Viagem Literária
Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.
About Me
- Name: Silvio Pilau
- Location: Porto Alegre, RS, Brazil
Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.
Saturday, November 18, 2006
Friday, November 17, 2006
Amnésia de Vida Fácil
- Tem certeza que é ela?
- Claro, Toninho. Comi a mina ontem de noite. Como iria esquecer?
- Bah, é gostosa demais. Se deu bem, hein, Leandro?
- É, me dei bem entre aspas, né? Gastei uma grana, mas valeu a pena.
- E como você nunca tinha visto ela aqui na faculdade?
- Ah, sei lá. Provavelmente já tinha visto. Mas agora eu percebi mesmo. Comi ela ontem, Toninho.
- Sim, você já disse isso.
- É que ela é gostosa demais.
- Sim, eu já disse isso. Então vai lá falar com ela.
- Tá brincando,, Toninho? Quer que eu diga o quê? “Oi, sou o Leandro. Você não é a puta gostosa que eu comi ontem naquele puteiro?”
- Não assim. Você podia chantagear ela, Leandro. Diz que se ela não der sempre que você quiser, todo mundo vai ficar sabendo que a verdadeira profissão dela não tem nada a ver com o curso de Administração.
- Será? Será que daria certo?
- Só testando pra saber. Não custa tentar. Se não der em nada, pelo menos você já comeu ela.
-----------
- Oi, lembra de mim?
- Acho que não.
- Ontem à noite?
- Ontem à noite?
- É, você sabe. Cama, dinheiro, o velho entra e sai sem jantar romântico...
- Não sei do que você está falando.
- Como não sabe? Eu paguei pra te comer ontem.
- Que é isso!? Você está maluco!? Sai daqui, ô depravado!
- Não era você? Claro que era, eu reconheço as gurias que eu como.
- Mas eu nem sei quem você é. Nunca nos vimos antes.
- Você não é puta?
------------
- Como está o olho, Leandro?
- Melhor agora.
- Não era ela, então?
- Diz ela que não.
- E o que você falou pra ela dar essa porrada?
- Chamei de puta. Mas não foi ela quem me deu esse olho roxo.
- Foi quem?
- O namorado dela.
- Ela tem namorado?
- Tem.
- E ele sabe que ela dá pra todo mundo?
- Se não sabia, tá sabendo.
------------
- Olha bem, Toninho.
- É ela, sim.
- Meu olho está inchado. Não consigo enxergar direito. Tem certeza?
- Sim, a mesma guria que vimos na faculdade hoje. A mesma cujo namorado colocou esse olho roxo na sua cara.
- Falo com ela?
- Você que sabe, Leandro. Tem dinheiro aí?
- Tenho.
- Então vai comer ela de novo. É muito gostosa.
- Você já disse isso.
-------------
- Tem troco?
- Na verdade, não.
- Tudo bem. Eu deixo você ficar com o troco se me responder uma pergunta.
- Qual?
- Era você mesma na faculdade hoje, não era?
- Do que você está falando?
- Não venha com esse papo pra cima de mim. Seu namorado me deu um soco no olho porque eu te chamei de puta.
- Meu namorado? Não tenho namorado.
- Você não estuda administração? Não tem um namorado que me deu um soco por eu tê-la chamado de puta?
- E por que você fez isso?
- Porque você é!
- Você é baixinho e gordo, mas não vou sair dizendo isso na rua.
- Era você, então?
- Não lhe interessa.
- Não mistura vida profissional com pessoal?
- Isso. Amigos, amigos, negócios à parte.
- Tá mais pra amigos, amigos, fodas à parte.
- Vai pagar por essa conversa?
- Não.
- Vai pagar por alguma outra coisa?
- Não.
- Então até a próxima.
- Não vai responder a minha pergunta?
- Não.
- Então devolva meu troco.
------------
- Peguei você estava me olhando. Reconheceu também, né?
- Eu?
- Sim, de ontem.
- Ah, sim. A porrada que você levou ontem aqui mesmo do meu namorado.
- Não, ontem à noite. Você me reconheceu também.
- Saia daqui antes que eu chame alguém, seu maníaco.
- Vai continuar com esse joguinho?
- Você tem cinco segundos.
- Tudo bem, estou indo. Só tenho que dizer uma coisa.
- O quê?
- Você é boa de cama.
- Saia!
- Fui.
- Ei!
- Que foi?
- Pegue o troco de ontem.
- Claro, Toninho. Comi a mina ontem de noite. Como iria esquecer?
- Bah, é gostosa demais. Se deu bem, hein, Leandro?
- É, me dei bem entre aspas, né? Gastei uma grana, mas valeu a pena.
- E como você nunca tinha visto ela aqui na faculdade?
- Ah, sei lá. Provavelmente já tinha visto. Mas agora eu percebi mesmo. Comi ela ontem, Toninho.
- Sim, você já disse isso.
- É que ela é gostosa demais.
- Sim, eu já disse isso. Então vai lá falar com ela.
- Tá brincando,, Toninho? Quer que eu diga o quê? “Oi, sou o Leandro. Você não é a puta gostosa que eu comi ontem naquele puteiro?”
- Não assim. Você podia chantagear ela, Leandro. Diz que se ela não der sempre que você quiser, todo mundo vai ficar sabendo que a verdadeira profissão dela não tem nada a ver com o curso de Administração.
- Será? Será que daria certo?
- Só testando pra saber. Não custa tentar. Se não der em nada, pelo menos você já comeu ela.
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- Oi, lembra de mim?
- Acho que não.
- Ontem à noite?
- Ontem à noite?
- É, você sabe. Cama, dinheiro, o velho entra e sai sem jantar romântico...
- Não sei do que você está falando.
- Como não sabe? Eu paguei pra te comer ontem.
- Que é isso!? Você está maluco!? Sai daqui, ô depravado!
- Não era você? Claro que era, eu reconheço as gurias que eu como.
- Mas eu nem sei quem você é. Nunca nos vimos antes.
- Você não é puta?
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- Como está o olho, Leandro?
- Melhor agora.
- Não era ela, então?
- Diz ela que não.
- E o que você falou pra ela dar essa porrada?
- Chamei de puta. Mas não foi ela quem me deu esse olho roxo.
- Foi quem?
- O namorado dela.
- Ela tem namorado?
- Tem.
- E ele sabe que ela dá pra todo mundo?
- Se não sabia, tá sabendo.
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- Olha bem, Toninho.
- É ela, sim.
- Meu olho está inchado. Não consigo enxergar direito. Tem certeza?
- Sim, a mesma guria que vimos na faculdade hoje. A mesma cujo namorado colocou esse olho roxo na sua cara.
- Falo com ela?
- Você que sabe, Leandro. Tem dinheiro aí?
- Tenho.
- Então vai comer ela de novo. É muito gostosa.
- Você já disse isso.
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- Tem troco?
- Na verdade, não.
- Tudo bem. Eu deixo você ficar com o troco se me responder uma pergunta.
- Qual?
- Era você mesma na faculdade hoje, não era?
- Do que você está falando?
- Não venha com esse papo pra cima de mim. Seu namorado me deu um soco no olho porque eu te chamei de puta.
- Meu namorado? Não tenho namorado.
- Você não estuda administração? Não tem um namorado que me deu um soco por eu tê-la chamado de puta?
- E por que você fez isso?
- Porque você é!
- Você é baixinho e gordo, mas não vou sair dizendo isso na rua.
- Era você, então?
- Não lhe interessa.
- Não mistura vida profissional com pessoal?
- Isso. Amigos, amigos, negócios à parte.
- Tá mais pra amigos, amigos, fodas à parte.
- Vai pagar por essa conversa?
- Não.
- Vai pagar por alguma outra coisa?
- Não.
- Então até a próxima.
- Não vai responder a minha pergunta?
- Não.
- Então devolva meu troco.
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- Peguei você estava me olhando. Reconheceu também, né?
- Eu?
- Sim, de ontem.
- Ah, sim. A porrada que você levou ontem aqui mesmo do meu namorado.
- Não, ontem à noite. Você me reconheceu também.
- Saia daqui antes que eu chame alguém, seu maníaco.
- Vai continuar com esse joguinho?
- Você tem cinco segundos.
- Tudo bem, estou indo. Só tenho que dizer uma coisa.
- O quê?
- Você é boa de cama.
- Saia!
- Fui.
- Ei!
- Que foi?
- Pegue o troco de ontem.
Thursday, November 16, 2006
Sunday, November 12, 2006
FLYBOYS e O GRANDE TRUQUE
O Cine Players, aquele site de cinema que eu colaboro, foi reformulado. Tá com cara nova, melhor e tudo mais. Dêem uma olhada lá, é www.cineplayers.com.
E já tem duas críticas novas minhas, sobre Flyboys e O Grande Truque.
E já tem duas críticas novas minhas, sobre Flyboys e O Grande Truque.
Tuesday, November 07, 2006
A Bíblia
O mês de outubro deste ano é, desde já, um marco para qualquer brasileiro adepto do rock n’ roll. A Rolling Stone, revista mais influente do gênero há quase 40 anos, acaba de ter sua primeira edição lançada no Brasil. Acredito que, a essa altura, todo mundo já tenha ouvido falar na Rolling Stone. Se não ouviu, certamente já viu alguma de suas capas que entraram para a história, como John Lennon nu com Yoko ou Bart Simpson recriando o álbum Nevermind do Nirvana.
Muito mais do que as capas, foi o conteúdo que fez da Rolling Stone praticamente uma bíblia mensal dos roqueiros de todo o mundo. As reportagens, entrevistas e outras matérias da publicação são documentos históricos da evolução do gênero musical ao longo destas quatro décadas. Na verdade, não sei se evolução seria a palavra certa, uma vez que o rock parece perder um pouco de sua verdadeira essência a cada ano.
Os fãs mais ardorosos e antigos da revista reclamam que a Rolling Stone não é a mesma que foi nos anos 60 e 70, tendo-se rendido ao aspecto comercial. Pode até ser verdade, mas uma análise mais cuidadosa certamente vai revelar que a culpa não é dos editores e responsáveis pela Rolling Stone. A revista não perdeu sua postura de irreverência e crítica. Quem mudou foi o rock.
Quando a Rolling Stone surgiu, em 1967, o rock passava pelo seu momento mais importante. Não mais uma novidade, o gênero havia se transformado em um estilo de vida a ser seguido pelos jovens da época. A década mais atribulada do século passado tinha, como tema principal, a palavra contestação. Guerra do Vietnã, luta pelos direitos, racismo, tudo colaborava para um clima de insatisfação geral, resultando em uma geração que realmente acreditava ser capaz de mudar o mundo.
E o rock veio diretamente ao encontro disso. Por meio dele, um sem-número de pessoas encontrou uma forma de se expressar, de criticar e de mudar. Naqueles dias, o rock não era apenas um gênero musical, mas o caminho para uma revolução. Uma solução pacífica, mas poderosa, para reformular mentes e valores que se julgavam maculados. O que os jovens daquela época faziam era rebeldia, sim, mas não uma rebeldia sem causa. Eles tinham motivos para estarem revoltados e tomar posição diante de certos aspectos.
Foi assim que surgiram os maiores nomes do gênero, aqueles que criaram e disseminaram o verdadeiro rock. Morrison, Hendrix, Janis, Stones, The Who e diversos outros que tomaram uma atitude e colocaram nas músicas, no modo de falar, nas roupas que vestiam, nos cabelos desgrenhados, nas drogas que tomavam, toda a sua insatisfação. O rock, criado com o sacolejo de Elvis e o ritmo de Chuck Berry, deixava de ser apenas música inovadora e se transformava em atitude.
É uma pena que esse tempo passou. Na verdade, ouso afirmar que a década de 60 foi o único período na história no qual o rock n’ roll conseguiu ser aquilo tudo que pode ser. Claro que grandes bandas e músicos surgiram depois e momentos esporádicos quase fizeram renascer a postura contestadora de artistas do tempo de Woodstock. Mas a grande maioria não passou de arremedos.
O que se vê atualmente é uma geração criada dentro de apartamentos luxuosos usando tênis All Star apenas para parecerem rebeldes. São bandas que usam palavrões e xingamentos vazios, tentando imitar ídolos que realmente tinha algo a dizer. O rock perdeu seu aspecto atemporal. Quantas músicas atuais pode-se dizer que sobreviverão ao jugo do tempo? Como diz Ray Davies, do The Kinks: “O rock n’ roll tornou-se respeitável. Que merda!”
Por isso, não foi a Rolling Stone quem se vendeu e perdeu a sua essência. Quem não é mais o mesmo é o rock n’ roll. Os atuais músicos e representantes do gênero precisam entender algo que até os críticos sabem: o rock pode não ser o estilo de música mais elaborado ou difícil, mas, em termos de importância, alcance e poder para sacudir e modificar os alicerces da sociedade, é o mais representativo.
Muito mais do que as capas, foi o conteúdo que fez da Rolling Stone praticamente uma bíblia mensal dos roqueiros de todo o mundo. As reportagens, entrevistas e outras matérias da publicação são documentos históricos da evolução do gênero musical ao longo destas quatro décadas. Na verdade, não sei se evolução seria a palavra certa, uma vez que o rock parece perder um pouco de sua verdadeira essência a cada ano.
Os fãs mais ardorosos e antigos da revista reclamam que a Rolling Stone não é a mesma que foi nos anos 60 e 70, tendo-se rendido ao aspecto comercial. Pode até ser verdade, mas uma análise mais cuidadosa certamente vai revelar que a culpa não é dos editores e responsáveis pela Rolling Stone. A revista não perdeu sua postura de irreverência e crítica. Quem mudou foi o rock.
Quando a Rolling Stone surgiu, em 1967, o rock passava pelo seu momento mais importante. Não mais uma novidade, o gênero havia se transformado em um estilo de vida a ser seguido pelos jovens da época. A década mais atribulada do século passado tinha, como tema principal, a palavra contestação. Guerra do Vietnã, luta pelos direitos, racismo, tudo colaborava para um clima de insatisfação geral, resultando em uma geração que realmente acreditava ser capaz de mudar o mundo.
E o rock veio diretamente ao encontro disso. Por meio dele, um sem-número de pessoas encontrou uma forma de se expressar, de criticar e de mudar. Naqueles dias, o rock não era apenas um gênero musical, mas o caminho para uma revolução. Uma solução pacífica, mas poderosa, para reformular mentes e valores que se julgavam maculados. O que os jovens daquela época faziam era rebeldia, sim, mas não uma rebeldia sem causa. Eles tinham motivos para estarem revoltados e tomar posição diante de certos aspectos.
Foi assim que surgiram os maiores nomes do gênero, aqueles que criaram e disseminaram o verdadeiro rock. Morrison, Hendrix, Janis, Stones, The Who e diversos outros que tomaram uma atitude e colocaram nas músicas, no modo de falar, nas roupas que vestiam, nos cabelos desgrenhados, nas drogas que tomavam, toda a sua insatisfação. O rock, criado com o sacolejo de Elvis e o ritmo de Chuck Berry, deixava de ser apenas música inovadora e se transformava em atitude.
É uma pena que esse tempo passou. Na verdade, ouso afirmar que a década de 60 foi o único período na história no qual o rock n’ roll conseguiu ser aquilo tudo que pode ser. Claro que grandes bandas e músicos surgiram depois e momentos esporádicos quase fizeram renascer a postura contestadora de artistas do tempo de Woodstock. Mas a grande maioria não passou de arremedos.
O que se vê atualmente é uma geração criada dentro de apartamentos luxuosos usando tênis All Star apenas para parecerem rebeldes. São bandas que usam palavrões e xingamentos vazios, tentando imitar ídolos que realmente tinha algo a dizer. O rock perdeu seu aspecto atemporal. Quantas músicas atuais pode-se dizer que sobreviverão ao jugo do tempo? Como diz Ray Davies, do The Kinks: “O rock n’ roll tornou-se respeitável. Que merda!”
Por isso, não foi a Rolling Stone quem se vendeu e perdeu a sua essência. Quem não é mais o mesmo é o rock n’ roll. Os atuais músicos e representantes do gênero precisam entender algo que até os críticos sabem: o rock pode não ser o estilo de música mais elaborado ou difícil, mas, em termos de importância, alcance e poder para sacudir e modificar os alicerces da sociedade, é o mais representativo.
Em certa época, a Rolling Stone soube disso. Espero que continue sabendo.