Viagem Literária
Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.
About Me
- Name: Silvio Pilau
- Location: Porto Alegre, RS, Brazil
Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.
Saturday, June 24, 2006
Friday, June 23, 2006
A Resposta
É boa a sensação de se estar certo. Ir contra tudo e contra todos e, ao final, ver que a nossa opinião era a verdadeira. Poder dizer pra qualquer um as seguintes palavras: “não quiseram me ouvir.”
Assim estou me sentindo agora. Quem leu aquele texto ali abaixo sabe que, enquanto o mundo pedia para tirar a camisa 9 de Ronaldo, eu dizia pra dar mais uma chance ao Fenômeno, que ele ainda iria corresponder e fazer muito pela seleção na Copa.
E foi o que ele fez ontem contra o Japão. Deixando de lado a fragilidade do adversário, Ronaldo comprovou seu incrível poder de superação guardando dois gols e saindo como o melhor em campo. Agora todos dizem que sempre o apoiaram. Mas falar depois é fácil.
Ronaldo fez exatamente aquilo que escrevi abaixo. Deu a resposta dentro de campo. Deu a resposta com gols. E, nas entrevistas, não falou nada sobre calar a boca de alguém ou criticou quem havia pedido sua saída do time. Não, o Fenômeno é o Fenômeno porque sabe que fala melhor com os pés.
Hoje, Ronaldo Luiz Nazário de Lima acordou como o ser humano com maior número de gols na História das Copas do Mundo. Nunca alguém fez mais gols que ele no maior evento do futebol mundial. E está apenas a um golzinho de superar o alemão Gerd Müller e se isolar na frente. Pouca coisa?
Por tudo o que já fez pelo futebol do Brasil e do mundo, por todos os títulos que já conquistou, por todos os recordes que já bateu, Ronaldo poderia ficar o resto da carreira ser marcar um só gol. E ninguém teria o direito de reclamar qualquer coisa.
É na hora da adversidade que vemos quem é grande e quem não é. Ronaldo já mostrou várias vezes ter nascido com estrela. Ele sempre acaba dando a resposta. Sempre acaba sempre justificando seu apelido. E quem o critica parece não aprender.
Assim estou me sentindo agora. Quem leu aquele texto ali abaixo sabe que, enquanto o mundo pedia para tirar a camisa 9 de Ronaldo, eu dizia pra dar mais uma chance ao Fenômeno, que ele ainda iria corresponder e fazer muito pela seleção na Copa.
E foi o que ele fez ontem contra o Japão. Deixando de lado a fragilidade do adversário, Ronaldo comprovou seu incrível poder de superação guardando dois gols e saindo como o melhor em campo. Agora todos dizem que sempre o apoiaram. Mas falar depois é fácil.
Ronaldo fez exatamente aquilo que escrevi abaixo. Deu a resposta dentro de campo. Deu a resposta com gols. E, nas entrevistas, não falou nada sobre calar a boca de alguém ou criticou quem havia pedido sua saída do time. Não, o Fenômeno é o Fenômeno porque sabe que fala melhor com os pés.
Hoje, Ronaldo Luiz Nazário de Lima acordou como o ser humano com maior número de gols na História das Copas do Mundo. Nunca alguém fez mais gols que ele no maior evento do futebol mundial. E está apenas a um golzinho de superar o alemão Gerd Müller e se isolar na frente. Pouca coisa?
Por tudo o que já fez pelo futebol do Brasil e do mundo, por todos os títulos que já conquistou, por todos os recordes que já bateu, Ronaldo poderia ficar o resto da carreira ser marcar um só gol. E ninguém teria o direito de reclamar qualquer coisa.
É na hora da adversidade que vemos quem é grande e quem não é. Ronaldo já mostrou várias vezes ter nascido com estrela. Ele sempre acaba dando a resposta. Sempre acaba sempre justificando seu apelido. E quem o critica parece não aprender.
Então, uma dica a quem tem o costume de falar mal de Ronaldo: não o faça. Não digo isso por pena dele ou para poupá-lo. Digo apenas porque, no final, é o Fenômeno quem vai sair por cima. E isso é certo.
Wednesday, June 21, 2006
As Águias e o Fenômeno
Este texto é sobre futebol. Mas acho que a melhor forma de iniciá-lo é contando uma curiosidade sobre as águias. Estas aves são alguns dos animais mais longevos da natureza, podendo exibir seus belos vôos até os 70 anos. Para isso, no entanto, as águias passam por uma provação. Pela metade da sua vida, elas realizam um sacrifício para viverem mais algumas décadas.
Consiste em ir até uma montanha bem alta e bater com seu bico nas pedras até quebrá-lo, livrando-se, assim, daquele já envelhecido. Em seguida, esperam o novo bico nascer para depois arrancar as unhas. Após o nascimento das novas unhas, elas retiram as penas. Somente depois de 150 dias, aproximadamente, com bico, unhas e penas novas, elas voltam aos céus. Renovadas.
Por que estou falando em águias em um texto, como já disse, sobre futebol? Porque acredito que seja um ótimo ponto de partida para falar sobre o momento de um dos maiores jogadores que este planeta já viu: Ronaldo Luís Nazário de Lima. Para alguns, o Fenômeno. Para outros, o Gordo.
Ronaldo está em má fase, sim. Esta é uma verdade indiscutível. A atuação do camisa nove da seleção brasileira contra a Croácia pode ter sido uma das piores de toda a sua carreira. Mas Ronaldo merece ser tratado da forma como está sendo tratado? Não apenas pela imprensa e torcida brasileira, mas mundial? Acho que o Fenômeno merece mais do que isso.
Quantos jogadores foram campeões mundiais aos 17 anos? Quantos foram eleitos 3 vezes como o melhor do mundo? Deixaram marcas e lances incríveis em todos – e repito, todos – os times que defenderam? Carregaram uma equipe nas costas na Copa do Mundo? Tornaram-se sinônimo de futebol em todo o planeta? Quantos jogadores têm seu nome na lista dos maiores que já tocaram numa bola?
"Isso é passado", dizem. Besteira. Escrevo este texto um dia antes do Brasil enfrentar o Japão. Afirmei antes da Copa que Ronaldo seria um dos destaques do torneio, calando a boca de todo mundo da mesma forma que fez em 2002. Talvez eu tenha exagerado, mas acredito que ele ainda vai fazer muito pela seleção nos cinco jogos restantes.
Digo isso porque não é a primeira vez que Ronaldo sofre com críticas. O exemplo mais claro e óbvio é o de quatro anos atrás, na Copa da Coréia e Japão. Todo mundo sabe o que aconteceu: após mais uma cirurgia no joelho, foi decretado o fim da sua carreira futebolística. Resultado? Oito gols, inclusive os dois da final que permitiram Cafu declarar seu amor pela mulher na frente de bilhões de pessoas.
Convenhamos, isso não é para qualquer um. A superação, a força de vontade e, acima de tudo, a confiança que o Fenômeno demonstrou em si mesmo, em meio à todas as críticas, não são encontrados em qualquer ser humano. Ronaldo demonstrou ali que é um vencedor. Mostrou ao mundo inteiro ser mais do que um grande jogador. Mostrou ser um grande homem. Mostrou ser o Fenômeno.
Agora eu volto à história da águia lá em cima. O animal que precisou passar por sacrifícios para novamente reinar. As semelhanças são óbvias. Ronaldo está passando pela sua segunda provação. E, sinceramente, acredito que ele vai sair dessa como sempre: sem falar demais, sem reclamar, sem criticar ninguém. Como fazem os grandes.
Ronaldo vai sair dessa apenas jogando futebol. Fazendo gols. E vai fazer cada um que já falou alguma coisa sobre sua condição, cada um que já pediu sua saída, soltar um grito que está trancado no peito. Não um grito de gol e nem um grito de campeão. Mas um grito de alívio, de satisfação ao ver as redes balançadas novamente por um dos maiores de todos os tempos.
E não tem problema que a águia passe pela renovação apenas uma vez na vida e Ronaldo esteja em sua segunda. Uma águia é apenas uma águia. Ronaldo não é apenas Ronaldo.
Ou alguma águia já foi chamada de Fenômeno?
Monday, June 19, 2006
A Casa
Construir uma casa é uma tarefa que demanda certo tempo. Mesmo quem é leigo pode afirmar sem medo de errar que existem várias etapas para que uma residência seja erguida de forma confiável, de modo que os moradores não fiquem com receio do teto desabar sobre suas cabeças.
Digo tudo isso para explicar que uma casa surgida durante uma noite era um fato, no mínimo, estranho. No entanto, foi o que aconteceu. Quando Bruno dirigia-se à sua própria casa, na noite de quinta-feira, o terreno baldio a duzentos metros de sua moradia continuava vazio.
Na sexta-feira, porém, Bruno se surpreendeu ao sair de casa, dirigir seu olhar para o espaço outrora inocupado e encontrar ali uma bela residência de dois pisos. Apesar de ainda estar com a mente afetada pelo sono, não foi uma alucinação. Bruno se aproximou do local e colocou a mão direita no alto portão que impedia o acesso. Pôs o rosto por entre as barras de ferro e observou.
Era uma casa de uma cor amarela desbotada, com um pequeno jardim separando a porta de entrada do lugar onde Bruno se encontrava. Bem no centro, no andar de baixo, uma porta de madeira brilhante. Aos lados e no andar de cima, grandes janelas como Bruno não via há muito tempo davam à casa um ar de tradição, mas sem parecer antiga.
Claro que Bruno não sabia o que pensar. Tudo era estranho ali, especialmente a sensação de aconchego que ele sentia ao enxergar a casa. Algo de familiar o confortava, embora não soubesse definir com exatidão o que era.
Estava atrasado e precisa ir para o trabalho. Passou o dia pensando em como seria possível alguém erguer uma casa daquelas em apenas uma noite e não conseguiu chegar à conclusão alguma. E pior, dominava-o uma inquietude, um sentimento de que, de alguma forma, aquela casa desempenhara um papel importante em sua vida.
Foi voltando do trabalho que Bruno lembrou. A casa de seu avô em São Francisco de Paula. Será? Não podia ser. Ele era apenas um garoto de uns três ou quatro anos quando freqüentava aquela casa nas grandes reuniões de família, por isso as lembranças eram escassas. Mas as poucas reverberavam em sua mente e a casa que surgira em sua rua parecia exatamente com a do seu avô.
À noite, indo para casa, Bruno desceu do ônibus o observou o local mais uma vez. A residência ainda estava lá. Pensou em bater na porta, mas algo o impediu. Talvez medo, talvez receio. Saiu correndo para a sua casa e começou a revirar os álbuns antigos de fotografia. Não encontrou uma foto da época em que a família toda freqüentava a casa do avô para as datas festivas.
Pegou o telefone e discou.
- Alô, mãe?
- Oi, Pedro. Tudo bem?
- Tudo, mãe. Diga-me uma coisa. Como era a casa do vô Astolfo?
- Como assim, Pedro?
- Descreva-a pra mim.
- Por quê?
- Por favor, mãe. Não pergunte. Preciso saber.
Um instante de silêncio.
- Isso tem a ver com a Márcia, Bruno?
- Não, mãe. Não tem a ver com a Márcia. Só me diz como era a casa do vô.
- Amarela. Dois andares. Tinha uma porta que...
À medida que sua mãe foi descrevendo, Bruno foi visualizando a casa que surgira em sua rua. Era a própria. A casa de seu vô que morrera há vinte e dois anos se materializara como que do nada perto de onde morava. Ele simplesmente não sabia o que pensar e muito menos o que fazer.
Mas só havia uma coisa a fazer. Ele teria que ir até lá.
Foi o que Bruno decidiu fazer. Com um pouco de medo, preferiu não ir durante a noite. Não sabia o que encontraria lá e era melhor não arriscar. Deixou para a manhã do outro dia.
Acordou cedo demais para um sábado. Mas não conseguia esperar. Mal dormira. Quando os primeiros raios iluminaram seu quarto, Bruno se vestiu e saiu de casa. Olhou e ela continuava lá. A misteriosa casa de seu avô.
Não havia ninguém na rua. Bruno pensou que fosse em função do horário. Seguiu em direção à casa. A cada passo dado, sua ansiedade aumentava. O que iria encontrar? Por que a casa de seu avô aparecera, como em um passe de mágica, a apenas alguns metros da sua? Quem estaria lá?
A uma curta distância da casa amarela de dois pisos, Bruno parou. A porta estava se abrindo. Sem saber se corria para se esconder ou continuava se aproximando, Bruno ficou parado. Estático no meio da rua enquanto a porta se abria. Ninguém em volta. Era a primeira movimentação que via na casa desde que percebera ela ali.
Apareceu um senhor de idade que, pela distância, Bruno não reconheceu. O idoso parou sob a porta e olhou na direção de Bruno, ainda parado no meio da rua. Para a surpresa de Bruno, o homem sorriu para ele, virou as costas e entrou novamente na casa, deixando a porta aberta.
A cabeça e o coração de Bruno não paravam. Qual o significado de tudo isso? Olhou em volta para notar, mais uma vez, que não havia ninguém na rua. Nenhum movimento exceto o seu e o da casa amarela.
Tomando coragem, caminhou em direção ao local. Quando estava a apenas alguns passos do portão de entrada, o senhor reapareceu, agora acompanhado. Era um casal de velhinhos, aproximadamente de uns oitenta anos cada um, mas aparentando estar bem fisicamente.
- Olá, Bruno – disse o homem, em uma voz suave e carinhosa.
- Oi, querido – falou a mulher.
Bruno estava parado no portão, observando incrédulo seus avós, que haviam falecido há muitos anos. Como aquilo era possível ele não sabia dizer, mas estava acontecendo. Percebeu que o medo dissipou-se totalmente ao encontrar os dois ali. Sentia-se bem.
- Vô? Vó? São vocês mesmo?
Ambos sorriram e a senhora se adiantou alguns passos.
- Somos nós, Bruno – comentou ela, com um sorriso agradável.
- Mas como é possível?
- E por que não seria?
A senhora, que Bruno conhecia como vó Leila, pegou Bruno pela mão. A mão dela era quente, ao contrário do que ele imaginava que seria a mão de uma pessoa morta. Mas ela estava morta? Não parecia.
- Entre, Bruno. Precisamos recuperar o tempo perdido – falou o vô Astolfo. – Temos muito a conversar.
Os dois levaram Bruno para o interior da casa. Apesar de não lembrar com nitidez de tudo, as escassas memórias que ainda tinha sobre o local combinavam com o que agora via.
Passaram por um grande hall de entrada, parcamente iluminado pela luz do sol. Tudo no local, dos tapetes no chão ao espelho na parede, fazia sentir que aquele era um lugar parado no tempo. Não havia nada de moderno na casa.
Entraram em uma pequena sala, com algumas cadeiras estofadas e uma mesa no centro. Sentaram-se os três e ficaram por alguns instantes sem falar nada. Bruno olhava deslumbrado, ainda sem entender o que acontecia. E, naquele momento, nem tinha certeza de que queria saber, deixando-se levar pelo momento.
- Como você está, Bruno? – Astolfo perguntou.
- Estou bem, vô. Muito bem.
- A última vez que nos vimos foi há quanto tempo? Dezenove, vinte anos?
- Acho que por aí.
- É muito tempo sem ver o neto.
Leila apenas observava a conversa, com os olhos fixos em Bruno. Ela mantinha sempre um sorriso no canto dos lábios, como se quisesse expressar uma felicidade reprimida.
- Mas conte-nos, Bruno – continuou o avô. – O que você tem feito?
Subitamente, Bruno percebeu que esta conversa não poderia seguir por este caminho comum. Nada ali era comum e ele precisava tirar isso a limpo.
- Desculpe, vô. Mas eu preciso perguntar. O que vocês estão fazendo aqui? Vocês morreram há mais de vinte anos!
Foi a vez de Leila falar.
- Morte é um conceito vago, Bruno. Você vai aprender isso.
- Como vago? Isso não é certo! Não é lógico! Eu não poderia estar tendo esta conversa com vocês.
- No entanto, está.
- Exatamente! – exclamou Bruno.
- E como explica isso?
- Eu não explico. Não sou eu quem precisa explicar. Quero que vocês me expliquem. Quero que me expliquem porque a casa de vocês surgiu na minha rua. Quero que me digam porque eu estou aqui falando com meus dois avós em cujo funeral eu fui.
- Você se preocupa demais, Bruno. Não se preocupe com o que é lógico ou com o que é certo. As coisas são muito mais fáceis para quem consegue aceitar aquilo que não entende.
Bruno levantou-se e caminhou pela sala. Enxergou uma estante com algumas fotos e foi até ela. Pôs-se a observar os retratos, incluindo alguns dele quando jovem com os avôs.
Com a voz tremida de emoção, disse:
- É muito bom rever vocês.
Astolfo e Leila levantaram-se também e foram na direção de Bruno. Ele chorava. Os dois o abraçaram e Bruno também os envolveu com seus braços.
Permaneceram assim por aproximadamente um minuto. Em seguida, voltaram a se sentar. Astolfo disse:
- Viemos aqui por causa da Márcia, Bruno.
Bruno se surpreendeu. Arregalou os olhos, espantado com o que acabara de ouvir.
- A Márcia? O que tem ela?
- Viemos aqui para contar-lhe uma notícia sobre ela.
- Mas vocês não a conheceram. Morreram muito antes de a gente se casar.
Como acontecera desde o divórcio, Bruno não se sentia confortável ao falar da ex-mulher. Ainda a amava.
- A gente sabe o quanto ela foi importante para você – disse Leila. Corrigiu em seguida: - O quanto ela ainda é importante para você.
Bruno não sabia o que dizer ou o que pensar. Permaneceu em silêncio para sua avó continuar, mas quem falou foi Astolfo.
- A gente tem acompanhado você, Bruno. Sempre. A cada passo, estamos ali. E vimos o quanto você foi feliz com a Márcia. O quanto você dependia do amor dela.
Mais uma vez, Bruno sentiu as lágrimas aflorarem.
- Aonde vocês querem chegar? – perguntou ele.
Astolfo se inclinou na cadeira, chegando mais perto de Bruno. Olhando diretamente no olho do neto, perguntou:
- Você acredita em outra vida?
Bruno respondeu, quase sem pensar:
- Não sei. Sinceramente, não sei. Mas como não acreditar quando estou falando com meus avós mortos?
Os dois velhinhos sorriram. Astolfo prosseguiu:
- Temos um recado da Márcia para você. Ela mandou dizer que sempre sentiu sua falta.
- Como assim “mandou dizer”? Onde ela está?
Leila colocou sua mão sobre a de Bruno. Disse, com um alento na voz:
- Ela veio de onde a gente veio.
- Como assim?
- Ela está morta, querido.
Bruno puxou a mão com força. Recostou-se violentamente na cadeira, como se tivesse levado um impacto. A boca permaneceu aberta, até falar com voz de puro pânico:
- Quê!?
- Ela está morta, querido – repetiu Leila.
- Como? Quando? Não pode!
- Foi há dois dias. Acidente de carro.
- Não! – pela terceira vez, Bruno chorou. Agora com muito mais força do que as outras vezes. As lágrimas doíam.
- Sim, querido. Ela nos procurou e pediu para que contássemos a você.
- Como? Por quê?
- Porque ela sabia o quanto você sempre gostou da gente. Sabia que seria melhor ouvir a notícia dos seus avôs do que de alguma outra pessoa. Por isso, viemos.
- Eu não acredito! – Bruno vociferou.
Saiu correndo em direção ao telefone. Era daqueles de discar, que Bruno não usava há tempos. Levantava o fone do gancho quando Astolfo pôs a mão no seu ombro.
- Não adianta, Bruno. Não vai funcionar. Lembre-se de que não estamos aqui.
Bruno ouviu as palavras de seu avô e se ajoelhou, ainda com o telefone na mão. Chorava compulsivamente, como se a dor fosse a única sensação em todo o seu corpo.
- Bruno – chamou Leila.
Ele não respondeu e ela repetiu:
- Bruno.
Bruno olhou para ela. O rosto estava molhado e vermelho das lágrimas.
- Ela está bem, querido. Mandou dizer que está muito bem e que sente sua falta. Que sempre o amou, mas simplesmente não deu certo entre vocês. Ela gosta muito de você, Bruno.
Nesse instante, Astolfo chegou com um copo d’água. Entregou a Bruno.
- Beba, vai lhe fazer bem.
Em apenas um gole, Bruno bebeu o líquido. Continuava chorando.
Poucos segundos depois, começou a se sentir fraco. Os olhos foram pesando e Bruno sentiu que iria perder os sentidos. Olhou uma última vez para Astolfo e Leila, seus dois avôs. Eles o observavam com um olhar que misturava pena e a mais sincera ternura.
Bruno acordou em sua casa. Levou algum tempo para relembrar tudo o que acontecera. Quando o fez, o impacto foi grande novamente.
Márcia estava morta.
Será que era verdade? Ou ele tinha sonhado com aquilo? Quanto do encontro com seus avôs era real?
Correu em direção ao telefone sem fio. Tirou-o do gancho e discou o número da casa de Márcia, que ainda conhecia de cor. Dirigiu-se à porta de sua casa. Chegou à rua e olhou para onde estava a casa de seus avôs.
Nada. Apenas o terreno baldio novamente.
Ao seu ouvido, o telefone chamava.
Digo tudo isso para explicar que uma casa surgida durante uma noite era um fato, no mínimo, estranho. No entanto, foi o que aconteceu. Quando Bruno dirigia-se à sua própria casa, na noite de quinta-feira, o terreno baldio a duzentos metros de sua moradia continuava vazio.
Na sexta-feira, porém, Bruno se surpreendeu ao sair de casa, dirigir seu olhar para o espaço outrora inocupado e encontrar ali uma bela residência de dois pisos. Apesar de ainda estar com a mente afetada pelo sono, não foi uma alucinação. Bruno se aproximou do local e colocou a mão direita no alto portão que impedia o acesso. Pôs o rosto por entre as barras de ferro e observou.
Era uma casa de uma cor amarela desbotada, com um pequeno jardim separando a porta de entrada do lugar onde Bruno se encontrava. Bem no centro, no andar de baixo, uma porta de madeira brilhante. Aos lados e no andar de cima, grandes janelas como Bruno não via há muito tempo davam à casa um ar de tradição, mas sem parecer antiga.
Claro que Bruno não sabia o que pensar. Tudo era estranho ali, especialmente a sensação de aconchego que ele sentia ao enxergar a casa. Algo de familiar o confortava, embora não soubesse definir com exatidão o que era.
Estava atrasado e precisa ir para o trabalho. Passou o dia pensando em como seria possível alguém erguer uma casa daquelas em apenas uma noite e não conseguiu chegar à conclusão alguma. E pior, dominava-o uma inquietude, um sentimento de que, de alguma forma, aquela casa desempenhara um papel importante em sua vida.
Foi voltando do trabalho que Bruno lembrou. A casa de seu avô em São Francisco de Paula. Será? Não podia ser. Ele era apenas um garoto de uns três ou quatro anos quando freqüentava aquela casa nas grandes reuniões de família, por isso as lembranças eram escassas. Mas as poucas reverberavam em sua mente e a casa que surgira em sua rua parecia exatamente com a do seu avô.
À noite, indo para casa, Bruno desceu do ônibus o observou o local mais uma vez. A residência ainda estava lá. Pensou em bater na porta, mas algo o impediu. Talvez medo, talvez receio. Saiu correndo para a sua casa e começou a revirar os álbuns antigos de fotografia. Não encontrou uma foto da época em que a família toda freqüentava a casa do avô para as datas festivas.
Pegou o telefone e discou.
- Alô, mãe?
- Oi, Pedro. Tudo bem?
- Tudo, mãe. Diga-me uma coisa. Como era a casa do vô Astolfo?
- Como assim, Pedro?
- Descreva-a pra mim.
- Por quê?
- Por favor, mãe. Não pergunte. Preciso saber.
Um instante de silêncio.
- Isso tem a ver com a Márcia, Bruno?
- Não, mãe. Não tem a ver com a Márcia. Só me diz como era a casa do vô.
- Amarela. Dois andares. Tinha uma porta que...
À medida que sua mãe foi descrevendo, Bruno foi visualizando a casa que surgira em sua rua. Era a própria. A casa de seu vô que morrera há vinte e dois anos se materializara como que do nada perto de onde morava. Ele simplesmente não sabia o que pensar e muito menos o que fazer.
Mas só havia uma coisa a fazer. Ele teria que ir até lá.
Foi o que Bruno decidiu fazer. Com um pouco de medo, preferiu não ir durante a noite. Não sabia o que encontraria lá e era melhor não arriscar. Deixou para a manhã do outro dia.
Acordou cedo demais para um sábado. Mas não conseguia esperar. Mal dormira. Quando os primeiros raios iluminaram seu quarto, Bruno se vestiu e saiu de casa. Olhou e ela continuava lá. A misteriosa casa de seu avô.
Não havia ninguém na rua. Bruno pensou que fosse em função do horário. Seguiu em direção à casa. A cada passo dado, sua ansiedade aumentava. O que iria encontrar? Por que a casa de seu avô aparecera, como em um passe de mágica, a apenas alguns metros da sua? Quem estaria lá?
A uma curta distância da casa amarela de dois pisos, Bruno parou. A porta estava se abrindo. Sem saber se corria para se esconder ou continuava se aproximando, Bruno ficou parado. Estático no meio da rua enquanto a porta se abria. Ninguém em volta. Era a primeira movimentação que via na casa desde que percebera ela ali.
Apareceu um senhor de idade que, pela distância, Bruno não reconheceu. O idoso parou sob a porta e olhou na direção de Bruno, ainda parado no meio da rua. Para a surpresa de Bruno, o homem sorriu para ele, virou as costas e entrou novamente na casa, deixando a porta aberta.
A cabeça e o coração de Bruno não paravam. Qual o significado de tudo isso? Olhou em volta para notar, mais uma vez, que não havia ninguém na rua. Nenhum movimento exceto o seu e o da casa amarela.
Tomando coragem, caminhou em direção ao local. Quando estava a apenas alguns passos do portão de entrada, o senhor reapareceu, agora acompanhado. Era um casal de velhinhos, aproximadamente de uns oitenta anos cada um, mas aparentando estar bem fisicamente.
- Olá, Bruno – disse o homem, em uma voz suave e carinhosa.
- Oi, querido – falou a mulher.
Bruno estava parado no portão, observando incrédulo seus avós, que haviam falecido há muitos anos. Como aquilo era possível ele não sabia dizer, mas estava acontecendo. Percebeu que o medo dissipou-se totalmente ao encontrar os dois ali. Sentia-se bem.
- Vô? Vó? São vocês mesmo?
Ambos sorriram e a senhora se adiantou alguns passos.
- Somos nós, Bruno – comentou ela, com um sorriso agradável.
- Mas como é possível?
- E por que não seria?
A senhora, que Bruno conhecia como vó Leila, pegou Bruno pela mão. A mão dela era quente, ao contrário do que ele imaginava que seria a mão de uma pessoa morta. Mas ela estava morta? Não parecia.
- Entre, Bruno. Precisamos recuperar o tempo perdido – falou o vô Astolfo. – Temos muito a conversar.
Os dois levaram Bruno para o interior da casa. Apesar de não lembrar com nitidez de tudo, as escassas memórias que ainda tinha sobre o local combinavam com o que agora via.
Passaram por um grande hall de entrada, parcamente iluminado pela luz do sol. Tudo no local, dos tapetes no chão ao espelho na parede, fazia sentir que aquele era um lugar parado no tempo. Não havia nada de moderno na casa.
Entraram em uma pequena sala, com algumas cadeiras estofadas e uma mesa no centro. Sentaram-se os três e ficaram por alguns instantes sem falar nada. Bruno olhava deslumbrado, ainda sem entender o que acontecia. E, naquele momento, nem tinha certeza de que queria saber, deixando-se levar pelo momento.
- Como você está, Bruno? – Astolfo perguntou.
- Estou bem, vô. Muito bem.
- A última vez que nos vimos foi há quanto tempo? Dezenove, vinte anos?
- Acho que por aí.
- É muito tempo sem ver o neto.
Leila apenas observava a conversa, com os olhos fixos em Bruno. Ela mantinha sempre um sorriso no canto dos lábios, como se quisesse expressar uma felicidade reprimida.
- Mas conte-nos, Bruno – continuou o avô. – O que você tem feito?
Subitamente, Bruno percebeu que esta conversa não poderia seguir por este caminho comum. Nada ali era comum e ele precisava tirar isso a limpo.
- Desculpe, vô. Mas eu preciso perguntar. O que vocês estão fazendo aqui? Vocês morreram há mais de vinte anos!
Foi a vez de Leila falar.
- Morte é um conceito vago, Bruno. Você vai aprender isso.
- Como vago? Isso não é certo! Não é lógico! Eu não poderia estar tendo esta conversa com vocês.
- No entanto, está.
- Exatamente! – exclamou Bruno.
- E como explica isso?
- Eu não explico. Não sou eu quem precisa explicar. Quero que vocês me expliquem. Quero que me expliquem porque a casa de vocês surgiu na minha rua. Quero que me digam porque eu estou aqui falando com meus dois avós em cujo funeral eu fui.
- Você se preocupa demais, Bruno. Não se preocupe com o que é lógico ou com o que é certo. As coisas são muito mais fáceis para quem consegue aceitar aquilo que não entende.
Bruno levantou-se e caminhou pela sala. Enxergou uma estante com algumas fotos e foi até ela. Pôs-se a observar os retratos, incluindo alguns dele quando jovem com os avôs.
Com a voz tremida de emoção, disse:
- É muito bom rever vocês.
Astolfo e Leila levantaram-se também e foram na direção de Bruno. Ele chorava. Os dois o abraçaram e Bruno também os envolveu com seus braços.
Permaneceram assim por aproximadamente um minuto. Em seguida, voltaram a se sentar. Astolfo disse:
- Viemos aqui por causa da Márcia, Bruno.
Bruno se surpreendeu. Arregalou os olhos, espantado com o que acabara de ouvir.
- A Márcia? O que tem ela?
- Viemos aqui para contar-lhe uma notícia sobre ela.
- Mas vocês não a conheceram. Morreram muito antes de a gente se casar.
Como acontecera desde o divórcio, Bruno não se sentia confortável ao falar da ex-mulher. Ainda a amava.
- A gente sabe o quanto ela foi importante para você – disse Leila. Corrigiu em seguida: - O quanto ela ainda é importante para você.
Bruno não sabia o que dizer ou o que pensar. Permaneceu em silêncio para sua avó continuar, mas quem falou foi Astolfo.
- A gente tem acompanhado você, Bruno. Sempre. A cada passo, estamos ali. E vimos o quanto você foi feliz com a Márcia. O quanto você dependia do amor dela.
Mais uma vez, Bruno sentiu as lágrimas aflorarem.
- Aonde vocês querem chegar? – perguntou ele.
Astolfo se inclinou na cadeira, chegando mais perto de Bruno. Olhando diretamente no olho do neto, perguntou:
- Você acredita em outra vida?
Bruno respondeu, quase sem pensar:
- Não sei. Sinceramente, não sei. Mas como não acreditar quando estou falando com meus avós mortos?
Os dois velhinhos sorriram. Astolfo prosseguiu:
- Temos um recado da Márcia para você. Ela mandou dizer que sempre sentiu sua falta.
- Como assim “mandou dizer”? Onde ela está?
Leila colocou sua mão sobre a de Bruno. Disse, com um alento na voz:
- Ela veio de onde a gente veio.
- Como assim?
- Ela está morta, querido.
Bruno puxou a mão com força. Recostou-se violentamente na cadeira, como se tivesse levado um impacto. A boca permaneceu aberta, até falar com voz de puro pânico:
- Quê!?
- Ela está morta, querido – repetiu Leila.
- Como? Quando? Não pode!
- Foi há dois dias. Acidente de carro.
- Não! – pela terceira vez, Bruno chorou. Agora com muito mais força do que as outras vezes. As lágrimas doíam.
- Sim, querido. Ela nos procurou e pediu para que contássemos a você.
- Como? Por quê?
- Porque ela sabia o quanto você sempre gostou da gente. Sabia que seria melhor ouvir a notícia dos seus avôs do que de alguma outra pessoa. Por isso, viemos.
- Eu não acredito! – Bruno vociferou.
Saiu correndo em direção ao telefone. Era daqueles de discar, que Bruno não usava há tempos. Levantava o fone do gancho quando Astolfo pôs a mão no seu ombro.
- Não adianta, Bruno. Não vai funcionar. Lembre-se de que não estamos aqui.
Bruno ouviu as palavras de seu avô e se ajoelhou, ainda com o telefone na mão. Chorava compulsivamente, como se a dor fosse a única sensação em todo o seu corpo.
- Bruno – chamou Leila.
Ele não respondeu e ela repetiu:
- Bruno.
Bruno olhou para ela. O rosto estava molhado e vermelho das lágrimas.
- Ela está bem, querido. Mandou dizer que está muito bem e que sente sua falta. Que sempre o amou, mas simplesmente não deu certo entre vocês. Ela gosta muito de você, Bruno.
Nesse instante, Astolfo chegou com um copo d’água. Entregou a Bruno.
- Beba, vai lhe fazer bem.
Em apenas um gole, Bruno bebeu o líquido. Continuava chorando.
Poucos segundos depois, começou a se sentir fraco. Os olhos foram pesando e Bruno sentiu que iria perder os sentidos. Olhou uma última vez para Astolfo e Leila, seus dois avôs. Eles o observavam com um olhar que misturava pena e a mais sincera ternura.
Bruno acordou em sua casa. Levou algum tempo para relembrar tudo o que acontecera. Quando o fez, o impacto foi grande novamente.
Márcia estava morta.
Será que era verdade? Ou ele tinha sonhado com aquilo? Quanto do encontro com seus avôs era real?
Correu em direção ao telefone sem fio. Tirou-o do gancho e discou o número da casa de Márcia, que ainda conhecia de cor. Dirigiu-se à porta de sua casa. Chegou à rua e olhou para onde estava a casa de seus avôs.
Nada. Apenas o terreno baldio novamente.
Ao seu ouvido, o telefone chamava.
Saturday, June 10, 2006
Wednesday, June 07, 2006
De homem pra Homem
Quem sou eu pra dar-lhe uma lição de moral? Não sou nem um espermatozóide se comparado ao tempo em que você já está aqui. Incrível é que, mesmo assim, não tem como não comentar algo. Como poderia ficar quieto se, aos vinte e três anos, já percebo tudo o que você já fez? Não sei de onde você veio. Na verdade, ninguém sabe. Mas isso não vem ao caso. A questão é aquilo que você se tornou. Alguém traiçoeiro, cínico, em quem não se pode confiar. Em quem sempre deve se olhar com receio, com medo ser passado pra trás. Porque, no fundo, é isso que você é. Alguém que faz o pode, atua, finge, engana, para conseguir o melhor para si. Para levar vantagem. E, se isso não acontece, o que ocorre? Raiva, descarga de ira, fúria insensata. Se não vai pelo bem, vai pelo mal. Não é esse o seu lema? Não é esse preceito que você segue durante toda a sua vida? Pode não acreditar, pode até não se dar conta disso, em uma espécie de auto-engano, mas é bem assim. Tudo se resume a você, ao que você quer. E quer saber o pior? Essa ira toda acaba descarregada em quem? Em você mesmo. Sim, o único prejudicado nessa história é você. Que fica cortando a si mesmo com facas afiadas, que fica colocando balas de sua própria testa, que fica jogando bombas em seu próprio corpo. Não posso nem dizer se foi sempre assim ou não, porque, como já disse, estou aqui há pouco tempo. Mas duvido que, no princípio, lá no início de tudo, você fosse tão dissimulado assim. Que fosse tão auto-centrado e que as coisas que mais valorizasse fossem aquelas que não precisava. Duvido muito. Mas assim é hoje e assim vai ser por muito tempo. Porque não é fácil mudar. Não mesmo. Toda mudança é gradual, é lenta e exige muito esforço. Esforço que, convenhamos, você não gosta e não tem a menor vontade de fazer. E o resultado disso? Continuará desse jeito que você é: alguém frustrado, perdido, procurando por algo a se agarrar. Criando novas ilusões, fabricando inauditas quimeras, sempre pra acreditar que está tudo bem. Não está. Há muito, muito mesmo pra melhorar. Só que enquanto não cair esse véu, comandado por ninguém menos que você mesmo, a letargia que hoje o domina vai continuar viva. Enquanto você continuar agindo como um inócuo hospedeiro, a inércia vai continuar agindo como uma parasita. Pense um pouco na sua vida cheia de hipocrisia, cheia de falsidade contra si mesmo e chegue, de uma vez por todas à única conclusão possível: se for para agir assim, você não merece estar aqui. Não merece tudo isso que tem. Não merece, principalmente, ter essa capacidade única de compreender tudo isso. Mas engano-me. Não compreende. Se compreendesse não teria se tornado quem você é hoje. É uma pena, mas é a mais pura verdade. E sabe o que mais dói? Saber que somos o mesmo.