos de Guy Ritchie e Quentin Tarantino, A Última Cartada possui momentos suficientemente bons para garantir duas horas de diversão. Nada chega ao ponto do excepcional, com irregularidade tanto nos diálogos (alguns bons, outros sem graça) e nas situações (algumas boas, outras sem graça). O elenco de qualidade é desperdiçado em uma galeria de personagens que poderiam ser melhor explorados, mas a mistura de comédia e crime funciona para o espectador sem grandes expectativas.
PLANETA TERROR (PLANET TERROR) – EUA, 2007 ****1/2
De Robert Rodriguez. Com Rose McGowan, Josh Brolin, Freddy Rodriguez, Michael Bien, Bruce Willis, Naveen Andrews e Fergie.
Planeta Terror é a primeira parte de Grindhouse, o projeto duplo entre Rodriguez e Tarantino. Assumindo completamente as características de um filme B, Rodriguez consegue superar o amigo ao criar um filme divertido como poucos dos últimos tempos, em uma mistura sensacional de comédia e terror. A criatividade transborda em cada momento da obra, resultando em seqüências espetaculares e cenas que já nascem clássicas, como a da metralhadora na perna de Rose McGowan. Sangue, tripas e risadas nesta deliciosa brincadeira de Robert Rodriguez.
ALPHA DOG – EUA, 2006 ***1/2
De Nick Cassavetes. Com Emile Hirsch, Justin Timberlake, Shawn Hatosy, Bruce Willis, Ben Foster, Harry Dean Stanton, Sharon Stone, Anton Yelchin e Dominique Swain.
Produção surpreendentemente bem construída sobre o mais jovem procurado pelo FBI. Apesar de baseada em história real, a trama muda nomes e alguns fatos, o que não diminui o interesse pela obra. A eficiência de Cassavetes na direção e o bom roteiro criam um cenário realista, com situações naturais e bons personagens, que têm reações críveis diante dos eventos. O elenco está muito bem (inclusive Timberlake) e Alpha Dog prende a atenção até o final, deixando o espectador em dúvida sobre o que irá acontecer. Um filme eficiente e interessante.
CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ (THE NAKED GUN) – EUA, 1988 *****
De David Zucker. Com Leslie Nielsen, Priscilla Presley, Ricardo Montalban, O.J. Simpson, George Kennedy e Ed Williams.
A comédia besteirol não fica melhor do que isso. Corra que a Polícia Vem Aì é a referência máxima do gênero, com piadas disparadas a torto e a direito a cada segundo de projeção. E o melhor é que todas são inspiradas, fazendo rir até quem já viu o filme diversas vezes. A trama é o de menos. O que importa são as idiotices e a quantidade de risadas proporcionadas por um Leslie Nielsen e sua turma. Espetacular.
PROTEGIDA POR UM ANJO (HALF LIGHT) – Alemanha/Inglaterra, 2006 **
De Craig Rosenberg. Com Demi Moore, Henry Ian Cusick, Beans Balawi, James Cosmo e Kate Isitt.
Esta produção pequena estrelada por Demi Moore até tem um início decente, mas perde-se em meio à previsibilidade e à falta de lógica. O diretor Rosenberg é bem-sucedido ao criar a atmosfera de suspense e na exploração do cenário, mas o roteiro pouco a pouco entra em colapso sozinho, deixando inúmeros furos e exigindo demais da boa vontade do espectador. Além disso, a construção da personagem de Moore e as cenas supostamente tensas geram apenas alguns bocejos.
O SEGREDO DAS JÓIAS (THE ASPHALT JUNGLE) – EUA, 1950 ***1/2
De John Huston. Com Sterling Hayden, Sam Jaffe, Louis Calhern, James Whitmore e Marilyn Monroe.
Ainda que o roteiro de O Segredo das Jóias não seja tão elaborado quanto outros de sua época, John Huston consegue fazer um filme sério e que prende a atenção. Os personagens são bem delineados, apesar de não haver profundidade, e o desenvolvimento da história nada mais é do que satisfatório. Ainda assim, há boas idéias, como a última cena, e a direção segura de Huston, que mantém o filme interessante até o final.
TOTALMENTE APAIXONADOS (TRUST THE MAN) – EUA, 2005 **1/2
De Bart Freundlich. Com David Duchovny, Julianne Moore, Billy Crudup, Maggie Gyllenhaal, Eva Mendes e Garry Shandling.
Escrito e dirigido por Bart Freundlich, Totalmente Apaixonados jamais atinge todas as suas pretensões. Apoiado em clichês e personagens estereotipados, o filme desperdiça o bom elenco, apresentando situações forçadas nos momentos sérios e piadas sem graça nas cenas cômicas. Há, ocasionalmente, observações pertinentes sobre a natureza dos relacionamentos, mas, ao final, Totalmente Apaixonados vale unicamente pelo talento de Julianne Moore.
PREMONIÇÕES (PREMONITION) – EUA, 2007 ***1/2
De Menan Yapo. Com Sandra Bullock, Julian McMahon, Nia Long, Peter Stormare, Amber Valletta e Jude Ciccolella.
Premonições é a grande surpresa da lista. Intrigante e bem dirigido, o filme de Menan Yapo é extremamente eficaz na elaboração do clima de mistério, montando pouco a pouco o quebra-cabeça do roteiro. Seu grande mérito é dar espaço para o espectador pensar, prendendo-o à história. Além disso, a tensão é mantida até o surpreendente clímax. Por outro lado, o roteiro tem sua parcela de furos e erra em algumas opções (como tentar explicar a razão dos acontecidos). Mas, no geral, Premonições é um filme que merece uma oportunidade.
METRÓPOLIS (METROPOLIS) – Alemanha, 1927 ***1/2
De Fritz Lang. Com Alfred Abel, Gustav Fröhlich, Rudolf Klein-Rogge e Fritz Rasp.
Clássico absoluto do Cinema, esta obra (uma das referências máximas do Expressionismo Alemão) não envelheceu tão bem quanto outras de sua época. A mensagem permanece atual como antes, uma crítica poderosa às classes sociais e à exploração, assim como os aspectos técnicos ainda impressionam, com diversas idéias que se tornaram referência a muitos cineastas. Pena que o ritmo é um pouco arrastado e a duração acima do necessário. Mesmo assim, Metrópolis é um filme de visão e revolucionário, digno de fazer parte da história da Sétima Arte.
ANTES SÓ DO QUE MAL CASADO (THE HEARTBREAK KID) ***
De Peter e Bobby Farrelly. Com Ben Stiller, Michelle Monaghan, Malin Akerman, Jerry Stiller e Carlos Mencia.
Ainda que Peter e Bobby Farrelly não consigam mais alcançar o mesmo nível do início de carreira (Débi e Lóide e Eu, Eu Mesmo e Irene), eles ainda sabem fazer rir. Os irmãos criam diversas cenas engraçadas em Antes Só do que Mal Casado, aproveitando-se, principalmente, da persona já estabelecida por Ben Stiller para seus papéis. Os problemas ficam por conta da história romântica, que não convence e toma tempo demais de projeção. Está longe dos politicamente incorretos e melhores trabalhos dos Farrelly, mas é um filme divertido e inofensivo.