A Assombração
A primeira e única vez que Renan viu um fantasma foi numa quarta-feira à noite. Nada de chuva com trovoadas, nada de portas rangendo e sons estranhos. Em outras palavras, nada daquelas coisas que vemos em filmes. Ele simplesmente estava no sofá, assistindo televisão, quando ouviu uma voz:
- Tudo bem?
Claro que a reação de Renan foi a mesma de qualquer um. Espantou-se ao ver que tinha um homem de aproximadamente trinta anos ao seu lado. Não era transparente ou com luzes em volta. A única diferença para um ser humano normal era sua palidez.
- Quem é você? O que está fazendo na minha casa? – perguntou Renan, acreditando que era um assalto.
O espírito, que até então não havia se identificado como espírito, finalmente revelou-se como espírito.
- Sou um espírito.
Renan continuou calado.
- Não se assuste, porque só quero pedir uma coisa a você – disse o espírito.
Renan surpreendeu-se.
- A mim? O que eu tenho a ver com qualquer coisa?
- Já vou te contar, se você parar de agir como uma mocinha apavorada – respondeu o fantasma.
O fantasma percebeu que Renan estava assustado com tudo aquilo. O que é compreensível, já que não é todo dia que se recebe uma aparição do além em casa enquanto se assiste Big Brother na Globo.
- Você não veio me assombrar?
- Claro que não.
- Não vai puxar meu pé?
- Não.
- Nem ficar abrindo portas e ligando aparelhos eletrônicos? Arrastando correntes?
- Não. Por que eu faria essas coisas?
- Porque é isso que fantasmas fazem, ora – explicou Renan, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- É, eu sei – lamentou o fantasma, decepcionado. – Na verdade, é algo que nunca entendi.
Renan começava a se sentir mais tranqüilo com a presença sobrenatural, mas achou meio estranho o papo do fantasma. Perguntou:
- Como assim?
- Não quero fazer você perder seu tempo com minhas teorias.
- Teorias? Um fantasma tem teorias?
- Mas é claro – retrucou o fantasma, começando a caminhar pela sala. Ou flutuar, ou qualquer outra forma de locomoção das criaturas da natureza dele. – Por que eu não teria? Também penso.
- E qual é ela? A teoria?
- Não é teoria, só que eu não entendo toda essa história de assustar, de puxar o pé, de arrastar correntes, de mexer em objetos. Qual o objetivo de tudo isso?
Renan ficou calado, esperando ele continuar.
- Tá bom, vou explicar. Vejamos: fantasmas como eu ficam na terra quando deixaram algo inacabado no mundo terreno, não?
Renan assentiu com a cabeça.
- É o que dizem.
- Então. Pra que apavorar as pessoas que devem ajudá-las a terminar essas tarefas? Não entendo. Por que enrolar? Chega, diz logo pra essas pessoas no que precisa ajuda, agradece e vai embora! Por que ficar assustando? Só o que isso vai fazer é dificultar ainda mais o processo.
Impressionado com a lucidez do fantasma, Renan refletiu aquelas palavras. Fazia sentido e ele estava disposto a ajudar a entidade de outra dimensão.
- Sim, você está certo. E em que eu posso ajudá-lo?
- Ok, é o seguinte. Pra eu poder sair do mundo material eu tenho que terminar uma coisa.
- Sim, e o que é?
- É uma promessa que eu tinha feito e não consegui cumprir.
- Tudo bem. E o que era?
- Prometi que daria uma última noite de prazer à pessoa que amo.
Um sorriso brotou no rosto de Renan. Isso ele faria com prazer. Na verdade, foi o que ele disse:
- Isso eu posso fazer com prazer.
- Ah, que bom – exclamou o fantasma. – Significaria muito pra mim e pra ele.
Por alguns instantes, a frase passou despercebida pelos ouvidos de Renan. Mas então ele se deu conta.
- Ele?
- Sim, ele. Meu namorado. Ex, na verdade, porque agora já morri.
- Você é gay?
- Agora não sei mais. Mas quando vivo eu era.
- E você quer que eu dê uma noite de prazer ao seu namorado?
- Sim, bom que você concordou.
- Concordei nada – Renan vociferou, levantando-se. – Achei que era uma mulher, não um homem. Eu não sou gay, seu... seu Gasparzinho afeminado.
- Como assim? Quer dizer que não vai me ajudar?
- Óbvio que não! Eu não sou gay.
- E vai continuar não sendo – explicou o fantasma. – É só uma noite. Leve o meu amado a um estado de êxtase que eu não mais circularei por sua casa.
- Negativo, prefiro ser assombrado por toda a minha vida.
Os dois se olharam por breves momentos. O fantasma começou a se locomover, perguntando:
- Tem certeza?
- Claro. Sei que você não vai me machucar. Prefiro alguns sustinhos do que passar uma noite com um homem.
- Ok, você pediu pelo que vai receber.
- Sim, pedi.
- Nos vemos hoje de madrugada.
- Boa noite.
- Desejo o oposto pra você.
- Tudo bem?
Claro que a reação de Renan foi a mesma de qualquer um. Espantou-se ao ver que tinha um homem de aproximadamente trinta anos ao seu lado. Não era transparente ou com luzes em volta. A única diferença para um ser humano normal era sua palidez.
- Quem é você? O que está fazendo na minha casa? – perguntou Renan, acreditando que era um assalto.
O espírito, que até então não havia se identificado como espírito, finalmente revelou-se como espírito.
- Sou um espírito.
Renan continuou calado.
- Não se assuste, porque só quero pedir uma coisa a você – disse o espírito.
Renan surpreendeu-se.
- A mim? O que eu tenho a ver com qualquer coisa?
- Já vou te contar, se você parar de agir como uma mocinha apavorada – respondeu o fantasma.
O fantasma percebeu que Renan estava assustado com tudo aquilo. O que é compreensível, já que não é todo dia que se recebe uma aparição do além em casa enquanto se assiste Big Brother na Globo.
- Você não veio me assombrar?
- Claro que não.
- Não vai puxar meu pé?
- Não.
- Nem ficar abrindo portas e ligando aparelhos eletrônicos? Arrastando correntes?
- Não. Por que eu faria essas coisas?
- Porque é isso que fantasmas fazem, ora – explicou Renan, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- É, eu sei – lamentou o fantasma, decepcionado. – Na verdade, é algo que nunca entendi.
Renan começava a se sentir mais tranqüilo com a presença sobrenatural, mas achou meio estranho o papo do fantasma. Perguntou:
- Como assim?
- Não quero fazer você perder seu tempo com minhas teorias.
- Teorias? Um fantasma tem teorias?
- Mas é claro – retrucou o fantasma, começando a caminhar pela sala. Ou flutuar, ou qualquer outra forma de locomoção das criaturas da natureza dele. – Por que eu não teria? Também penso.
- E qual é ela? A teoria?
- Não é teoria, só que eu não entendo toda essa história de assustar, de puxar o pé, de arrastar correntes, de mexer em objetos. Qual o objetivo de tudo isso?
Renan ficou calado, esperando ele continuar.
- Tá bom, vou explicar. Vejamos: fantasmas como eu ficam na terra quando deixaram algo inacabado no mundo terreno, não?
Renan assentiu com a cabeça.
- É o que dizem.
- Então. Pra que apavorar as pessoas que devem ajudá-las a terminar essas tarefas? Não entendo. Por que enrolar? Chega, diz logo pra essas pessoas no que precisa ajuda, agradece e vai embora! Por que ficar assustando? Só o que isso vai fazer é dificultar ainda mais o processo.
Impressionado com a lucidez do fantasma, Renan refletiu aquelas palavras. Fazia sentido e ele estava disposto a ajudar a entidade de outra dimensão.
- Sim, você está certo. E em que eu posso ajudá-lo?
- Ok, é o seguinte. Pra eu poder sair do mundo material eu tenho que terminar uma coisa.
- Sim, e o que é?
- É uma promessa que eu tinha feito e não consegui cumprir.
- Tudo bem. E o que era?
- Prometi que daria uma última noite de prazer à pessoa que amo.
Um sorriso brotou no rosto de Renan. Isso ele faria com prazer. Na verdade, foi o que ele disse:
- Isso eu posso fazer com prazer.
- Ah, que bom – exclamou o fantasma. – Significaria muito pra mim e pra ele.
Por alguns instantes, a frase passou despercebida pelos ouvidos de Renan. Mas então ele se deu conta.
- Ele?
- Sim, ele. Meu namorado. Ex, na verdade, porque agora já morri.
- Você é gay?
- Agora não sei mais. Mas quando vivo eu era.
- E você quer que eu dê uma noite de prazer ao seu namorado?
- Sim, bom que você concordou.
- Concordei nada – Renan vociferou, levantando-se. – Achei que era uma mulher, não um homem. Eu não sou gay, seu... seu Gasparzinho afeminado.
- Como assim? Quer dizer que não vai me ajudar?
- Óbvio que não! Eu não sou gay.
- E vai continuar não sendo – explicou o fantasma. – É só uma noite. Leve o meu amado a um estado de êxtase que eu não mais circularei por sua casa.
- Negativo, prefiro ser assombrado por toda a minha vida.
Os dois se olharam por breves momentos. O fantasma começou a se locomover, perguntando:
- Tem certeza?
- Claro. Sei que você não vai me machucar. Prefiro alguns sustinhos do que passar uma noite com um homem.
- Ok, você pediu pelo que vai receber.
- Sim, pedi.
- Nos vemos hoje de madrugada.
- Boa noite.
- Desejo o oposto pra você.