Viagem Literária
Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.
About Me
- Name: Silvio Pilau
- Location: Porto Alegre, RS, Brazil
Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.
Thursday, August 31, 2006
Monday, August 28, 2006
Ameaça Hepática
Minha primeira lembrança é abrir a porta. Parado, com os dois pés sobre o tapete que dizia “Bem-vindo”, estava um fígado. Mesmo para um órgão do corpo humano, ele não tinha boa aparência, parecendo judiado pela vida. Era um pouco maior que eu e trazia uma das mãos escondida atrás de seu corpo gelatinoso.
- Em que posso ajudá-lo?
- Não me reconhece? – perguntou o fígado.
Olhei para ele cuidadosamente e respondi:
- Não, acho que não. Parece ser um fígado completamente acabado, mas acho que nunca vi você em toda a minha vida.
Meu convidado parado à porta pareceu soltar um suspiro desolado. Em seguida, olhou diretamente para os meus olhos. Eu jamais havia sido encarado por um fígado antes. Um leve tremor percorreu meu corpo.
- Tudo bem, eu já esperava isso – comentou o órgão. – Eu vim aqui para me vingar de todos os maus-tratos que já recebi. Vim aqui para matá-lo.
Fiquei sem saber o que fazer ou responder. Por alguns instantes, tanto eu quanto o fígado permanecemos na mesma posição. Lentamente, ele começou a mover sua mão escondida. Assim que enxerguei o reflexo da luz na faca que ele trazia, dei-me conta de que a ameaça era verdadeira. Ele queria me matar.
Rapidamente, fechei a porta. Mas o fígado jogou-se na minha direção, dando com o ombro (se é que um órgão do corpo humano tem ombro) na porta, derrubando-me e entrando na sala.
Encontrava-me estirado no chão, com um fígado de quase dois metros, cheio de raiva e com uma faca na mão, parado na minha frente.
- Por que você quer fazer isso comigo? – perguntei, desesperado.
- Por quê!? Por quê!? Você ainda tem a coragem de perguntar isso!? – exclamava o fígado, completamente alterado. Notei que tinha feito a pergunta errada. Ele prosseguiu: - Que tal anos e anos sem a menor preocupação comigo? Noites intermináveis regadas a cerveja, whisky e tudo o que tivesse álcool? Por que toda essa falta de consideração comigo?
- Mas eu...
- Cala a boca! Cala essa maldita boca! – ele gritava, segurando a faca a poucos centímetros de meu pescoço. Eu estava com medo. Ele respirou fundo e perguntou com calma: - Por que você nunca fumou?
Fiquei pasmo com a questão dele. Tentei disfarçar meu medo e respondi:
- Não sei, nunca tive vontade.
- Então! Seu filho de uma puta insensível. Por que o pulmão você sempre tratou bem? Por que cuidava do coração como poucos? Rim, pâncreas, tudo funcionando direitinho. Tudo com tratamento VIP. Mas não eu. Não o fígado. Pra mim, a menor bola. Pisando, chutando, maltratando todos os dias. Mas não hoje. Hoje é a minha vez.
Tive que concordar com o fígado parado diante de mim. Não podia culpá-lo por tomar esta atitude. Havia sido negligente com ele e, talvez, merecesse essa retaliação.
- Desculpe, você tem toda razão – tentei ser humilde e reconhecer meu erro.
Ele nada disse, mas não tinha mais o olhar de ódio. Continuei:
- Sei que não dei a você o melhor tratamento do mundo, mas...
- Ah, mas você é hipócrita mesmo. Não deu “o melhor tratamento do mundo”? Olha pra mim! Estou cheio de cicatrizes, de marcas. Você matou minhas células. Pareço ter o dobro da idade dos outros órgãos. Você acha que isso me faz sentir como? Em conversas como os outros, sou deixado de lado, tratado como pária. Como um excluído. Até o apêndice, que não serve pra nada, tem mais respeito que eu junto aos outros órgãos. Ah, como eu lhe odeio!
Tentei apelar para outro caminho.
- Você sabe que se tirar minha vida, estará tirando a sua também. É um suicídio.
- Claro que sei! Mas não quero mais viver. Não desse jeito. Não com você. E isso termina hoje.
Dito isso, o fígado veio para cima de mim. Tentou dar-me uma facada, mas desviei com agilidade. Pus-me em pé e saí correndo pela porta.
Olhei para trás, esperando que ele não aparecesse. Afinal, não é todo dia que se enxerga um fígado correndo pela rua, com uma lâmina na mão, com o objetivo de tirar a vida de seu hospedeiro.
Atravessei a rua, escapando de ser atropelado por dois carros. Não olhava para trás. Corria com todas as minhas forças, apenas ouvindo o fígado esbravejar:
- Volte, seu desgraçado! Vai aprender a me respeitar!
Não sabia a que distância estava dele. Corria pela calçada, desviando das pessoas. Tinha a consciência de que não poderia ficar ali por muito tempo. Teria que achar outro caminho. Virei para a direita, abri a porta do primeiro estabelecimento e entrei.
Era um bar no estilo de um pub irlandês. Nas mesas, no balcão e até em pé, pessoas bebendo cerveja e chopp. Percebi que tinha feito algo errado, mas agora era tarde. Precisava me esconder.
Corri para uma mesa no canto mais escuro do local. Neste momento, ouvi a porta se abrir e uma exclamação de espanto percorrer o pub. O fígado entrara.
Sua primeira reação foi de pânico. Olhava em volta de si e enxergava as pessoas bebendo com prazer, deliciando a cevada. Todos, sem exceção, destruindo seus fígados.
O fígado que me perseguia indignou-se:
- Seus assassinos! Sádicos! Psicopatas! Vou matar cada um de vocês! Arrancarei as unhas dos pés e das mãos de seus filhos – esbravejava, apontando a faca para os freqüentadores do local.
Logo em seguida, a expressão da sua face mudou completamente. O fígado entristeceu-se e caiu de joelhos no chão. Para a surpresa de todos, começou a chorar.
Foi uma cena tocante. Jamais havia visto um órgão do corpo humano derramar lágrimas, exceto as próprias glândulas lacrimais. Compungido, ergui-me do meu pretenso esconderijo e me dirigi ao fígado chorão.
- Calma, não fique assim – disse a ele, em tom alentador.
Ele olhou para o meu rosto e falou:
- Não entendo o que eu fiz pra merecer isso. Não entendo.
Sentindo-me culpado por deixá-lo daquele jeito, cheguei mais perto para oferecer consolo. Ajoelhei-me no chão e envolvi o fígado em um abraço.
Neste exato instante, senti uma dor aguda na barriga. Afastei-me e vi o fígado segurando uma faca cheia de sangue.
Ele conseguira me esfaquear. Fui ingênuo demais, caindo em sua armadilha. Antes de apagar, percebi uma risadinha no canto de sua boca, enquanto o órgão me dizia:
- Você pediu por isso.
Acordei tremendo e com suor em todo o corpo. Não lembrava do sonho, que só voltaria à minha mente, de forma nítida, horas mais tarde. Não consegui dormir novamente.
- Em que posso ajudá-lo?
- Não me reconhece? – perguntou o fígado.
Olhei para ele cuidadosamente e respondi:
- Não, acho que não. Parece ser um fígado completamente acabado, mas acho que nunca vi você em toda a minha vida.
Meu convidado parado à porta pareceu soltar um suspiro desolado. Em seguida, olhou diretamente para os meus olhos. Eu jamais havia sido encarado por um fígado antes. Um leve tremor percorreu meu corpo.
- Tudo bem, eu já esperava isso – comentou o órgão. – Eu vim aqui para me vingar de todos os maus-tratos que já recebi. Vim aqui para matá-lo.
Fiquei sem saber o que fazer ou responder. Por alguns instantes, tanto eu quanto o fígado permanecemos na mesma posição. Lentamente, ele começou a mover sua mão escondida. Assim que enxerguei o reflexo da luz na faca que ele trazia, dei-me conta de que a ameaça era verdadeira. Ele queria me matar.
Rapidamente, fechei a porta. Mas o fígado jogou-se na minha direção, dando com o ombro (se é que um órgão do corpo humano tem ombro) na porta, derrubando-me e entrando na sala.
Encontrava-me estirado no chão, com um fígado de quase dois metros, cheio de raiva e com uma faca na mão, parado na minha frente.
- Por que você quer fazer isso comigo? – perguntei, desesperado.
- Por quê!? Por quê!? Você ainda tem a coragem de perguntar isso!? – exclamava o fígado, completamente alterado. Notei que tinha feito a pergunta errada. Ele prosseguiu: - Que tal anos e anos sem a menor preocupação comigo? Noites intermináveis regadas a cerveja, whisky e tudo o que tivesse álcool? Por que toda essa falta de consideração comigo?
- Mas eu...
- Cala a boca! Cala essa maldita boca! – ele gritava, segurando a faca a poucos centímetros de meu pescoço. Eu estava com medo. Ele respirou fundo e perguntou com calma: - Por que você nunca fumou?
Fiquei pasmo com a questão dele. Tentei disfarçar meu medo e respondi:
- Não sei, nunca tive vontade.
- Então! Seu filho de uma puta insensível. Por que o pulmão você sempre tratou bem? Por que cuidava do coração como poucos? Rim, pâncreas, tudo funcionando direitinho. Tudo com tratamento VIP. Mas não eu. Não o fígado. Pra mim, a menor bola. Pisando, chutando, maltratando todos os dias. Mas não hoje. Hoje é a minha vez.
Tive que concordar com o fígado parado diante de mim. Não podia culpá-lo por tomar esta atitude. Havia sido negligente com ele e, talvez, merecesse essa retaliação.
- Desculpe, você tem toda razão – tentei ser humilde e reconhecer meu erro.
Ele nada disse, mas não tinha mais o olhar de ódio. Continuei:
- Sei que não dei a você o melhor tratamento do mundo, mas...
- Ah, mas você é hipócrita mesmo. Não deu “o melhor tratamento do mundo”? Olha pra mim! Estou cheio de cicatrizes, de marcas. Você matou minhas células. Pareço ter o dobro da idade dos outros órgãos. Você acha que isso me faz sentir como? Em conversas como os outros, sou deixado de lado, tratado como pária. Como um excluído. Até o apêndice, que não serve pra nada, tem mais respeito que eu junto aos outros órgãos. Ah, como eu lhe odeio!
Tentei apelar para outro caminho.
- Você sabe que se tirar minha vida, estará tirando a sua também. É um suicídio.
- Claro que sei! Mas não quero mais viver. Não desse jeito. Não com você. E isso termina hoje.
Dito isso, o fígado veio para cima de mim. Tentou dar-me uma facada, mas desviei com agilidade. Pus-me em pé e saí correndo pela porta.
Olhei para trás, esperando que ele não aparecesse. Afinal, não é todo dia que se enxerga um fígado correndo pela rua, com uma lâmina na mão, com o objetivo de tirar a vida de seu hospedeiro.
Atravessei a rua, escapando de ser atropelado por dois carros. Não olhava para trás. Corria com todas as minhas forças, apenas ouvindo o fígado esbravejar:
- Volte, seu desgraçado! Vai aprender a me respeitar!
Não sabia a que distância estava dele. Corria pela calçada, desviando das pessoas. Tinha a consciência de que não poderia ficar ali por muito tempo. Teria que achar outro caminho. Virei para a direita, abri a porta do primeiro estabelecimento e entrei.
Era um bar no estilo de um pub irlandês. Nas mesas, no balcão e até em pé, pessoas bebendo cerveja e chopp. Percebi que tinha feito algo errado, mas agora era tarde. Precisava me esconder.
Corri para uma mesa no canto mais escuro do local. Neste momento, ouvi a porta se abrir e uma exclamação de espanto percorrer o pub. O fígado entrara.
Sua primeira reação foi de pânico. Olhava em volta de si e enxergava as pessoas bebendo com prazer, deliciando a cevada. Todos, sem exceção, destruindo seus fígados.
O fígado que me perseguia indignou-se:
- Seus assassinos! Sádicos! Psicopatas! Vou matar cada um de vocês! Arrancarei as unhas dos pés e das mãos de seus filhos – esbravejava, apontando a faca para os freqüentadores do local.
Logo em seguida, a expressão da sua face mudou completamente. O fígado entristeceu-se e caiu de joelhos no chão. Para a surpresa de todos, começou a chorar.
Foi uma cena tocante. Jamais havia visto um órgão do corpo humano derramar lágrimas, exceto as próprias glândulas lacrimais. Compungido, ergui-me do meu pretenso esconderijo e me dirigi ao fígado chorão.
- Calma, não fique assim – disse a ele, em tom alentador.
Ele olhou para o meu rosto e falou:
- Não entendo o que eu fiz pra merecer isso. Não entendo.
Sentindo-me culpado por deixá-lo daquele jeito, cheguei mais perto para oferecer consolo. Ajoelhei-me no chão e envolvi o fígado em um abraço.
Neste exato instante, senti uma dor aguda na barriga. Afastei-me e vi o fígado segurando uma faca cheia de sangue.
Ele conseguira me esfaquear. Fui ingênuo demais, caindo em sua armadilha. Antes de apagar, percebi uma risadinha no canto de sua boca, enquanto o órgão me dizia:
- Você pediu por isso.
Acordei tremendo e com suor em todo o corpo. Não lembrava do sonho, que só voltaria à minha mente, de forma nítida, horas mais tarde. Não consegui dormir novamente.
Fui até a cozinha, abri a geladeira e peguei uma Bohemia bem gelada.
Tuesday, August 22, 2006
Filmes de julho
DIZEM POR AÍ (RUMOR HAS IT...) – EUA, 2005 **1/2
De Rob Reiner. Com Jennifer Aniston, Kevin Costner, Shirley MacLaine, Mark Ruffalo, Richard Jenkins e Mena Suvari.
Dizem por Aí... é mais uma prova de que Rob Reiner não é mais o mesmo. Apesar do interessante ponto de partida, o diretor falha ao desenvolver a história, criando uma comédia de esporádicos bons momentos perdidos em meio a um desperdício de talento. Sobra espaço para o elenco se destacar, em especial MacLaine e Costner.
SOLDADO ANÔNIMO (JARHEAD) – EUA/Alemanha, 2005 ***1/2
De Sam Mendes. Com Jake Gyllenhaal, Scott MacDonald, Peter Sarsgaard, Jamie Foxx e Chris Cooper.
O diretor de Beleza Americana oferece uma abordagem diferenciada da guerra neste competente filme. Ao invés de focar na violência e na devastação psicológica dos soldados, a trama gira em torno do tédio dos combatentes durante a Guerra do Golfo. Esta escolha, porém, revela-se uma faca de dois gumes, uma vez que o próprio filme acaba se tornando arrastado e tedioso. Mas Mendes é um diretor talentoso e cria ótimas cenas, além de contar com um elenco em grande forma.
O CÓDIGO DA VINCI (THE DA VINCI CODE) – EUA, 2006 ****
De Ron Howard. Com Tom Hanks, Audrey Tatou, Jean Reno, Paul Bettany, Alfred Molina e Ian McKellen.
Execrado por críticos em todo o mundo, O Código Da Vinci é altamente eficaz em sua proposta de ser nada mais do que um entretenimento. Visto dessa forma (deixando de lado toda a polêmica), a adaptação do best-seller de Dan Brown funciona de forma exemplar, com um roteiro repleto de mistério e surpresas que jamais perde a atenção do espectador. Se a construção dos personagens é rasa, o ótimo elenco supera esse problema, criando uma identificação, ainda que mínima, com a platéia. Está longe de ser uma grande obra, mas O Código da Vinci é uma bela diversão.
POSEIDON – EUA, 2006 **1/2
De Wolfgang Petersen. Com Kurt Russell, Josh Lucas, Richard Dreyfuss, Jacinda Barrett e Emmy Rossum.
Refilmagem completamente dispensável de um dos grandes clássicos do cinema de ação. Embora Petersen seja competente ao criar cenas tensas e tecnicamente impecáveis, a trama é rasa demais e sem a menor ambição. O elenco carismático ainda faz o possível, mas Poseidon é um daqueles filmes que, ainda que não machuque, esquece-se assim que as luzes do cinema são acesas.
FORA DE RUMO (DERAILED) – EUA, 2005 **
De Mike Hafstrom. Com Clive Owen, Jennifer Aniston, Vincent Cassel e Melissa George.
Pouca coisa se salva nessa produção sem graça. Não há nada de condenável na realização de Hafstrom, mas Fora de Rumo jamais passa do mediano. A história demora para andar e, quando anda, não oferece nada de novo ao espectador. Além disso, a direção é inconstante, intercalando bons momentos com outros completamente perdidos, e a reviravolta final é inverossímil ao extremo. Sobra a presença sempre marcante de Owen e a boa interpretação de Cassel como o vilão.
VEM DANÇAR (TAKE THE LEAD) – EUA, 2006 ***
De Liz Friedlander. Com Antonio Banderas, Rob Brown, Alfre Woodard e Dante Basco.
Vem Dançar é um acúmulo de clichês. Qualquer pessoa que já assistiu algum filme na vida pode adivinhar o que irá acontecer no próximo minuto. Mas a diretora Friedlander consegue transformar toda essa obviedade em um divertimento agradabilíssimo, apoiando-se na identificação da platéia com os personagens, o grande trunfo da obra. Banderas está bem e há momentos inspirados de dança, como o tango do professor com a loira e a apresentação final.
GOL! (GOAL! THE DREAM BEGINS) – EUA, 2005 ***
De Danny Cannon. Com Kuno Becker, Alessandro Nivola, Anna Friel e Stephen Dillane.
Assim como o filme acima, Gol! Também segue uma estrutura previsível, mas que não prejudica a apreciação da obra. Propondo-se a ser o melhor filme já realizado sobre futebol, Gol! pode até ser bem-sucedido nessa missão, mas apenas pela falta de outras opções. A participação de craques europeus traz credibilidade, assim como as cenas no estádio do Newcastle United, mas a recriação do jogo ainda soa artificial e a história é comum. Bom, mas deixa o espectador torcendo para que o próximo filme (será uma trilogia) corrija as falhas.
A PASSAGEM (STAY) – EUA, 2005 ****1/2
De Marc Forster. Com Ewan McGregor, Ryan Gosling, Naomi Watts, Bob Hoskins e Jeneane Garofalo.
Realização fascinante do mesmo diretor de Em Busca da Terra do Nunca, A Passagem é um intrincado quebra-cabeças ao melhor estilo David Lynch. Com uma narrativa que permeia o fantasioso e o surreal, Forster concebe um filme hipnótico, que constantemente desafia o espectador. Os recursos técnicos elaborados pelo cineasta são outro destaque da obra, dando o tom preciso de sonho, realidade e mistério, requisitos para a trama funcionar. Gosling está perfeito no papel e o roteiro ainda encontra uma explicação satisfatória para todo o mistério. Um filme instigante, inteligente e visualmente arrebatador.
CIDADE BAIXA – Brasil, 2005 ***
De Sérgio Machado. Com Wagner Moura, Lázaro Ramos, Alice Braga e José Dumont.
Produção nacional que vem a somar às boas realizações de nossos cineastas. O filme de Sérgio Machado é hábil ao mostrar o lado não-glamourizado de Salvador, de forma crua e real. Ainda assim, o elenco é o grande destaque, com a excelente dinâmica entre Ramos e Moura e a forte presença de Alice Braga, construindo personagens tridimensionais. Há problemas de ritmo, situações desnecessárias e uma conclusão que deixa a desejar, mas Cidade Baixa conta com qualidades suficientes para merecer uma espiada.
O OPERÁRIO (THE MACHINIST) – Espanha, 2004 ****
De Brad Anderson. Com Christian Bale, Jennifer Jason Leigh, Michael Ironside e John Sharian.
A estarrecedora dedicação de Christian Bale ao papel principal de O Operário é a grande atração do filme. Além de ter perdido 30 quilos, o ator transmite com assustadora precisão a paranóia de seu personagem, levando o espectador a uma espiral descente de terror. A segura direção de Anderson colabora para o clima perfeito de incômodo e o roteiro se desenvolve de forma satisfatória, montando esta fascinante e perturbadora viagem psicológica.
CAIU DO CÉU (MILLIONS) – Inglaterra, 2004 **1/2
De Danny Boyle. Com Alexander Nathan Ethel, Lewis McGibbon, James Nesbitt e Daisy Donovan.
Filme bastante irregular de Boyle, desperdiçando a chance de realizar uma bela e emocionante fábula. O cineasta peca pelo excesso, com truques visuais desnecessários à trama principal. Além disso, a história ainda segue por caminhos estranhos, com os personagens tomando atitudes inexplicáveis. No entanto, há boas idéias (como as conversas com os santos) e as crianças que interpretam os papéis principais são excelentes.
PIRATAS DO CARIBE 2: O BAÚ DA MORTE (PIRATES OF THE CARIBBEAN: DEAD MAN’S CHEST) – EUA, 2006 ***
De Gore Verbinski. Com Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Bill Nighy, Jack Davenport e Jonathan Pryce.
Quem gostou do filme original certamente ficará satisfeito com esta seqüência. Trazendo os mesmos ingredientes que fizeram do antecessor um sucesso, Piratas do Caribe 2 é uma diversão descompromissada, com cenas de ação empolgantes, visual bacana e momentos engraçados. O maior destaque continua Jack Sparrow, na afetada e genial composição de Johnny Depp. Há diversos problemas, como a absurda duração de duas horas e meia e a inexpressividade de Bloom, mas quem busca por uma boa aventura não irá reclamar.
UM LUGAR PARA RECOMEÇAR (AN UNFINISHED LIFE) – EUA/Alemanha, 2005 ****
De Lasse Hallstrom. Com Robert Redford, Jennifer Lopez, Morgan Freeman, Josh Lucas e Becca Gardner.
Um Lugar para Recomeçar tem a cara de seu diretor. Bastante intimista, a história não traz surpresas ou reviravoltas de enredo, focando na construção dos personagens e na relação entre estes. Funciona, graças aos bons diálogos, à direção comedida e, principalmente, ao elenco. Redford e Freeman estão geniais, assim como a pequena Gardner. Pena que Lopez, ainda que não se saia mal, deixe a desejar perto de seus colegas. Uma singela e bela obra.
FIREWALL – SEGURANÇA EM RISCO (FIREWALL) – EUA, 2006 **
De Richard Loncraine. Com Harrison Ford, Paul Bettany, Virginia Madsen, Alan Arkin, Robert Patrick, Mary Lynn Rajskub e Robert Forster.
Filme sem a menor graça ou inspiração, daqueles perfeitos para um Supercine da Rede Globo. A história não tem nada de original e jamais prende a atenção, tanto pela fraca direção de Loncraine quanto pelo roteiro, que arma o plano de roubo menos empolgante da história do cinema. Além disso, os personagens não possuem a menor profundidade e tomam atitudes estúpidas ao longo da obra. O que sobra é a interpretação competente de Harrison Ford, que ainda surpreende nas cenas de ação, mostrando fôlego para o próximo Indiana Jones.
De Rob Reiner. Com Jennifer Aniston, Kevin Costner, Shirley MacLaine, Mark Ruffalo, Richard Jenkins e Mena Suvari.
Dizem por Aí... é mais uma prova de que Rob Reiner não é mais o mesmo. Apesar do interessante ponto de partida, o diretor falha ao desenvolver a história, criando uma comédia de esporádicos bons momentos perdidos em meio a um desperdício de talento. Sobra espaço para o elenco se destacar, em especial MacLaine e Costner.
SOLDADO ANÔNIMO (JARHEAD) – EUA/Alemanha, 2005 ***1/2
De Sam Mendes. Com Jake Gyllenhaal, Scott MacDonald, Peter Sarsgaard, Jamie Foxx e Chris Cooper.
O diretor de Beleza Americana oferece uma abordagem diferenciada da guerra neste competente filme. Ao invés de focar na violência e na devastação psicológica dos soldados, a trama gira em torno do tédio dos combatentes durante a Guerra do Golfo. Esta escolha, porém, revela-se uma faca de dois gumes, uma vez que o próprio filme acaba se tornando arrastado e tedioso. Mas Mendes é um diretor talentoso e cria ótimas cenas, além de contar com um elenco em grande forma.
O CÓDIGO DA VINCI (THE DA VINCI CODE) – EUA, 2006 ****
De Ron Howard. Com Tom Hanks, Audrey Tatou, Jean Reno, Paul Bettany, Alfred Molina e Ian McKellen.
Execrado por críticos em todo o mundo, O Código Da Vinci é altamente eficaz em sua proposta de ser nada mais do que um entretenimento. Visto dessa forma (deixando de lado toda a polêmica), a adaptação do best-seller de Dan Brown funciona de forma exemplar, com um roteiro repleto de mistério e surpresas que jamais perde a atenção do espectador. Se a construção dos personagens é rasa, o ótimo elenco supera esse problema, criando uma identificação, ainda que mínima, com a platéia. Está longe de ser uma grande obra, mas O Código da Vinci é uma bela diversão.
POSEIDON – EUA, 2006 **1/2
De Wolfgang Petersen. Com Kurt Russell, Josh Lucas, Richard Dreyfuss, Jacinda Barrett e Emmy Rossum.
Refilmagem completamente dispensável de um dos grandes clássicos do cinema de ação. Embora Petersen seja competente ao criar cenas tensas e tecnicamente impecáveis, a trama é rasa demais e sem a menor ambição. O elenco carismático ainda faz o possível, mas Poseidon é um daqueles filmes que, ainda que não machuque, esquece-se assim que as luzes do cinema são acesas.
FORA DE RUMO (DERAILED) – EUA, 2005 **
De Mike Hafstrom. Com Clive Owen, Jennifer Aniston, Vincent Cassel e Melissa George.
Pouca coisa se salva nessa produção sem graça. Não há nada de condenável na realização de Hafstrom, mas Fora de Rumo jamais passa do mediano. A história demora para andar e, quando anda, não oferece nada de novo ao espectador. Além disso, a direção é inconstante, intercalando bons momentos com outros completamente perdidos, e a reviravolta final é inverossímil ao extremo. Sobra a presença sempre marcante de Owen e a boa interpretação de Cassel como o vilão.
VEM DANÇAR (TAKE THE LEAD) – EUA, 2006 ***
De Liz Friedlander. Com Antonio Banderas, Rob Brown, Alfre Woodard e Dante Basco.
Vem Dançar é um acúmulo de clichês. Qualquer pessoa que já assistiu algum filme na vida pode adivinhar o que irá acontecer no próximo minuto. Mas a diretora Friedlander consegue transformar toda essa obviedade em um divertimento agradabilíssimo, apoiando-se na identificação da platéia com os personagens, o grande trunfo da obra. Banderas está bem e há momentos inspirados de dança, como o tango do professor com a loira e a apresentação final.
GOL! (GOAL! THE DREAM BEGINS) – EUA, 2005 ***
De Danny Cannon. Com Kuno Becker, Alessandro Nivola, Anna Friel e Stephen Dillane.
Assim como o filme acima, Gol! Também segue uma estrutura previsível, mas que não prejudica a apreciação da obra. Propondo-se a ser o melhor filme já realizado sobre futebol, Gol! pode até ser bem-sucedido nessa missão, mas apenas pela falta de outras opções. A participação de craques europeus traz credibilidade, assim como as cenas no estádio do Newcastle United, mas a recriação do jogo ainda soa artificial e a história é comum. Bom, mas deixa o espectador torcendo para que o próximo filme (será uma trilogia) corrija as falhas.
A PASSAGEM (STAY) – EUA, 2005 ****1/2
De Marc Forster. Com Ewan McGregor, Ryan Gosling, Naomi Watts, Bob Hoskins e Jeneane Garofalo.
Realização fascinante do mesmo diretor de Em Busca da Terra do Nunca, A Passagem é um intrincado quebra-cabeças ao melhor estilo David Lynch. Com uma narrativa que permeia o fantasioso e o surreal, Forster concebe um filme hipnótico, que constantemente desafia o espectador. Os recursos técnicos elaborados pelo cineasta são outro destaque da obra, dando o tom preciso de sonho, realidade e mistério, requisitos para a trama funcionar. Gosling está perfeito no papel e o roteiro ainda encontra uma explicação satisfatória para todo o mistério. Um filme instigante, inteligente e visualmente arrebatador.
CIDADE BAIXA – Brasil, 2005 ***
De Sérgio Machado. Com Wagner Moura, Lázaro Ramos, Alice Braga e José Dumont.
Produção nacional que vem a somar às boas realizações de nossos cineastas. O filme de Sérgio Machado é hábil ao mostrar o lado não-glamourizado de Salvador, de forma crua e real. Ainda assim, o elenco é o grande destaque, com a excelente dinâmica entre Ramos e Moura e a forte presença de Alice Braga, construindo personagens tridimensionais. Há problemas de ritmo, situações desnecessárias e uma conclusão que deixa a desejar, mas Cidade Baixa conta com qualidades suficientes para merecer uma espiada.
O OPERÁRIO (THE MACHINIST) – Espanha, 2004 ****
De Brad Anderson. Com Christian Bale, Jennifer Jason Leigh, Michael Ironside e John Sharian.
A estarrecedora dedicação de Christian Bale ao papel principal de O Operário é a grande atração do filme. Além de ter perdido 30 quilos, o ator transmite com assustadora precisão a paranóia de seu personagem, levando o espectador a uma espiral descente de terror. A segura direção de Anderson colabora para o clima perfeito de incômodo e o roteiro se desenvolve de forma satisfatória, montando esta fascinante e perturbadora viagem psicológica.
CAIU DO CÉU (MILLIONS) – Inglaterra, 2004 **1/2
De Danny Boyle. Com Alexander Nathan Ethel, Lewis McGibbon, James Nesbitt e Daisy Donovan.
Filme bastante irregular de Boyle, desperdiçando a chance de realizar uma bela e emocionante fábula. O cineasta peca pelo excesso, com truques visuais desnecessários à trama principal. Além disso, a história ainda segue por caminhos estranhos, com os personagens tomando atitudes inexplicáveis. No entanto, há boas idéias (como as conversas com os santos) e as crianças que interpretam os papéis principais são excelentes.
PIRATAS DO CARIBE 2: O BAÚ DA MORTE (PIRATES OF THE CARIBBEAN: DEAD MAN’S CHEST) – EUA, 2006 ***
De Gore Verbinski. Com Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Bill Nighy, Jack Davenport e Jonathan Pryce.
Quem gostou do filme original certamente ficará satisfeito com esta seqüência. Trazendo os mesmos ingredientes que fizeram do antecessor um sucesso, Piratas do Caribe 2 é uma diversão descompromissada, com cenas de ação empolgantes, visual bacana e momentos engraçados. O maior destaque continua Jack Sparrow, na afetada e genial composição de Johnny Depp. Há diversos problemas, como a absurda duração de duas horas e meia e a inexpressividade de Bloom, mas quem busca por uma boa aventura não irá reclamar.
UM LUGAR PARA RECOMEÇAR (AN UNFINISHED LIFE) – EUA/Alemanha, 2005 ****
De Lasse Hallstrom. Com Robert Redford, Jennifer Lopez, Morgan Freeman, Josh Lucas e Becca Gardner.
Um Lugar para Recomeçar tem a cara de seu diretor. Bastante intimista, a história não traz surpresas ou reviravoltas de enredo, focando na construção dos personagens e na relação entre estes. Funciona, graças aos bons diálogos, à direção comedida e, principalmente, ao elenco. Redford e Freeman estão geniais, assim como a pequena Gardner. Pena que Lopez, ainda que não se saia mal, deixe a desejar perto de seus colegas. Uma singela e bela obra.
FIREWALL – SEGURANÇA EM RISCO (FIREWALL) – EUA, 2006 **
De Richard Loncraine. Com Harrison Ford, Paul Bettany, Virginia Madsen, Alan Arkin, Robert Patrick, Mary Lynn Rajskub e Robert Forster.
Filme sem a menor graça ou inspiração, daqueles perfeitos para um Supercine da Rede Globo. A história não tem nada de original e jamais prende a atenção, tanto pela fraca direção de Loncraine quanto pelo roteiro, que arma o plano de roubo menos empolgante da história do cinema. Além disso, os personagens não possuem a menor profundidade e tomam atitudes estúpidas ao longo da obra. O que sobra é a interpretação competente de Harrison Ford, que ainda surpreende nas cenas de ação, mostrando fôlego para o próximo Indiana Jones.
Saturday, August 19, 2006
Friday, August 18, 2006
Segundo
Venho aqui como amigo
Em uma atitude de irmão
Ouça as palavras que digo
Pois elas não se repetirão
Celebre, irmão, esse momento
Ponha orgulho em teu peito
Expresse todo teu sentimento
Grite e vibre ao seu jeito
Pois hoje, como bom gremista
Venho dar-lhe os parabéns
Grandiosa, eterna conquista
Esta que agora também tens
Foram anos, uma longa espera
De títulos passaste fome
Provaste que o sonho não era quimera
E hoje justifica teu nome
Como é finalmente a luz encontrar
Depois de vida na sombra do rival?
Como é a sensação de levar
Teus seguidores a algo real?
Irmão, este não é um título qualquer
És, agora, o dono da América
Descobriste a beleza de torcer
Para celebrar conquista feérica
Mas há algo que esqueces
Estranho, pois deverias saber de cor
Se o momento te favoreces
Nem de longe és o maior
Admito, mesmo que com pesar
Tua vitória de tirar o chapéu
Não queiras, porém, comparar
A grandeza de nossos troféus
Não pretendo diminuir a tua vitória
Ou teu séquito que invadiu as ruas
Só que igual a tua maior glória
Eu, meu amigo, já tenho duas
Comemoro teu título, de verdade
Com toda minha ternura
Pelo menos agora em minha cidade
Tenho um rival quase à altura
Ênfase no quase, pois ainda lhe falta
Muito daquilo que tenho em mãos
Seja a conquista, dentre todas, mais alta
Seja o respeito dos cidadãos
Então comemora, tu mereces
Mas flauta, amigo, não é o caminho
Pois aos teus pouco destes
Se comparado ao teu vizinho
Assim, contente-se em ser rival
De quem, certa vez, já teve o mundo
Aceite, querido Internacional:
Nesta terra, serás sempre o segundo.
Em uma atitude de irmão
Ouça as palavras que digo
Pois elas não se repetirão
Celebre, irmão, esse momento
Ponha orgulho em teu peito
Expresse todo teu sentimento
Grite e vibre ao seu jeito
Pois hoje, como bom gremista
Venho dar-lhe os parabéns
Grandiosa, eterna conquista
Esta que agora também tens
Foram anos, uma longa espera
De títulos passaste fome
Provaste que o sonho não era quimera
E hoje justifica teu nome
Como é finalmente a luz encontrar
Depois de vida na sombra do rival?
Como é a sensação de levar
Teus seguidores a algo real?
Irmão, este não é um título qualquer
És, agora, o dono da América
Descobriste a beleza de torcer
Para celebrar conquista feérica
Mas há algo que esqueces
Estranho, pois deverias saber de cor
Se o momento te favoreces
Nem de longe és o maior
Admito, mesmo que com pesar
Tua vitória de tirar o chapéu
Não queiras, porém, comparar
A grandeza de nossos troféus
Não pretendo diminuir a tua vitória
Ou teu séquito que invadiu as ruas
Só que igual a tua maior glória
Eu, meu amigo, já tenho duas
Comemoro teu título, de verdade
Com toda minha ternura
Pelo menos agora em minha cidade
Tenho um rival quase à altura
Ênfase no quase, pois ainda lhe falta
Muito daquilo que tenho em mãos
Seja a conquista, dentre todas, mais alta
Seja o respeito dos cidadãos
Então comemora, tu mereces
Mas flauta, amigo, não é o caminho
Pois aos teus pouco destes
Se comparado ao teu vizinho
Assim, contente-se em ser rival
De quem, certa vez, já teve o mundo
Aceite, querido Internacional:
Nesta terra, serás sempre o segundo.
Tuesday, August 15, 2006
The Gorkian Revolution
I can’t say precisely why, but somehow I felt, down in my guts, that my husband had been abducted by aliens. Where they were from and where they took him, I really didn’t know by then. The fact is: he was missing for about one night, claiming to be hanging out with some friends. When returned, he wasn’t the same. Ok, physically, maybe still the same. The same face, the same long and pointed nose, the same proheminent belly. But there was something weird about the way he began to act.
Now, let me get this straight. I’ve never been taken to the space on a tour by creatures from another planet, so I can’t say what Oscar - my husband - could’ve learned from his travel with the martians (or gorkians, as I would learn later). However, he was a different person. And that’s not open for discussions.
How do I know that? Ok, first things first. Oscar wasn’t a role model of a husband, I admit that. He wasn’t the kind of guy who used to bring roses to the wife or declare poems on a warm night under the shining moon. Yes, I know that there isn’t a single husband in the entire world who does such things, but I’m just saying it to ilustrate that Oscar was a normal man when concerning me. Not the symbol of romance, but at least a husband that was there when I needed.
Plus, Oscar was a nerd. Yes, a geek. Big, thick eyeglasses, not much hair on the top of his head and, as I said, the belly of a six month pregnant girl. After this description, you can pretty much guess that he didn’t use to flert with a lot of woman or to do crazy stuff in his life. Basically, his life was work, home and, ocasionally, some drinks with his friends.
And was one of those rare nights with his friends that changed him. Suddenly, with no apparent reason, he started to live life at its full. Oscar wanted to do everything he could, as if his time on this planet was running short. He bought a red bicycle to use every morning, tried unusual meals - like octopus and vegetables - and began to ask questions about everything, like a little child.
- What does this thing do? – he asked, pointing his finger at a television.
One one night, I woke up without him by my side. Oscar used to sleep more than ten hours a day when he was a person, so I knew that something was not right. I started to look for him in the house, when I heard something weird. Slowly, I went towards the source of the sound. It was coming from the bathroom downstairs.
I put my ear on the door to better listen and noticed that was Oscar’s voice speaking in a language I couldn’t understand. I knocked.
- Oscar, are you OK in there?
He spoke a few more words in the alien’s language and opened the door.
- Yes, honey, what’s wrong?
- Who were you talking to, Oscar?
- Nobody. I was just pushing real hard. Number two sometimes requires an extra effort.
- Ok.
He was lying, but what could I do? I knew it would got worst, and it did. First, he started to make new friends, and, as you probably know by now, that kind of action wasn’t in his personality. Then Oscar began to get together with this friends almost everyday. I got a little scared. What would you do if the martians were taking the planet and your husband was their leader?
I had to support him. Of course. To make it short, I am know the first-lady of the entire planet. The once nerd Oscar is know the leader of the Gorkian Republic on Earth. Being brazilian, I had to learn english – according to Oscar, the universal language – and became the official writer of the gorkian revolution on our planet.
Now, let me get this straight. I’ve never been taken to the space on a tour by creatures from another planet, so I can’t say what Oscar - my husband - could’ve learned from his travel with the martians (or gorkians, as I would learn later). However, he was a different person. And that’s not open for discussions.
How do I know that? Ok, first things first. Oscar wasn’t a role model of a husband, I admit that. He wasn’t the kind of guy who used to bring roses to the wife or declare poems on a warm night under the shining moon. Yes, I know that there isn’t a single husband in the entire world who does such things, but I’m just saying it to ilustrate that Oscar was a normal man when concerning me. Not the symbol of romance, but at least a husband that was there when I needed.
Plus, Oscar was a nerd. Yes, a geek. Big, thick eyeglasses, not much hair on the top of his head and, as I said, the belly of a six month pregnant girl. After this description, you can pretty much guess that he didn’t use to flert with a lot of woman or to do crazy stuff in his life. Basically, his life was work, home and, ocasionally, some drinks with his friends.
And was one of those rare nights with his friends that changed him. Suddenly, with no apparent reason, he started to live life at its full. Oscar wanted to do everything he could, as if his time on this planet was running short. He bought a red bicycle to use every morning, tried unusual meals - like octopus and vegetables - and began to ask questions about everything, like a little child.
- What does this thing do? – he asked, pointing his finger at a television.
One one night, I woke up without him by my side. Oscar used to sleep more than ten hours a day when he was a person, so I knew that something was not right. I started to look for him in the house, when I heard something weird. Slowly, I went towards the source of the sound. It was coming from the bathroom downstairs.
I put my ear on the door to better listen and noticed that was Oscar’s voice speaking in a language I couldn’t understand. I knocked.
- Oscar, are you OK in there?
He spoke a few more words in the alien’s language and opened the door.
- Yes, honey, what’s wrong?
- Who were you talking to, Oscar?
- Nobody. I was just pushing real hard. Number two sometimes requires an extra effort.
- Ok.
He was lying, but what could I do? I knew it would got worst, and it did. First, he started to make new friends, and, as you probably know by now, that kind of action wasn’t in his personality. Then Oscar began to get together with this friends almost everyday. I got a little scared. What would you do if the martians were taking the planet and your husband was their leader?
I had to support him. Of course. To make it short, I am know the first-lady of the entire planet. The once nerd Oscar is know the leader of the Gorkian Republic on Earth. Being brazilian, I had to learn english – according to Oscar, the universal language – and became the official writer of the gorkian revolution on our planet.
I admit it’s nice to have the entire world at your service. But sometimes I just wanto to go home. Or even make something different. Like going to Gorky to meet my in-laws.
Friday, August 11, 2006
Monday, August 07, 2006
Filmes de junho
Eis a lista dos filmes que vi em junho, com os respectivos comentários.
BEIJOS E TIROS (KISS KISS BANG BANG) – EUA, 2005 ****1/2
De Shane Black. Com Robert Downey Jr., Val Kilmer, Michelle Monaghan e Corbin Bernsen.
Shane Black surpreende no seu primeiro trabalho de direção nesta inspirada história. Misturando film noir, comédia e impagáveis sátiras ao próprio cinema, Black cria uma trama divertidíssima, sustentada por alguns dos melhores diálogos dos últimos anos. Downey Jr. e Kilmer se divertem à beça nos papéis, neste filme que tem tudo para se tornar cult.
A NOIVA-CADÁVER (THE CORPSE BRIDE) – EUA, 2005 ****
De Tim Burton e Mike Johnson. Com as vozes de Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Emily Watson, Albert Finney e Christopher Lee.
Produção com o toque mágico e inconfundível de Tim Burton. Repleta de humor negro, personagens adoráveis e belíssimos momentos, A Noiva-Cadáver é uma animação de alta qualidade, voltada para os adultos. O roteiro é interessante, usando e abusando de divertidos trocadilhos relacionados ao tom fúnebre, mas é inegável que a grande atração do filme é seu visual magnífico – a composição dos personagens, a criação dos mundos e a própria animação em stop motion.
EM SEU LUGAR (IN HER SHOES) – EUA, 2005 ***1/2
De Curtis Hanson. Com Cameron Diaz, Toni Collette, Shirley MacLaine e Richard Burgi.
Hanson comprova sua versatilidade ao construir um competente drama sobre duas irmãs e seus problemas. O roteiro não oferece grandes novidades, mas as belas atuações de Collette e Diaz e a direção segura de Hanson garantem a qualidade do filme e alguns momentos emocionantes.
X-MEN 3: O CONFRONTO FINAL (X-MEN: THE LAST STAND) – EUA, 2006 ****
De Brett Ratner. Com Hugh Jackman, Halle Berry, Patrick Stewart, Ian McKellen, Famke Janssen, Kelsey Grammer, Anna Paquin, Rebecca Romijn, James Marsden e Vinnie Jones.
Episódio mais fraco da trilogia, mas ainda de alto nível. A entrada de Ratner no lugar de Bryan Singer reflete no filme, que parece um pouco menos preocupado com a questão das diferenças e da tolerância do que os anteriores. Mas o roteiro mantém a inteligência e Ratner constrói cenas de ação eficientes, enquanto alguns personagens ganham destaque, como Tempestade. No geral, um belo encerramento (segundo dizem os produtores) para uma ótima série.
O SOL DE CADA MANHÃ (THE WEATHER MAN) – EUA, 2005 ***1/2
De Gore Verbinski. Com Nicolas Cage, Michael Caine, Hope Davis e Nicholas Hoult.
Trabalho interessante de Verbinski, comandando uma produção completamente diferente de seus filmes anteriores. Ainda que a fórmula do homem desiludido com a vida esteja mostrando sinais de desgaste, O Sol de Cada Manhã é eficiente na construção dos personagens e possui bons momentos para ser recomendado. Pena que o final também decepcione, em uma solução abrupta e que não condiz com o tom do filme.
TODO MUNDO EM PÂNICO 4 (SCARY MOVIE 4) – EUA, 2006 ***
De David Zucker. Com Anna Faris, Craig Bierko, Leslie Nielsen, Chris Elliot e Bill Pullman.
Mesmo com algumas piadas idiotas, roteiro nulo e atuações risíveis, Todo Mundo em Pânico 4 é uma comédia que consegue fazer rir. O fato de atropelar uma piada em cima da outra deixa o filme um tanto irregular, uma vez que nem todas funcionam. Mas há boas cenas envolvendo paródias de sucessos recentes do cinema e outros momentos engraçados. Não é a oitava maravilha do mundo, mas cumpre seu papel.
DANÇA COMIGO (SHALL WE DANCE?) – EUA, 2004 ***
De Peter Chelsom. Com Richard Gere, Jennifer Lopez, Susan Sarandon e Stanley Tucci.
Historinha competente, sem grandes arroubos de inspiração, mas que segue a cartilha corretamente. O diretor Peter Chelsom consegue manter o sorriso no rosto do espectador, que acompanha sem dificuldades a trama. As atuações de Lopez e Gere comprometem o resultado, mas os coadjuvantes ganham o filme, como Stanley Tucci no papel do dançarino reprimido.
ALPHAVILLE – França, 1965 **1/2
De Jean-Luc Godard. Com Eddie Constantine, Anna Karina e Akim Tamiroff.
Alphaville é uma obra com algumas boas idéias e outras nem tanto, com um resultado final mediano. A história sobre uma cidade futurista (?) totalitária permite algumas reflexões, mas o roteiro às vezes parece mais bagunçado do que conciso. No entanto, a direção de Godard é eficiente e prende a atenção. Nada mais do que interessante.
VEM DANÇAR COMIGO (STRICTLY BALLROOM) – Austrália, 1992 ***
De Bah Luhrmann. Com Paul Mercurio, Tara Morice, Bill Hunter e Pat Thomson.
O primeiro filme de Baz Luhrmann já é uma boa mostra do talento do diretor. Com uma visão diferenciada, Luhrmann cria um universo quase surreal, explorando a fantasia, a extravagância e o humor. Apesar do roteiro bobinho, o resultado final é positivo, com bons momentos e exemplos do estilo que Luhrmann viria consagrar em seus filmes seguintes.
CONRACK – EUA, 1974 **
De Martin Ritt. Com Jon Voight, Hume Cronyn, Paul Winfield e Madge Sinclair.
Exceto a interpretação enérgica de Jon Voight, não há muito a recomendar nesse filme. A história do professor que inspira as crianças é prejudicada porque em nenhum momento acompanhamos a evolução dos alunos ou nos importamos com algum deles. Além disso, o personagem do diretor é um vilão unidimensional, malvado apenas porque quer.
O ÂNCORA – A LENDA DE RON BURGUNDY (ANCHORMAN – THE LEGEND OF RON BURGUNDY) – EUA, 2004 ***1/2
De Adam McKay. Com Will Ferrell, Christina Applegate, Paul Rudd, Steve Carell e Vince Vaughn.
Will Ferrell comprova mais uma vez que é um dos grandes nomes da comédia atual, com esta engraçada história sobre um âncora de TV famoso. Algumas das piadas são extremamente ridículas, mas funcionam graças ao ótimo elenco, todos com timing cômico exemplar (destaque para Steve Carell). Um ótimo programa.
De Shane Black. Com Robert Downey Jr., Val Kilmer, Michelle Monaghan e Corbin Bernsen.
Shane Black surpreende no seu primeiro trabalho de direção nesta inspirada história. Misturando film noir, comédia e impagáveis sátiras ao próprio cinema, Black cria uma trama divertidíssima, sustentada por alguns dos melhores diálogos dos últimos anos. Downey Jr. e Kilmer se divertem à beça nos papéis, neste filme que tem tudo para se tornar cult.
A NOIVA-CADÁVER (THE CORPSE BRIDE) – EUA, 2005 ****
De Tim Burton e Mike Johnson. Com as vozes de Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Emily Watson, Albert Finney e Christopher Lee.
Produção com o toque mágico e inconfundível de Tim Burton. Repleta de humor negro, personagens adoráveis e belíssimos momentos, A Noiva-Cadáver é uma animação de alta qualidade, voltada para os adultos. O roteiro é interessante, usando e abusando de divertidos trocadilhos relacionados ao tom fúnebre, mas é inegável que a grande atração do filme é seu visual magnífico – a composição dos personagens, a criação dos mundos e a própria animação em stop motion.
EM SEU LUGAR (IN HER SHOES) – EUA, 2005 ***1/2
De Curtis Hanson. Com Cameron Diaz, Toni Collette, Shirley MacLaine e Richard Burgi.
Hanson comprova sua versatilidade ao construir um competente drama sobre duas irmãs e seus problemas. O roteiro não oferece grandes novidades, mas as belas atuações de Collette e Diaz e a direção segura de Hanson garantem a qualidade do filme e alguns momentos emocionantes.
X-MEN 3: O CONFRONTO FINAL (X-MEN: THE LAST STAND) – EUA, 2006 ****
De Brett Ratner. Com Hugh Jackman, Halle Berry, Patrick Stewart, Ian McKellen, Famke Janssen, Kelsey Grammer, Anna Paquin, Rebecca Romijn, James Marsden e Vinnie Jones.
Episódio mais fraco da trilogia, mas ainda de alto nível. A entrada de Ratner no lugar de Bryan Singer reflete no filme, que parece um pouco menos preocupado com a questão das diferenças e da tolerância do que os anteriores. Mas o roteiro mantém a inteligência e Ratner constrói cenas de ação eficientes, enquanto alguns personagens ganham destaque, como Tempestade. No geral, um belo encerramento (segundo dizem os produtores) para uma ótima série.
O SOL DE CADA MANHÃ (THE WEATHER MAN) – EUA, 2005 ***1/2
De Gore Verbinski. Com Nicolas Cage, Michael Caine, Hope Davis e Nicholas Hoult.
Trabalho interessante de Verbinski, comandando uma produção completamente diferente de seus filmes anteriores. Ainda que a fórmula do homem desiludido com a vida esteja mostrando sinais de desgaste, O Sol de Cada Manhã é eficiente na construção dos personagens e possui bons momentos para ser recomendado. Pena que o final também decepcione, em uma solução abrupta e que não condiz com o tom do filme.
TODO MUNDO EM PÂNICO 4 (SCARY MOVIE 4) – EUA, 2006 ***
De David Zucker. Com Anna Faris, Craig Bierko, Leslie Nielsen, Chris Elliot e Bill Pullman.
Mesmo com algumas piadas idiotas, roteiro nulo e atuações risíveis, Todo Mundo em Pânico 4 é uma comédia que consegue fazer rir. O fato de atropelar uma piada em cima da outra deixa o filme um tanto irregular, uma vez que nem todas funcionam. Mas há boas cenas envolvendo paródias de sucessos recentes do cinema e outros momentos engraçados. Não é a oitava maravilha do mundo, mas cumpre seu papel.
DANÇA COMIGO (SHALL WE DANCE?) – EUA, 2004 ***
De Peter Chelsom. Com Richard Gere, Jennifer Lopez, Susan Sarandon e Stanley Tucci.
Historinha competente, sem grandes arroubos de inspiração, mas que segue a cartilha corretamente. O diretor Peter Chelsom consegue manter o sorriso no rosto do espectador, que acompanha sem dificuldades a trama. As atuações de Lopez e Gere comprometem o resultado, mas os coadjuvantes ganham o filme, como Stanley Tucci no papel do dançarino reprimido.
ALPHAVILLE – França, 1965 **1/2
De Jean-Luc Godard. Com Eddie Constantine, Anna Karina e Akim Tamiroff.
Alphaville é uma obra com algumas boas idéias e outras nem tanto, com um resultado final mediano. A história sobre uma cidade futurista (?) totalitária permite algumas reflexões, mas o roteiro às vezes parece mais bagunçado do que conciso. No entanto, a direção de Godard é eficiente e prende a atenção. Nada mais do que interessante.
VEM DANÇAR COMIGO (STRICTLY BALLROOM) – Austrália, 1992 ***
De Bah Luhrmann. Com Paul Mercurio, Tara Morice, Bill Hunter e Pat Thomson.
O primeiro filme de Baz Luhrmann já é uma boa mostra do talento do diretor. Com uma visão diferenciada, Luhrmann cria um universo quase surreal, explorando a fantasia, a extravagância e o humor. Apesar do roteiro bobinho, o resultado final é positivo, com bons momentos e exemplos do estilo que Luhrmann viria consagrar em seus filmes seguintes.
CONRACK – EUA, 1974 **
De Martin Ritt. Com Jon Voight, Hume Cronyn, Paul Winfield e Madge Sinclair.
Exceto a interpretação enérgica de Jon Voight, não há muito a recomendar nesse filme. A história do professor que inspira as crianças é prejudicada porque em nenhum momento acompanhamos a evolução dos alunos ou nos importamos com algum deles. Além disso, o personagem do diretor é um vilão unidimensional, malvado apenas porque quer.
O ÂNCORA – A LENDA DE RON BURGUNDY (ANCHORMAN – THE LEGEND OF RON BURGUNDY) – EUA, 2004 ***1/2
De Adam McKay. Com Will Ferrell, Christina Applegate, Paul Rudd, Steve Carell e Vince Vaughn.
Will Ferrell comprova mais uma vez que é um dos grandes nomes da comédia atual, com esta engraçada história sobre um âncora de TV famoso. Algumas das piadas são extremamente ridículas, mas funcionam graças ao ótimo elenco, todos com timing cômico exemplar (destaque para Steve Carell). Um ótimo programa.
Tuesday, August 01, 2006
Rivais - Grêmio e Inter
Tem circulado pela internet um texto, de autor desconhecido, sobre os acontecimentos do Grenal de domingo. É como se fosse uma carta enviada pelo clube Internacional ao clube Grêmio. Produzi uma resposta para este texto, falando como se fosse o Grêmio. Aqui publico os dois. Primeiro, o do Inter, entitulado "Tenho pena de ti, meu rival" e, logo abaixo, a minha resposta, com o nome de "Pena por quê?". Confiram.
---------
Tenho pena de ti, meu rival
Na memória, ainda trago viva a lembrança dolorosa de tua época de supremacia. Consternado em meu canto, assisti tua bandeira subir em mastros altos, puxando consigo nosso pendão gaúcho. Louvável. Admito. Porém, não posso negar que nunca me foi agradável o teu sucesso. Me incomodava de sobremaneira.
Enquanto colhia teus louros, eu contabilizava tropeços. Foi difícil. Mas minha torcida me ajudou. De buraco em buraco, insatisfeita ao extremo, minha gente unia forças e me fazia reerguer. Confesso que, sem eles, seria impossível. Mas eles são meus seguidores. E nada nem ninguém nunca nos separou. Nem eu mesmo sei o que lhes faz me colocar num patamar acima do divino. De me considerarem uma força suprema erguida às margens do Guaíba. Muitos me listam como prioridade máxima de suas vidas. À frente de suas famílias, à frente de sua saúde. Acordam e dormem pensando em mim. Orgulhosos, ostentam meu manto pelos pagos do mundo todo. É por eles que eu ainda existo. É pra eles que eu fui criado e serei eterno. Sou a centelha rubra dentro de cada coração. Sou o S, o C e o I entrelaçados sobre um vermelho de amor infinito.
Assim, sempre levantei minha cabeça. Enxuguei as lágrimas. Lambi minhas feridas. E segui meu caminho. Como o que não mata fortalece, hoje, sou gigante novamente.
E tu, meu rival? O que é feito de ti?
Tu, co-irmão, é o espelho de tua torcida atordoada. É o duplo de tua revoltada nação. Teus filhos renegam a pátria onde nasceste e querem se bandear pro lado de lá do rio. Esquecem nossa alma gaudéria e pedem emprestada a de outrem. Abandonaram nossa língua e entoam cantos que teus simplórios guerreiros não conseguem compreender. Historicamente mais abastados, dispensam suas posses para inutilmente atravancarem meu caminho. Mas sou irmão do poeta, meu rival. Eu, passarinho.
Nesse domingo, teu séquito delirou poder profanar meu templo. Acéfalos, se viram inundados por uma nuvem negra que os sufocava a alma. Uma fumaça de ódio e rancor, criada pela sua própria boçalidade. Eles desconhecem que minha morada foi erguida em suor e paixão. Meu povo me deu uma fortaleza pronta para cada guerra que o tempo me trouxe e ainda trará. Minha força não ven desse mundo, rival. Tua inveja pueril nada pode contra ela.
É hora de rever teus conceitos, velho rival. Note que para falar comigo, hoje, tu levantas a cabeça. Deve te incomodar, não? Eu imagino. A raiva e a inconformidade que vi de teus filhos deixou isso ainda mais cristalino. Te dou um conselho de co-irmão: esquece de mim. Olha para o teu umbigo. Saíste há pouco do inferno e ainda patinas num umbral sujo e lamacento. Tua casa é tão velha e inóspita quanto a tua soberba secular. Te olha no espelho, meu rival. Onde estão o branco e o azul? Eu só vejo o negro. Lembra do teu passado. Já foste grande como hoje eu sou.
Tenho pena de ti, meu rival...
Na memória, ainda trago viva a lembrança dolorosa de tua época de supremacia. Consternado em meu canto, assisti tua bandeira subir em mastros altos, puxando consigo nosso pendão gaúcho. Louvável. Admito. Porém, não posso negar que nunca me foi agradável o teu sucesso. Me incomodava de sobremaneira.
Enquanto colhia teus louros, eu contabilizava tropeços. Foi difícil. Mas minha torcida me ajudou. De buraco em buraco, insatisfeita ao extremo, minha gente unia forças e me fazia reerguer. Confesso que, sem eles, seria impossível. Mas eles são meus seguidores. E nada nem ninguém nunca nos separou. Nem eu mesmo sei o que lhes faz me colocar num patamar acima do divino. De me considerarem uma força suprema erguida às margens do Guaíba. Muitos me listam como prioridade máxima de suas vidas. À frente de suas famílias, à frente de sua saúde. Acordam e dormem pensando em mim. Orgulhosos, ostentam meu manto pelos pagos do mundo todo. É por eles que eu ainda existo. É pra eles que eu fui criado e serei eterno. Sou a centelha rubra dentro de cada coração. Sou o S, o C e o I entrelaçados sobre um vermelho de amor infinito.
Assim, sempre levantei minha cabeça. Enxuguei as lágrimas. Lambi minhas feridas. E segui meu caminho. Como o que não mata fortalece, hoje, sou gigante novamente.
E tu, meu rival? O que é feito de ti?
Tu, co-irmão, é o espelho de tua torcida atordoada. É o duplo de tua revoltada nação. Teus filhos renegam a pátria onde nasceste e querem se bandear pro lado de lá do rio. Esquecem nossa alma gaudéria e pedem emprestada a de outrem. Abandonaram nossa língua e entoam cantos que teus simplórios guerreiros não conseguem compreender. Historicamente mais abastados, dispensam suas posses para inutilmente atravancarem meu caminho. Mas sou irmão do poeta, meu rival. Eu, passarinho.
Nesse domingo, teu séquito delirou poder profanar meu templo. Acéfalos, se viram inundados por uma nuvem negra que os sufocava a alma. Uma fumaça de ódio e rancor, criada pela sua própria boçalidade. Eles desconhecem que minha morada foi erguida em suor e paixão. Meu povo me deu uma fortaleza pronta para cada guerra que o tempo me trouxe e ainda trará. Minha força não ven desse mundo, rival. Tua inveja pueril nada pode contra ela.
É hora de rever teus conceitos, velho rival. Note que para falar comigo, hoje, tu levantas a cabeça. Deve te incomodar, não? Eu imagino. A raiva e a inconformidade que vi de teus filhos deixou isso ainda mais cristalino. Te dou um conselho de co-irmão: esquece de mim. Olha para o teu umbigo. Saíste há pouco do inferno e ainda patinas num umbral sujo e lamacento. Tua casa é tão velha e inóspita quanto a tua soberba secular. Te olha no espelho, meu rival. Onde estão o branco e o azul? Eu só vejo o negro. Lembra do teu passado. Já foste grande como hoje eu sou.
Tenho pena de ti, meu rival...
----------
Pena por quê?
"Já foste grande como hoje eu sou."
Querido irmão, acredito que as tuas últimas palavras sejam a melhor forma de iniciar essa resposta, à qual, acredito, tenho direito. Já fui grande, sim. Admito. Na verdade, já fui o maior de todos. Porém, és isto hoje? Realmente acreditas que atualmente és do mesmo tamanho que já fui?
Falas em soberba, acrescentando ainda o adjetivo secular. Mas, fico preso em uma indagação: a soberba está de que lado agora? Todo esse orgulho inflado no peito dos vermelhos, o queixo erguido como não o faziam há mais de 25 anos, qual a razão disso? O que ganhaste, rival? Que título deste aos teus para que agissem dessa forma, como se fossem, como tu mesmo dizes, "grandes"?
Ah, é verdade. Agora lembro-me. Foram campeões morais do Campeonato Brasileiro. Um título com o qual sonhavam desde o longínquo ano de 1979. Basta verificar qualquer dado histórico sobre o nosso torneio nacional. Está lá: "Campeão: Corinthians". Opa, algo errado aí. Nem sinal do teu título moral, rival.
Título moral. O que mais me dói é saber que meu rival satisfaz-se com isso. Que os seguidores que te consideram “uma força suprema erguida às margens do Guaíba” comemoraram esta “conquista” como se ela realmente existisse. Naquele dia, não consegui nem realizar nossas costumeiras provocações e flautas. Tive pena de ti e dos teus, pois vi como deve ser difícil ficar tanto tempo sem comemorar. Lamentei, cheio de pesar, a celebração daquele título ilusório.
Mas então penso melhor e vejo que a afirmação que abre essa meu texto não poderia estar mais longe da verdade. Tu não és grande nem nunca o foi. Estás em um bom momento, indiscutivelmente, mas isso faz de ti um grande? Lembra-te do São Caetano? Por uns três anos, chegou em quase todas as finais de campeonato. Isso fez dele um clube grande?
A conclusão a que chego analisando os fatos é a de que, ao contrário do que pensas, és pequeno. Muito pequeno. Que tudo não passa de uma ilusão de grandeza. És Davi, perto do Golias aqui. Pois se hoje pode me vencer (o que ainda não acontece, vide a batalha do dia 9 de abril em teu “templo”), querer comparar sua grandeza com a minha chega a ser algo risível.
Este inconformismo por sua parte é bom, sem dúvida. Se aceitasse sua posição de segundo do Rio Grande eternamente, jamais sairia daí. O que não pode é afirmar ser maior do que aquele a quem copia desde sempre.
Acredito que lembras, não? Exibimos nossa bela flâmula ao vento, no topo daquele mastro imponente, e vieste fazer igual. Sem a mesma beleza de nossas cores, claro. Temos os dizeres “Campeão do Mundo”, que dispensam justificativas, sobre nosso estádio. Pintaste em teu estádio o “Campeão do Mundo” também. Mas com o acréscimo embaraçoso do “Sub-15”. Apenas lamento essa sua atitude, pois rebaixaste-te ainda mais.
E, claro, a torcida. Meus seguidores que tanto criticaste por buscar inspiração no além-rio têm sido imitados também em tuas dependências. Que moral tens para falar sobre isso? Mas seguir meus passos é a solução para ti. Os pequenos sempre se espelharam nos grandes. E essa é a tua maldição, essa é a tua sina. Este é o teu castigo por não ter a luz e a hombridade para ser grande. Pelo menos não do meu tamanho.
Dizes que tua torcida sempre o ajudou, nos (longos e que, não te enganas, duram até hoje) anos sem conquistas. O que queres dizer com isso? Queres dizer que meus apóstolos não o fizeram? Pois onde estiveste ano passado? Quando eu não conseguia caminhar, eles me carregaram. Quando eu não conseguia falar, eles me deram voz. E eu recompensei-os com aquela conquista colossal em finais de novembro passado, que tornou-se notícia em todo o mundo e na qual exibi, não apenas para ti, mas para todos, a verdadeira natureza de quem é monumental.
Mas, tudo bem. Não venho justificar a ação de meus seguidores em tua casa, que, aliás, apenas é um templo na tua visão. Ser grande é saber ser humilde. É saber pedir desculpas. E peço desculpas pela atitude desta minoria da minha torcida.
Sim, minoria. Por isso, da mesma forma, repreendo-te por querer generalizar a ação de uns poucos como se fosse de praxe dos meus seguidores. Sabes, por me acompanhar há quase um século, que os atos vistos no domingo são delírios de uma ínfima parte de meus torcedores, se é que podem ser chamados assim. Peço desculpas pelo que fizeram, mas espero também suas desculpas por tentar macular a imagem inefável de minha fabulosa torcida ao jamais ressaltar o fato de que aquilo foi realizado, apenas, por poucas mentes perturbadas.
E se achas que me incomodo com teu momento atual, querido rival, estás enganado. Por que haveria de me incomodar se nada aconteceu? És, atualmente, aquele jogador que sabe brincar com a bola, mas não faz gol. E, mesmo que esse gol aconteça, não ficarei incomodado. Lembre-se sempre de que, segundo as palavras do general Yamamoto, moras ao lado de “um gigante adormecido”. Que pode acordar a qualquer momento.
Portanto, pena por quê? Não tenhas pena. Tenhas respeito. E, sempre, um pouco de medo.
"Já foste grande como hoje eu sou."
Querido irmão, acredito que as tuas últimas palavras sejam a melhor forma de iniciar essa resposta, à qual, acredito, tenho direito. Já fui grande, sim. Admito. Na verdade, já fui o maior de todos. Porém, és isto hoje? Realmente acreditas que atualmente és do mesmo tamanho que já fui?
Falas em soberba, acrescentando ainda o adjetivo secular. Mas, fico preso em uma indagação: a soberba está de que lado agora? Todo esse orgulho inflado no peito dos vermelhos, o queixo erguido como não o faziam há mais de 25 anos, qual a razão disso? O que ganhaste, rival? Que título deste aos teus para que agissem dessa forma, como se fossem, como tu mesmo dizes, "grandes"?
Ah, é verdade. Agora lembro-me. Foram campeões morais do Campeonato Brasileiro. Um título com o qual sonhavam desde o longínquo ano de 1979. Basta verificar qualquer dado histórico sobre o nosso torneio nacional. Está lá: "Campeão: Corinthians". Opa, algo errado aí. Nem sinal do teu título moral, rival.
Título moral. O que mais me dói é saber que meu rival satisfaz-se com isso. Que os seguidores que te consideram “uma força suprema erguida às margens do Guaíba” comemoraram esta “conquista” como se ela realmente existisse. Naquele dia, não consegui nem realizar nossas costumeiras provocações e flautas. Tive pena de ti e dos teus, pois vi como deve ser difícil ficar tanto tempo sem comemorar. Lamentei, cheio de pesar, a celebração daquele título ilusório.
Mas então penso melhor e vejo que a afirmação que abre essa meu texto não poderia estar mais longe da verdade. Tu não és grande nem nunca o foi. Estás em um bom momento, indiscutivelmente, mas isso faz de ti um grande? Lembra-te do São Caetano? Por uns três anos, chegou em quase todas as finais de campeonato. Isso fez dele um clube grande?
A conclusão a que chego analisando os fatos é a de que, ao contrário do que pensas, és pequeno. Muito pequeno. Que tudo não passa de uma ilusão de grandeza. És Davi, perto do Golias aqui. Pois se hoje pode me vencer (o que ainda não acontece, vide a batalha do dia 9 de abril em teu “templo”), querer comparar sua grandeza com a minha chega a ser algo risível.
Este inconformismo por sua parte é bom, sem dúvida. Se aceitasse sua posição de segundo do Rio Grande eternamente, jamais sairia daí. O que não pode é afirmar ser maior do que aquele a quem copia desde sempre.
Acredito que lembras, não? Exibimos nossa bela flâmula ao vento, no topo daquele mastro imponente, e vieste fazer igual. Sem a mesma beleza de nossas cores, claro. Temos os dizeres “Campeão do Mundo”, que dispensam justificativas, sobre nosso estádio. Pintaste em teu estádio o “Campeão do Mundo” também. Mas com o acréscimo embaraçoso do “Sub-15”. Apenas lamento essa sua atitude, pois rebaixaste-te ainda mais.
E, claro, a torcida. Meus seguidores que tanto criticaste por buscar inspiração no além-rio têm sido imitados também em tuas dependências. Que moral tens para falar sobre isso? Mas seguir meus passos é a solução para ti. Os pequenos sempre se espelharam nos grandes. E essa é a tua maldição, essa é a tua sina. Este é o teu castigo por não ter a luz e a hombridade para ser grande. Pelo menos não do meu tamanho.
Dizes que tua torcida sempre o ajudou, nos (longos e que, não te enganas, duram até hoje) anos sem conquistas. O que queres dizer com isso? Queres dizer que meus apóstolos não o fizeram? Pois onde estiveste ano passado? Quando eu não conseguia caminhar, eles me carregaram. Quando eu não conseguia falar, eles me deram voz. E eu recompensei-os com aquela conquista colossal em finais de novembro passado, que tornou-se notícia em todo o mundo e na qual exibi, não apenas para ti, mas para todos, a verdadeira natureza de quem é monumental.
Mas, tudo bem. Não venho justificar a ação de meus seguidores em tua casa, que, aliás, apenas é um templo na tua visão. Ser grande é saber ser humilde. É saber pedir desculpas. E peço desculpas pela atitude desta minoria da minha torcida.
Sim, minoria. Por isso, da mesma forma, repreendo-te por querer generalizar a ação de uns poucos como se fosse de praxe dos meus seguidores. Sabes, por me acompanhar há quase um século, que os atos vistos no domingo são delírios de uma ínfima parte de meus torcedores, se é que podem ser chamados assim. Peço desculpas pelo que fizeram, mas espero também suas desculpas por tentar macular a imagem inefável de minha fabulosa torcida ao jamais ressaltar o fato de que aquilo foi realizado, apenas, por poucas mentes perturbadas.
E se achas que me incomodo com teu momento atual, querido rival, estás enganado. Por que haveria de me incomodar se nada aconteceu? És, atualmente, aquele jogador que sabe brincar com a bola, mas não faz gol. E, mesmo que esse gol aconteça, não ficarei incomodado. Lembre-se sempre de que, segundo as palavras do general Yamamoto, moras ao lado de “um gigante adormecido”. Que pode acordar a qualquer momento.
Portanto, pena por quê? Não tenhas pena. Tenhas respeito. E, sempre, um pouco de medo.