Viagem Literária
Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.
About Me
- Name: Silvio Pilau
- Location: Porto Alegre, RS, Brazil
Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.
Sunday, May 28, 2006
Freud Explica
O cenário era este: casa do Lontra, quatro horas da manhã de um sábado. Estavam ele e o Duca sentados no sofá, assistindo a todos os canais da Net ao mesmo tempo, enquanto faziam comentários. Era algo como um Beavis e Butthead em carne e osso. Ah, necessário dizer também que o chão estava repleto de latas vazias de cerveja, resultado de um sábado à noite longe da balada.
Bom, se vocês vissem a quantidade de latas no chão, eu não precisaria nem dizer que eles estavam bêbados. Mas isto é um texto, não um filme, portanto, vocês não têm o recurso visual, sendo necessário que explique, então vai lá: Lontra e Duca estavam bêbados.
Então, Lontra e Duca, bêbados, sentados no sofá e assistindo TV. Aí o Duca disse:
- Cara, esse programa é uma viagem.
- Certo – concordou Lontra.
- Até parece um sonho que eu tive.
- Sonho?
- É, cara, tenho tido um sonho repetido.
O Lontra ficou interessado no assunto do sonho do Duca. Aproveitou a chance.
- Sério, cara? Conta ele pra mim, deixa eu ver se ele tem algum significado.
- Como assim?
- Psicanálise, Duca. Se o sonho tem se repetido, é porque ele quer dizer alguma coisa.
- E desde quando você entende isso? – Duca surpreendeu-se com o conhecimento de Lontra.
- Tá maluco, Duca? Sou um psicólogo!
- Que psicólogo, o quê? Tu acabou de entrar na faculdade.
- Sou um psicólogo júnior.
- Mas tu faz na faculdade de Direito, imbecil!
- Eu sei, cara. Mas é no mesmo prédio.
- E daí?
- E daí que no intervalo eu vejo o pessoal da Psicologia conversando.
- E daí?
- Porra, cara! Quer que eu te analise ou não? – indignou-se Lontra.
O Duca não estava muito inclinado a fazer essa sessão improvisada de psicanálise com um estudante de advocacia, mas acabou topando. Até porque já estavam há quase seis horas sem fazer outra coisa além de ficar atirado no sofá com uma cerveja na mão.
- Tá, Lontra. O que eu tenho que fazer?
- Deita aí no divã.
Duca deu uma olhada em volta. Depois outra. E mais uma, só para se certificar de que realmente não era efeito do álcool o fato de ele não enxergar divã algum.
- Que divã, Lontra?
- Aí, cara – falou Lontra, apontando para o canto da sala.
- Esse é o seu divã?
- Sim, o que mais?
- Mas isso é um puf!
- Usa tua imaginação, Duca. Tu é um publicitário, cara, tem que saber imaginar as coisas.
- Quer que eu me deite no teu puf?
- Divã.
- Divã. Tá bom.
Duca deitou no divã barra puf do Lontra. Antes de continuar, só pra vocês imaginarem melhor a cena, deixem-me dizer que a sala da casa do Lontra não tinha muitos móveis. Era o sofá velho no qual eles estavam sentados, uma televisão que ficava em cima de uma cadeira e o puf. Nada mais. E as latas de cerveja pelo chão, claro.
O Lontra foi até a TV, tirou ela de cima da cadeira e colocou o aparelho no chão. Levou a cadeira até o lado do Duca e sentou-se. Cruzou as pernas, uma sobre a outra. O Duca se espantou:
- Que é isso, Lontra? Tá maluco?
- O quê?
- Essa perninha cruzada aí.
- É pra dar um ar de intelectual.
- Pra que isso? Só tem eu e tu aqui!
- Eu trabalho melhor dessa forma.
- Que trabalha melhor? É a primeira vez que tu faz isso.
- Podemos começar? – interrompeu Lontra.
- Podemos, só que não me sinto confortável ficando sozinho num apartamento com um cara que fica nessa posição de viado.
- Podemos começar? – perguntou novamente, agora de maneira incisiva.
- Tá, cara. Começa.
O Lontra esticou os dois braços, estalou os dedos e tossiu. Puxou um bloquinho de anotações e tirou uma caneta do bolso. Enquanto fazia isso, era observado pelo Duca, que assistia a todo o ritual do amigo com uma mistura de desprezo e galhofa.
- Certo, Duca. Feche os olhos.
- Por quê?
- Para iniciarmos a sessão.
- Lontra, se fechar os olhos eu durmo. A gente bebeu demais.
- Sim, é verdade. Concordo com a sua colocação.
- Posso ficar com eles abertos, então?
- Sim, eu permito. Mas faça de conta que eles estão fechados. Diga ao seu cérebro que eles estão fechados para que você possa se concentrar melhor.
- Ok. Cérebro: olhos fechados, beleza?
- Diga, mas diga em silêncio. Concentre-se.
- Tá, ele já sabe, vamos em frente.
- Certo.
- Só deixa eu te fazer uma pergunta – disse Duca.
- Sim. Fale.
- Por que tu tá falando assim? Todo certinho e formal?
- Porque eu sou um profissional sério. Agora, silêncio. Conte-me o seu sonho.
- Que sonho, Lontra?
- O sonho que você disse que se repetia constantemente.
- Ah, aquele. Na verdade, não lembro.
- Como assim, não lembra?
- Não lembro, ora.
- Então por que começou a falar dele?
- Eu comentei que tinha um sonho repetido. Isso eu tenho. Só que não lembro como ele é.
- E por que marcou um horário comigo?
- Porra, que horário, Lontra? Pára de falar bobagem!
- Mas assim eu não posso te ajudar.
- Não pedi pra me ajudar. Quem inventou essa besteira freudiana foi tu.
- Você está meu ocupando meu tempo à toa. Poderia estar ajudando outras pessoas. Você está brincando que não lembra, Duca?
- Claro que não. Mas até tenho um pedido pra te fazer.
- O que é?
- Gostei desse puf. É confortável. Posso dormir muito bem aqui. Com certeza, vou acabar sonhando de novo. Aí eu te conto como foi.
- Está falando sério?
- Sim.
- Leve o puf, se quiser. Pegue essa coisa velha e leve pra sua casa!
- Sério, Lontra?
- Leva!
- Valeu, cara.
Lontra levantou-se. Parecia indignado com o fato de não conseguir colocar seus dotes de analista em prática. Duca perguntou:
- A sessão acabou, então?
- Sim, né? Fazer o quê?
- Foi bom. Tenho certeza que me ajudou um bocado. Só vai ter um problema.
- Que foi agora?
- Tu me deixou levar o divã. Onde vai ser a próxima sessão?
- Vai pro inferno, Duca.
Bom, se vocês vissem a quantidade de latas no chão, eu não precisaria nem dizer que eles estavam bêbados. Mas isto é um texto, não um filme, portanto, vocês não têm o recurso visual, sendo necessário que explique, então vai lá: Lontra e Duca estavam bêbados.
Então, Lontra e Duca, bêbados, sentados no sofá e assistindo TV. Aí o Duca disse:
- Cara, esse programa é uma viagem.
- Certo – concordou Lontra.
- Até parece um sonho que eu tive.
- Sonho?
- É, cara, tenho tido um sonho repetido.
O Lontra ficou interessado no assunto do sonho do Duca. Aproveitou a chance.
- Sério, cara? Conta ele pra mim, deixa eu ver se ele tem algum significado.
- Como assim?
- Psicanálise, Duca. Se o sonho tem se repetido, é porque ele quer dizer alguma coisa.
- E desde quando você entende isso? – Duca surpreendeu-se com o conhecimento de Lontra.
- Tá maluco, Duca? Sou um psicólogo!
- Que psicólogo, o quê? Tu acabou de entrar na faculdade.
- Sou um psicólogo júnior.
- Mas tu faz na faculdade de Direito, imbecil!
- Eu sei, cara. Mas é no mesmo prédio.
- E daí?
- E daí que no intervalo eu vejo o pessoal da Psicologia conversando.
- E daí?
- Porra, cara! Quer que eu te analise ou não? – indignou-se Lontra.
O Duca não estava muito inclinado a fazer essa sessão improvisada de psicanálise com um estudante de advocacia, mas acabou topando. Até porque já estavam há quase seis horas sem fazer outra coisa além de ficar atirado no sofá com uma cerveja na mão.
- Tá, Lontra. O que eu tenho que fazer?
- Deita aí no divã.
Duca deu uma olhada em volta. Depois outra. E mais uma, só para se certificar de que realmente não era efeito do álcool o fato de ele não enxergar divã algum.
- Que divã, Lontra?
- Aí, cara – falou Lontra, apontando para o canto da sala.
- Esse é o seu divã?
- Sim, o que mais?
- Mas isso é um puf!
- Usa tua imaginação, Duca. Tu é um publicitário, cara, tem que saber imaginar as coisas.
- Quer que eu me deite no teu puf?
- Divã.
- Divã. Tá bom.
Duca deitou no divã barra puf do Lontra. Antes de continuar, só pra vocês imaginarem melhor a cena, deixem-me dizer que a sala da casa do Lontra não tinha muitos móveis. Era o sofá velho no qual eles estavam sentados, uma televisão que ficava em cima de uma cadeira e o puf. Nada mais. E as latas de cerveja pelo chão, claro.
O Lontra foi até a TV, tirou ela de cima da cadeira e colocou o aparelho no chão. Levou a cadeira até o lado do Duca e sentou-se. Cruzou as pernas, uma sobre a outra. O Duca se espantou:
- Que é isso, Lontra? Tá maluco?
- O quê?
- Essa perninha cruzada aí.
- É pra dar um ar de intelectual.
- Pra que isso? Só tem eu e tu aqui!
- Eu trabalho melhor dessa forma.
- Que trabalha melhor? É a primeira vez que tu faz isso.
- Podemos começar? – interrompeu Lontra.
- Podemos, só que não me sinto confortável ficando sozinho num apartamento com um cara que fica nessa posição de viado.
- Podemos começar? – perguntou novamente, agora de maneira incisiva.
- Tá, cara. Começa.
O Lontra esticou os dois braços, estalou os dedos e tossiu. Puxou um bloquinho de anotações e tirou uma caneta do bolso. Enquanto fazia isso, era observado pelo Duca, que assistia a todo o ritual do amigo com uma mistura de desprezo e galhofa.
- Certo, Duca. Feche os olhos.
- Por quê?
- Para iniciarmos a sessão.
- Lontra, se fechar os olhos eu durmo. A gente bebeu demais.
- Sim, é verdade. Concordo com a sua colocação.
- Posso ficar com eles abertos, então?
- Sim, eu permito. Mas faça de conta que eles estão fechados. Diga ao seu cérebro que eles estão fechados para que você possa se concentrar melhor.
- Ok. Cérebro: olhos fechados, beleza?
- Diga, mas diga em silêncio. Concentre-se.
- Tá, ele já sabe, vamos em frente.
- Certo.
- Só deixa eu te fazer uma pergunta – disse Duca.
- Sim. Fale.
- Por que tu tá falando assim? Todo certinho e formal?
- Porque eu sou um profissional sério. Agora, silêncio. Conte-me o seu sonho.
- Que sonho, Lontra?
- O sonho que você disse que se repetia constantemente.
- Ah, aquele. Na verdade, não lembro.
- Como assim, não lembra?
- Não lembro, ora.
- Então por que começou a falar dele?
- Eu comentei que tinha um sonho repetido. Isso eu tenho. Só que não lembro como ele é.
- E por que marcou um horário comigo?
- Porra, que horário, Lontra? Pára de falar bobagem!
- Mas assim eu não posso te ajudar.
- Não pedi pra me ajudar. Quem inventou essa besteira freudiana foi tu.
- Você está meu ocupando meu tempo à toa. Poderia estar ajudando outras pessoas. Você está brincando que não lembra, Duca?
- Claro que não. Mas até tenho um pedido pra te fazer.
- O que é?
- Gostei desse puf. É confortável. Posso dormir muito bem aqui. Com certeza, vou acabar sonhando de novo. Aí eu te conto como foi.
- Está falando sério?
- Sim.
- Leve o puf, se quiser. Pegue essa coisa velha e leve pra sua casa!
- Sério, Lontra?
- Leva!
- Valeu, cara.
Lontra levantou-se. Parecia indignado com o fato de não conseguir colocar seus dotes de analista em prática. Duca perguntou:
- A sessão acabou, então?
- Sim, né? Fazer o quê?
- Foi bom. Tenho certeza que me ajudou um bocado. Só vai ter um problema.
- Que foi agora?
- Tu me deixou levar o divã. Onde vai ser a próxima sessão?
- Vai pro inferno, Duca.
Thursday, May 18, 2006
Monday, May 15, 2006
Claustrofobia
Foi como se nem tivesse aberto os olhos. Sabia que eles não mais continuavam cerrados, mas permanecia sem enxergar. Seu corpo doía. Cada músculo parecia enfiar-lhe a ponta de uma adaga dentro da pele. Perto do pulso, a dor era diferente, mais como uma ardência, e ele apenas sentia quando tentava se mexer. Parecia que algo áspero havia prendido seus punhos por um bom tempo. Percebeu também que os movimentos estavam limitados. Os dois braços estendidos ao longo do corpo não tinham muita utilidade, pois não conseguia dobrá-los sem bater na parte de cima da caixa em que parecia estar preso. Passou a mão pelo material e sentiu que era feito de madeira crua, pouco trabalhada. O ar era úmido e, a cada vez que respirava, parecia que algo mais entrava por suas narinas. Uma substância caía em seu rosto e, com a língua, tentou alcançar para saber o que era. Esticou o órgão do paladar para a bochecha esquerda e sentiu algo molhado, inconsistente. Terra. Parecia terra molhada. Tentou se movimentar mais uma vez, mas não conseguiu. O espaço era exíguo. Mover-se mais do que alguns centímetros, para qualquer direção, era impossível. Sentiu algo escorrendo por sua testa, sem saber se era suor ou a mesma terra molhada de antes. O corpo estremecia de frio. Preso, sujo e no escuro, começou a se desesperar. Gritou duas vezes, com pouca força, pois a voz saiu entrecortada em meio aos soluços do choro angustiante que o assolou. Passou um tempo apenas deixando as lágrimas escorrerem até começar a se sacudir dentro da caixa onde se encontrava. Fez isso por longos segundos, perguntando para ninguém o motivo de estar ali. A boca aberta recebeu novos punhados de terra, que desceram diretamente por sua garganta. Tossiu sentindo os grãos úmidos na traquéia, sem poder se virar ou levar a mão à boca. Deu-se conta, por baixo de todo a angústia, de que estava com sede. Mais uma vez, tremeu todo o corpo com o frio. Queria pensar, queria entender o que fazia ali, mas não conseguia. O desespero tomava conta e pensava apenas na família. Será que o procuravam? Chorou. E chorou.
Thursday, May 04, 2006
Monday, May 01, 2006
Filmes de Abril
KUNG FUSÃO (GONG FU) – China/Hong Kong, 2004 ***
De Stephen Chow. Com Stephen Chow, Xiaogang Fen, Wah Yuen e Zhi hua Dong.
Depois de realizar o cultuado Shaolin Soccer, Stephen Chow ataca com essa comédia sobre artes marciais. Apesar da ótima reputação que vem recebendo, o filme não passa de uma diversão bacana, mas cheia de falhas. Há momentos genuinamente engraçados, porém, a obra parece não se decidir entre seguir uma linha séria ou cômica. Além disso, o excesso de efeitos especiais acaba cansando. Funciona, mas é totalmente esquecível.
ONG-BAK – GUERREIRO SAGRADO (ONG-BAK) – Tailândia, 2003 ***
De Prachya Pinkaew. Com Tony Jaa, Petchtai Wongkamlao, Pumwaree Yodkamol e Suchao Pongwilai.
Surpreendente filme de ação oriental, com algumas das melhores cenas de luta dos últimos anos. Seguindo o rumo contrário à tendência hollywoodiana de fazer combates repletos de efeitos especiais, a ação em Ong-Bak é incrivelmente visceral e realista. O espectador chega a se perguntar como as cenas são feitas, tamanho o impacto. O protagonista Tony Jaa tem boa presença, mas a obra perde pela trama simplista demais.
LAVOURA ARCAICA – Brasil, 2001 *****
De Luiz Fernando Carvalho. Com Selton Mello, Raul Cortez, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros e Caio Blat.
Poesia, lirismo e beleza se encontram nessa complexa produção nacional. O diretor Carvalho realizou um trabalho de magnitude exemplar, contando em três horas uma história repleta de camadas e interpretações. Tecnicamente arrebatador, Lavoura Arcaica é uma obra hipnótica, que carrega o espectador por cenas irrepreensíveis e de uma beleza nunca – ou poucas vezes – antes vista no cinema brasileiro. Uma obra-prima.
A VIDA E MORTE DE PETER SELLERS (THE LIFE AND DEATH OF PETER SELLERS) – EUA/Inglaterra, 2004 **
De Stephen Hopkins. Com Geoffrey Rush, Emily Watson, Charlize Theron, John Lithgow e Stanley Tucci.
Apesar de Geoffrey Rush incorporar o personagem principal com maestria, A Vida e Morte de Peter Sellers afunda em um roteiro burocrático e uma direção sem inspiração alguma da parte de Hopkins. A trama limita-se a apresentar alguns fatos da vida do ator, sem jamais seguir uma estrutura coerente. Com isso, jamais se conhece quem realmente foi Sellers e o filme cansa a partir dos 30 minutos. Uma pena.
A CASA DE CERA (HOUSE OF WAX) – EUA, 2005 **
De Jaume Collet-Serra. Com Elisha Cuthbert, Chad Michael Murray, Brian Van Holt e Paris Hilton.
Filme de terror completamente sem cérebro, que abusa de todos os clichês do gênero, como a mocinha subir pelas escadas quando deveria sair pela porta e o vilão que parece não morrer nunca. Apesar da idiotice e da boa premissa desperdiçada, o filme vai agradar aos fãs, pois oferece algumas cenas bacanas, especialmente as de morte (duas, pelo menos, vão levar os mais sádicos à loucura), e ainda traz a linda e competente Elisha Cuthbert no elenco.
O GALINHO CHICKEN LITTLE (CHICKEN LITTLE) – EUA, 2005 ***
De Mark Dindal. Com as vozes de Zach Braff, Garry Marshall, Don Knots, Patrick Stewart, Steve Zahn e Joan Cusack.
Mesmo não chegando aos pés de outras animações como Procurando Nemo, Shrek e Monstros S. A., O Galinho Chicken Little ainda funciona. Ao contrário das outras recentes produções do gênero, esta é mais voltada ao público infantil. A história é meio bagunçada, mas há algumas boas piadas e personagens. Não ofende ninguém, mas também não traz nada que justifique alguém acima de 12 anos assisti-lo.
A LENDA DO ZORRO (THE LEGEND OF ZORRO) – EUA, 2005 **1/2
De Martin Campbell. Com Antonio Banderas, Catherine Zeta-Jones, Rufus Sewell e Adrian Alonso.
Ainda que traga o mesmo elenco e diretor, A Lenda do Zorro fica muito aquém da qualidade atingida na obra anterior. A história não convence em momento algum e, apesar de algumas boas cenas de ação, falta charme e irreverência ao personagem. Além disso, Banderas e Zeta-Jones parecem ter perdido toda a química que fez o original tão especial.
QUATRO IRMÃOS (FOUR BROTHERS) – EUA, 2005 ***
De John Singleton. Com Mark Wahlberg, Tyrese Gibson, Andre Benjamin, Garrtett Hedlund, Terrence Howard e Fionnula Flanagan.
Ainda que haja a tentativa de oferecer um núcleo emocional à história de Quatro Irmãos, o filme resulta em algo distante do espectador. A trama é enxuta e os personagens são interessantes, com bons intérpretes. No entanto, a centro sentimental, ponto de partida de tudo o que acontece no filme, acaba falhando. Quatro Irmãos é uma produção correta, eficiente, mas que jamais alcança um vôo mais alto.
O MATADOR (THE MATADOR) – EUA/Alemanha/Irlanda, 2005 ***1/2
De Richard Shepard. Com Pierce Brosnan, Greg Kinnear, Hope Davis e Phillip Baker Hall.
Interessantíssima produção independente, que parte de uma boa premissa para realizar um bom estudo de personagens. Brosnan está impecável na caracterização do assassino que faz amizade com um “homem comum” e carrega bem o filme. A história demora um pouco para encontrar seu ritmo, crescendo bastante de qualidade a partir da metade final. Merece uma chance.
O JARDINEIRO FIEL (THE CONSTANT GARDENER) – Inglaterra/Alemanha, 2005 ***
De Fernando Meirelles. Com Ralph Fiennes, Rachel Weisz, Hubert Kounde, Danny Huston e Bill Nighy.
Talvez o filme mais superestimado do ano passado, ao lado de Brokeback Mountain. O novo trabalho de Fernando Meirelles fica anos-luz aquém de Cidade de Deus. Ainda que tenha boas idéias e intenções nobres, a história é arrastada e embolada demais, prejudicando o ritmo. O roteirista parece ter encontrado dificuldades em colocar todos os fatos em duas horas. Além disso, a montagem em flashback pouco acrescenta, soando como mero capricho. Mas o filme funciona em termos gerais, graças ao apuro técnico de Meirelles e a ótima atuação de Weisz, apaixonante no papel de Tessa.
THE COMMITMENTS – LOUCOS PELA FAMA (THE COMMITMENTS) – Irlanda/Inglaterra/EUA, 1991 ****
De Alan Parker. Com Robert Arkins, Michael Aherne, Angeline Ball, Maria Doyle Kennedy, Dave Finnegan, Johnny Murphy, Andrew Strong e Colm Meaney.
Este cultuado filme continua divertido e empolgante. Parker conseguiu encontrar o tom certo da narrativa, criando um grupo de personagens adoráveis e realistas. Ainda que a história seja mais do que comum (ascensão e queda da banda), a obra é cativante, especialmente pela irrepreensível trilha sonora que traz clássicos como Mustang Sally. Despretensioso e divertido.
SOB O DOMÍNIO DO MAL (THE MANCHURIAN CANDIDATE) – EUA, 1962 ****1/2
De John Frankenheimer. Com Laurence Harvey, Frank Sinatra, Ângela Lansbury, Janet Leigh e Henry Silva.
Clássico absoluto do cinema americano – e com justiça. A obra de Frankenheimer continua surpreendendo pelo roteiro enxuta e a direção tensa, que explora ao máximo as possibilidades da história. Com grandes atuações do elenco, Frankenheimer criou um filme que conseguiu superar os possíveis problemas de ser sobre uma época determinada. Ainda que não seja atual, continua uma grande obra cinematográfica.
A NOITE DO DIA SEGUINTE (THE NIGHT OF THE FOLLOWING DAY) – EUA/Inglaterra, 1968 **
De Hubert Cornfield. Com Marlon Brando, Richard Boone, Rita Moreno e Pamela Franklin.
Filme irregular, cujo maior atrativo é mesmo a presença de Brando. A história do seqüestro não é ruim, mas peca pala falta de ambição ao não tentar nada de mais. No final, é uma trama que simplesmente não necessitava ser contada. Mas Brando está bem como sempre, com seu magnetismo comum e construindo um personagem interessante.
ESPÍRITOS – A MORTE ESTÁ AO SEU LADO (SHUTTER) – Tailândia, 2004 ***
De Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom. Com Ananda Everingham, Natthaweeranuch Thongmee, Achita Sikamana e Unnop Chanpaibool.
Espíritos tem qualidade superior à maioria dos filmes de terror saídos dos EUA, mas ainda assim não consegue grande destaque. A história possui algumas camadas que vão se revelando (inclusive o ótimo e surpreendente final) e a direção é eficiente, criando boas cenas do gênero. Mas há excessos também e certos momentos parecem mais cômicos do que assustadores.
HERÓIS IMAGINÁRIOS (IMAGINARY HEROES) – EUA, 2004 ****
De Dan Harris. Com Sigourney Weaver, Emile Hirsch, Jeff Daniels, Michelle Williams e Kip Pardue.
Sigourney Weaver é a grande atração deste filme pequeno e interessante. Apoiando-se exclusivamente no roteiro, Dan Harris cria um grupo de personagens interessantes na história de uma família desestruturada, mantendo sempre um olhar irônico e devastador sobre as relações familiares. O humor corrosivo chega a incomodar. O elenco está ótimo, com destaque para Weaver, que encontra o equilíbrio entre o drama e comédia.
ARMAÇÕES DO AMOR (FAILURE TO LAUNCH) – EUA, 2006 *1/2
De Tom Dey. Com Matthew McCounaghey, Sarah Jessica Parker, Kathy Bates e Zooey Deschanel.
Porcaria. Uma comédia romântica que não oferece nada de novo, com um roteiro formulaico e cheio de clichês. De quebra, o casal principal não convence, principalmente devido à chatíssima Parker, e o roteiro não oferece uma piada inspirada. Salvam-se apenas o carisma de McCounaghey e a sempre ótima presença de Bates.
O BOULEVARD DO CRIME (LES ENFANTS DU PARADIS) – França, 1945 ****1/2
De Marcel Carné. Com Jean Louis-Barralt, Arletty, Pierre Brasseur, Pierre Renoir e Maria Casares.
Grandioso e praticamente irrepreensível clássico do cinema francês. A história de amor entre Baptiste, Garrance e Frederik tem todos os ingredientes de uma obra imortal sobre o amor. As três horas de produção exploram todas as camadas possíveis do riquíssimo roteiro, que oferece diálogos belíssimos que apenas engrandecem o filme. A longa duração, contudo, acaba cansando em certos momentos, mas nada que prejudique a apreciação desta obra magnífica.
O SENHOR DAS ARMAS (LORD OF WAR) – EUA, 2005 ****
De Andrew Niccol. Com Nicolas Cage, Jared Leto, Bridget Moynahan, Ian Holm e Ethan Hawke.
Não fosse algumas derrapadas do diretor e roteirista Niccol, O Senhor das Armas poderia facilmente ter se tornado um filme seminal sobre os tempos atuais. Com um ótimo roteiro, repleto de diálogos contundentes, o cineasta apresenta ao espectador o mundo do funcionamento do tráfico de armas, sempre de forma enérgica e agradável de assistir. Há belíssimos momentos, como a cena dos créditos inicias, mas deslizes como a obviedade do tratamento oferecido à relação do personagem principal com a família. No final, um filme muito acima da média, mas ainda não tudo o que poderia ter sido.
NA RODA DA FORTUNA (THE HUDSUCKER PROXY) – EUA, 1994 ****
De Joel Coen. Com Tim Robbins, Paul Newman, Jennifer Jason Leigh, Bill Cobbs e Bruce Campbell.
Com a marca característica dos filmes do irmãos Coen, Na Roda da Fortuna é um espetáculo de estilo e requinte visual, com uma história repleta de bons personagens e intenções. A sátira dos cineastas ao inescrupuloso mundo dos negócios funciona em termos gerais, graças também às ótimas atuações de Robbin, Leigh e Newman. Não é o melhor filme dos Coen, mas oferece o olhar diferenciado que fizeram deles dois dos realizadores mais cultuados do cinema atual.
MADRUGADA DOS MORTOS (DAWN OF THE DEAD) – EUA, 2004 ****
De Zack Snyder. Com Sarah Polley, Ving Rhames, Jake Weber, Mekhi Phifer e Michael Kelly.
Mesmo sendo cria de um dos gêneros mais surrados do cinema americano, Madrugada dos Mortos é incrivelmente eficiente. O diretor Snyder evita as enrolações entrega exatamente aquilo que o espectador quer: violência e muito sangue. Além disso, o roteiro surpreende pela inteligência, ao dedicar tempo suficiente para o espectador conhecer os personagens, além de surpreender pelo destino dado a alguns deles. Nervoso, tenso e plenamente satisfatório dentro de seus propósitos.
INSTINTO SELVAGEM 2 (BASIC INSTINCT 2) – EUA/Alemanha/Espanha/Inglaterra ***
De Michael Caton-Jones. Com Sharon Stone, David Morrissey, Charlotte Rampling e David Thewlis.
O maior problema de Instinsto Selvagem 2 é a falta de coragem do diretor Michael Caton-Jones. O roteiro tem alguns problemas, mas constrói um interessante jogo psicológico orquestrado por Catherine Tramell. A personagem, aliás, é outro acerto, sendo bem incorporado pela deslumbrante Sharon Stone. Pena que o cineasta pelo excesso de pudor, evitando as cenas mais picantes fundamentais no jogo de Tramell. Além disso, o protagonista Morrissey é completamente inexpressivo. Mas, apesar de ser mais fraco que seu antecessor, Instinto Selvagem 2 funciona.
FLORES PARTIDAS (BROKEN FLOWERS) – EUA/França, 2005 **1/2
De Jim Jarmusch. Com Bill Murray, Sharon Stone, Tilda Swinton, Jessica Lange, Jeffrey Wright e Julie Delpy.
O ultimo filme do cultuado Jim Jarmusch é um interessante exercício de abordagem. Apoiado nas costas de Bill Murray, mais uma vez excelente equilibrando melancolia com comicidade, a obra demonstra a maturidade de um cineasta que não apela para soluções fáceis, evitando clichês do gênero. Flores Partidas, contudo, sofre pelo ritmo incrivelmente arrastado. Contemplativo demais, o filme dilui as boas idéias em uma narrativa chata e enfadonha.
De Stephen Chow. Com Stephen Chow, Xiaogang Fen, Wah Yuen e Zhi hua Dong.
Depois de realizar o cultuado Shaolin Soccer, Stephen Chow ataca com essa comédia sobre artes marciais. Apesar da ótima reputação que vem recebendo, o filme não passa de uma diversão bacana, mas cheia de falhas. Há momentos genuinamente engraçados, porém, a obra parece não se decidir entre seguir uma linha séria ou cômica. Além disso, o excesso de efeitos especiais acaba cansando. Funciona, mas é totalmente esquecível.
ONG-BAK – GUERREIRO SAGRADO (ONG-BAK) – Tailândia, 2003 ***
De Prachya Pinkaew. Com Tony Jaa, Petchtai Wongkamlao, Pumwaree Yodkamol e Suchao Pongwilai.
Surpreendente filme de ação oriental, com algumas das melhores cenas de luta dos últimos anos. Seguindo o rumo contrário à tendência hollywoodiana de fazer combates repletos de efeitos especiais, a ação em Ong-Bak é incrivelmente visceral e realista. O espectador chega a se perguntar como as cenas são feitas, tamanho o impacto. O protagonista Tony Jaa tem boa presença, mas a obra perde pela trama simplista demais.
LAVOURA ARCAICA – Brasil, 2001 *****
De Luiz Fernando Carvalho. Com Selton Mello, Raul Cortez, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros e Caio Blat.
Poesia, lirismo e beleza se encontram nessa complexa produção nacional. O diretor Carvalho realizou um trabalho de magnitude exemplar, contando em três horas uma história repleta de camadas e interpretações. Tecnicamente arrebatador, Lavoura Arcaica é uma obra hipnótica, que carrega o espectador por cenas irrepreensíveis e de uma beleza nunca – ou poucas vezes – antes vista no cinema brasileiro. Uma obra-prima.
A VIDA E MORTE DE PETER SELLERS (THE LIFE AND DEATH OF PETER SELLERS) – EUA/Inglaterra, 2004 **
De Stephen Hopkins. Com Geoffrey Rush, Emily Watson, Charlize Theron, John Lithgow e Stanley Tucci.
Apesar de Geoffrey Rush incorporar o personagem principal com maestria, A Vida e Morte de Peter Sellers afunda em um roteiro burocrático e uma direção sem inspiração alguma da parte de Hopkins. A trama limita-se a apresentar alguns fatos da vida do ator, sem jamais seguir uma estrutura coerente. Com isso, jamais se conhece quem realmente foi Sellers e o filme cansa a partir dos 30 minutos. Uma pena.
A CASA DE CERA (HOUSE OF WAX) – EUA, 2005 **
De Jaume Collet-Serra. Com Elisha Cuthbert, Chad Michael Murray, Brian Van Holt e Paris Hilton.
Filme de terror completamente sem cérebro, que abusa de todos os clichês do gênero, como a mocinha subir pelas escadas quando deveria sair pela porta e o vilão que parece não morrer nunca. Apesar da idiotice e da boa premissa desperdiçada, o filme vai agradar aos fãs, pois oferece algumas cenas bacanas, especialmente as de morte (duas, pelo menos, vão levar os mais sádicos à loucura), e ainda traz a linda e competente Elisha Cuthbert no elenco.
O GALINHO CHICKEN LITTLE (CHICKEN LITTLE) – EUA, 2005 ***
De Mark Dindal. Com as vozes de Zach Braff, Garry Marshall, Don Knots, Patrick Stewart, Steve Zahn e Joan Cusack.
Mesmo não chegando aos pés de outras animações como Procurando Nemo, Shrek e Monstros S. A., O Galinho Chicken Little ainda funciona. Ao contrário das outras recentes produções do gênero, esta é mais voltada ao público infantil. A história é meio bagunçada, mas há algumas boas piadas e personagens. Não ofende ninguém, mas também não traz nada que justifique alguém acima de 12 anos assisti-lo.
A LENDA DO ZORRO (THE LEGEND OF ZORRO) – EUA, 2005 **1/2
De Martin Campbell. Com Antonio Banderas, Catherine Zeta-Jones, Rufus Sewell e Adrian Alonso.
Ainda que traga o mesmo elenco e diretor, A Lenda do Zorro fica muito aquém da qualidade atingida na obra anterior. A história não convence em momento algum e, apesar de algumas boas cenas de ação, falta charme e irreverência ao personagem. Além disso, Banderas e Zeta-Jones parecem ter perdido toda a química que fez o original tão especial.
QUATRO IRMÃOS (FOUR BROTHERS) – EUA, 2005 ***
De John Singleton. Com Mark Wahlberg, Tyrese Gibson, Andre Benjamin, Garrtett Hedlund, Terrence Howard e Fionnula Flanagan.
Ainda que haja a tentativa de oferecer um núcleo emocional à história de Quatro Irmãos, o filme resulta em algo distante do espectador. A trama é enxuta e os personagens são interessantes, com bons intérpretes. No entanto, a centro sentimental, ponto de partida de tudo o que acontece no filme, acaba falhando. Quatro Irmãos é uma produção correta, eficiente, mas que jamais alcança um vôo mais alto.
O MATADOR (THE MATADOR) – EUA/Alemanha/Irlanda, 2005 ***1/2
De Richard Shepard. Com Pierce Brosnan, Greg Kinnear, Hope Davis e Phillip Baker Hall.
Interessantíssima produção independente, que parte de uma boa premissa para realizar um bom estudo de personagens. Brosnan está impecável na caracterização do assassino que faz amizade com um “homem comum” e carrega bem o filme. A história demora um pouco para encontrar seu ritmo, crescendo bastante de qualidade a partir da metade final. Merece uma chance.
O JARDINEIRO FIEL (THE CONSTANT GARDENER) – Inglaterra/Alemanha, 2005 ***
De Fernando Meirelles. Com Ralph Fiennes, Rachel Weisz, Hubert Kounde, Danny Huston e Bill Nighy.
Talvez o filme mais superestimado do ano passado, ao lado de Brokeback Mountain. O novo trabalho de Fernando Meirelles fica anos-luz aquém de Cidade de Deus. Ainda que tenha boas idéias e intenções nobres, a história é arrastada e embolada demais, prejudicando o ritmo. O roteirista parece ter encontrado dificuldades em colocar todos os fatos em duas horas. Além disso, a montagem em flashback pouco acrescenta, soando como mero capricho. Mas o filme funciona em termos gerais, graças ao apuro técnico de Meirelles e a ótima atuação de Weisz, apaixonante no papel de Tessa.
THE COMMITMENTS – LOUCOS PELA FAMA (THE COMMITMENTS) – Irlanda/Inglaterra/EUA, 1991 ****
De Alan Parker. Com Robert Arkins, Michael Aherne, Angeline Ball, Maria Doyle Kennedy, Dave Finnegan, Johnny Murphy, Andrew Strong e Colm Meaney.
Este cultuado filme continua divertido e empolgante. Parker conseguiu encontrar o tom certo da narrativa, criando um grupo de personagens adoráveis e realistas. Ainda que a história seja mais do que comum (ascensão e queda da banda), a obra é cativante, especialmente pela irrepreensível trilha sonora que traz clássicos como Mustang Sally. Despretensioso e divertido.
SOB O DOMÍNIO DO MAL (THE MANCHURIAN CANDIDATE) – EUA, 1962 ****1/2
De John Frankenheimer. Com Laurence Harvey, Frank Sinatra, Ângela Lansbury, Janet Leigh e Henry Silva.
Clássico absoluto do cinema americano – e com justiça. A obra de Frankenheimer continua surpreendendo pelo roteiro enxuta e a direção tensa, que explora ao máximo as possibilidades da história. Com grandes atuações do elenco, Frankenheimer criou um filme que conseguiu superar os possíveis problemas de ser sobre uma época determinada. Ainda que não seja atual, continua uma grande obra cinematográfica.
A NOITE DO DIA SEGUINTE (THE NIGHT OF THE FOLLOWING DAY) – EUA/Inglaterra, 1968 **
De Hubert Cornfield. Com Marlon Brando, Richard Boone, Rita Moreno e Pamela Franklin.
Filme irregular, cujo maior atrativo é mesmo a presença de Brando. A história do seqüestro não é ruim, mas peca pala falta de ambição ao não tentar nada de mais. No final, é uma trama que simplesmente não necessitava ser contada. Mas Brando está bem como sempre, com seu magnetismo comum e construindo um personagem interessante.
ESPÍRITOS – A MORTE ESTÁ AO SEU LADO (SHUTTER) – Tailândia, 2004 ***
De Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom. Com Ananda Everingham, Natthaweeranuch Thongmee, Achita Sikamana e Unnop Chanpaibool.
Espíritos tem qualidade superior à maioria dos filmes de terror saídos dos EUA, mas ainda assim não consegue grande destaque. A história possui algumas camadas que vão se revelando (inclusive o ótimo e surpreendente final) e a direção é eficiente, criando boas cenas do gênero. Mas há excessos também e certos momentos parecem mais cômicos do que assustadores.
HERÓIS IMAGINÁRIOS (IMAGINARY HEROES) – EUA, 2004 ****
De Dan Harris. Com Sigourney Weaver, Emile Hirsch, Jeff Daniels, Michelle Williams e Kip Pardue.
Sigourney Weaver é a grande atração deste filme pequeno e interessante. Apoiando-se exclusivamente no roteiro, Dan Harris cria um grupo de personagens interessantes na história de uma família desestruturada, mantendo sempre um olhar irônico e devastador sobre as relações familiares. O humor corrosivo chega a incomodar. O elenco está ótimo, com destaque para Weaver, que encontra o equilíbrio entre o drama e comédia.
ARMAÇÕES DO AMOR (FAILURE TO LAUNCH) – EUA, 2006 *1/2
De Tom Dey. Com Matthew McCounaghey, Sarah Jessica Parker, Kathy Bates e Zooey Deschanel.
Porcaria. Uma comédia romântica que não oferece nada de novo, com um roteiro formulaico e cheio de clichês. De quebra, o casal principal não convence, principalmente devido à chatíssima Parker, e o roteiro não oferece uma piada inspirada. Salvam-se apenas o carisma de McCounaghey e a sempre ótima presença de Bates.
O BOULEVARD DO CRIME (LES ENFANTS DU PARADIS) – França, 1945 ****1/2
De Marcel Carné. Com Jean Louis-Barralt, Arletty, Pierre Brasseur, Pierre Renoir e Maria Casares.
Grandioso e praticamente irrepreensível clássico do cinema francês. A história de amor entre Baptiste, Garrance e Frederik tem todos os ingredientes de uma obra imortal sobre o amor. As três horas de produção exploram todas as camadas possíveis do riquíssimo roteiro, que oferece diálogos belíssimos que apenas engrandecem o filme. A longa duração, contudo, acaba cansando em certos momentos, mas nada que prejudique a apreciação desta obra magnífica.
O SENHOR DAS ARMAS (LORD OF WAR) – EUA, 2005 ****
De Andrew Niccol. Com Nicolas Cage, Jared Leto, Bridget Moynahan, Ian Holm e Ethan Hawke.
Não fosse algumas derrapadas do diretor e roteirista Niccol, O Senhor das Armas poderia facilmente ter se tornado um filme seminal sobre os tempos atuais. Com um ótimo roteiro, repleto de diálogos contundentes, o cineasta apresenta ao espectador o mundo do funcionamento do tráfico de armas, sempre de forma enérgica e agradável de assistir. Há belíssimos momentos, como a cena dos créditos inicias, mas deslizes como a obviedade do tratamento oferecido à relação do personagem principal com a família. No final, um filme muito acima da média, mas ainda não tudo o que poderia ter sido.
NA RODA DA FORTUNA (THE HUDSUCKER PROXY) – EUA, 1994 ****
De Joel Coen. Com Tim Robbins, Paul Newman, Jennifer Jason Leigh, Bill Cobbs e Bruce Campbell.
Com a marca característica dos filmes do irmãos Coen, Na Roda da Fortuna é um espetáculo de estilo e requinte visual, com uma história repleta de bons personagens e intenções. A sátira dos cineastas ao inescrupuloso mundo dos negócios funciona em termos gerais, graças também às ótimas atuações de Robbin, Leigh e Newman. Não é o melhor filme dos Coen, mas oferece o olhar diferenciado que fizeram deles dois dos realizadores mais cultuados do cinema atual.
MADRUGADA DOS MORTOS (DAWN OF THE DEAD) – EUA, 2004 ****
De Zack Snyder. Com Sarah Polley, Ving Rhames, Jake Weber, Mekhi Phifer e Michael Kelly.
Mesmo sendo cria de um dos gêneros mais surrados do cinema americano, Madrugada dos Mortos é incrivelmente eficiente. O diretor Snyder evita as enrolações entrega exatamente aquilo que o espectador quer: violência e muito sangue. Além disso, o roteiro surpreende pela inteligência, ao dedicar tempo suficiente para o espectador conhecer os personagens, além de surpreender pelo destino dado a alguns deles. Nervoso, tenso e plenamente satisfatório dentro de seus propósitos.
INSTINTO SELVAGEM 2 (BASIC INSTINCT 2) – EUA/Alemanha/Espanha/Inglaterra ***
De Michael Caton-Jones. Com Sharon Stone, David Morrissey, Charlotte Rampling e David Thewlis.
O maior problema de Instinsto Selvagem 2 é a falta de coragem do diretor Michael Caton-Jones. O roteiro tem alguns problemas, mas constrói um interessante jogo psicológico orquestrado por Catherine Tramell. A personagem, aliás, é outro acerto, sendo bem incorporado pela deslumbrante Sharon Stone. Pena que o cineasta pelo excesso de pudor, evitando as cenas mais picantes fundamentais no jogo de Tramell. Além disso, o protagonista Morrissey é completamente inexpressivo. Mas, apesar de ser mais fraco que seu antecessor, Instinto Selvagem 2 funciona.
FLORES PARTIDAS (BROKEN FLOWERS) – EUA/França, 2005 **1/2
De Jim Jarmusch. Com Bill Murray, Sharon Stone, Tilda Swinton, Jessica Lange, Jeffrey Wright e Julie Delpy.
O ultimo filme do cultuado Jim Jarmusch é um interessante exercício de abordagem. Apoiado nas costas de Bill Murray, mais uma vez excelente equilibrando melancolia com comicidade, a obra demonstra a maturidade de um cineasta que não apela para soluções fáceis, evitando clichês do gênero. Flores Partidas, contudo, sofre pelo ritmo incrivelmente arrastado. Contemplativo demais, o filme dilui as boas idéias em uma narrativa chata e enfadonha.