Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Friday, February 29, 2008

JUNO


"Dirigido com sensibilidade por Jason Reitman, (...), Juno é um leve frescor de originalidade em um gênero inerte de idéias."

Acessem http://www.cineplayers.com/critica.php?id=1258 e confiram minha crítica de Juno, sucesso-surpresa nos Estados Unidos e vencedor do Oscar de melhor roteiro no último domingo.

Friday, February 22, 2008

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO


Conheço gente que não gosta de ficção-científica - livros e filmes - pelo simples fato de que as histórias se passam no futuro, com robozinhos e muita suposição sobre coisas que nem se sabe se vão existir. Tudo bem, opinião é para ser respeitada, mas tais idéias chegam a ser uma afronta às grandes obras e autores do gênero. A ficção-científica, ainda que boa parte dela seja resumida às historinhas sem graça sobre o futuro, tem uma capacidade muito alta de nos fazer pensar, especialmente quando cria um novo mundo como resultado do atual. É uma forma de crítica à sociedade na qual vivemos, pois mostra como as nossas atitudes de hoje podem ter conseqüência no futuro. Quando isto acontece, estamos diante de uma grande obra. É o caso de Admirável Mundo Novo, obra-prima de Aldous Huxley. Escrito em 1932, o livro apresenta um planeta no qual toda a forma de liberdade foi abolida em prol de um sistema que preza a estabilidade. As emoçoes, as paixões, as decepções, o sofrimento, tudo foi deixado de lado na sociedade de castas, onde cada pessoa nasce dentro de um grupo e é condicionada, desde a infância, a aceitar o seu papel e ser feliz desempenhando-o. A minha descrição é apenas superficial diante da magnífica visão de Huxley. Hoje, ainda mais do que na época em que foi escrito, Admirável Mundo Novo é uma obra atual, especialmente com os velozes avanços da ciência e da tecnologia. A quantidade de reflexões e perguntas propostas pelo autor perpassa os mais diferentes campos, levantando indagações sobre arte, ciência, amor, morte e religião, entre diversas outras. Em meio a tudo isto, está o cerne da questão, o embate liberdade x estabilidade. Vale a pena trocar a nossa vida livre, com todo o sofrimento e miséria, mas também com o amor e a felicidade, por uma existência sem preocupações, onde tudo está a mão, porém emocionalmente estéril? No mundo de Huxley, não há famílias, não há relacionamentos, não há desejo. Tudo é realizado em prol da sociedade, da civilização. A questão é clara e muitíssimo bem exposta pelo autor no surgimento de um personagem que sempre viveu à margem deste mundo, chamado no livro de Selvagem, e encontra seu ápice na discussão deste com o Administrador da civilização. Ali, de maneira impecável, ambos expõem seus pontos de vista eloqüentemente, em uma discussão que, mais do que respostas, coloca um ponto de interrogação na mente do leitor. Não é à toa que Admirável Mundo Novo é uma das grandes referências de todos os tempos, e não somente literária. Filmes, músicas e muitas outras obras já foram inspiradas ou tiveram clara influência do livro, desde canções do Iron Maiden a superproduções cinematográficas como Matrix. Admirável Mundo Novo é um grande livro, ainda mais importante hoje do que na época que foi lançado. Filosofia, romance, ficção-científica, tudo está presente na obra de Huxley. Clássico absoluto e com justiça.

Thursday, February 21, 2008

SANGUE NEGRO


"Profundo, ousado e extremamente ambicioso, o filme de Paul Thomas Anderson consegue hipnotizar o espectador por duas horas e meia, envolvendo-o em termos visuais, racionais e emocionais."

Acessem http://www.cineplayers.com/critica.php?id=1250 e confiram minha crítica para Sangue Negro, o melhor filme norte-americano dos últimos anos.

Wednesday, February 13, 2008

O GÂNGSTER

O ano começou muito bem para o cinema. Em menos de dois meses, o espectador brasileiro já pôde acompanhar uma série de filmes capazes de figurar em listas de melhores do ano, como O Caçador de Pipas, Desejo e Reparação e Onde os Fracos Não Têm Vez. Pois O Gângster é mais um deles. Dirigido por Ridley Scott, o filme é um épico grandioso sobre o crime, uma saga que acompanha o duelo entre dois homens em lados opostos da lei. De certa forma, é semelhante a Fogo Contra Fogo, conquanto inferior ao trabalho de Michael Mann. O que não tira os méritos de O Gângster. A obra de Scott, escrita por Steven Zaillian (responsável por A Lista de Schindler) consegue apresentar um personagem fascinante e construir uma narrativa clássica e eficiente, pontuada por cenas bem-construídas e ótimas atuações. A intenção de Scott é desenvolver a história como duas tramas paralelas que acabam se cruzando quando as vidas dos protagonistas convergem. É uma abordagem que resulta em um filme desenvolvido com cuidado, dando espaço para que o espectador conheça mais os personagens. Assim, quando o detetive Richie Roberts começa a perseguir o traficante Frank Lucas, a platéia conhece os dois, o que dá maior dimensão à caçada. Ainda assim, a história do criminoso é infinitamente mais interessante que a do policial, o que tira alguns pontos do filme. Lucas é um personagem complexo, cruel e frio quando necessário, mas que freqüenta a missa e ama a família. Denzel Washington captura com perfeição essa dualidade, fazendo o espectador gostar e temer Lucas ao mesmo tempo. Por outro lado, Roberts tem uma vida bagunçada e o roteiro pouco faz para deixá-la mais clara ao espectador. Russel Crowe está ótimo como sempre no papel, mas a vida de seu personagem é menos interessante que a de Lucas. Ainda assim, O Gângster jamais perde o ritmo. São duas horas e meia de projeção com o espectador completamente imerso na trama, sem a menor vontade de olhar para o relógio. Algumas cenas são fabulosas, como o momento da prisão de Lucas, e os diálogos são ótimos (“Ou você é rico e tem inimigos, ou é pobre e tem amigos”), sempre conduzidos sem afetações por Scott. Um belíssimo filme, prejudicado somente pelo fato da história de Roberts ser mais insípida que a de Lucas e pela da clara tentativa de Scott em fazer a platéia acreditar que o traficante é um cara bonzinho ao final.
Nota: 8.0

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA


Não sei se é assim em todas as áreas e campos de atuação, mas eu, como pretenso literato que sou, tenho um sentimento contraditório cada vez que leio um grande livro ou descubro um autor talentoso. A satisfação e o prazer de ler palavras, frases e um texto ridiculamente bem escrito duela com a frustração de saber que jamais escreverei algo tão bom. Isto acontece de vez em quando. Acontece, por exemplo, sempre que leio José Saramago. O português, já vencedor do Nobel de Literatura, conseguiu atingir uma maturidade invejável em sua escrita, com um estilo próprio facilmente reconhecível. Quem lê um texto de Saramago, sabe que é um texto de Saramago. Junto a isso, sua capacidade criativa é imensa e suas obras não somente têm um ponto de partida extremamente promissor como também são desenvolvidas de forma a explorar todas estas possibilidades. Ensaio Sobre a Cegueira é um exemplo. Considerado por muitos como o melhor trabalho do lusitano, o livro é uma alegoria riquíssima e deliciosa de ler. Saramago utiliza todo o seu poder de imaginação para contar a fantástica história de uma epidemia de cegueira que deixa todas as pessoas cegas, com exceção de uma mulher. A partir daí, autor levanta uma série de questões das mais diferentes naturezas, mostrando a complexidade deste animal chamado ser humano quando despe-se de seu maior artifício (a visão) e necessita retornar aos instintos mais básicos. O que sai daí são demonstrações de força, fraqueza, superação, bondade, crueldade e muito mais. As reflexões propostas por Saramago transbordam e as interpretações (a grande maioria delas, ao menos) ficam por conta do próprio leitor. Ensaio Sobre a Cegueira é um grande livro, com doses de humor, um talento único para a literatura e muita, muita inteligência. Fernando Meirelles está realizando a adaptação do romance para as telas. Tarefa difícil para o nosso conterrâneo.

Monday, February 11, 2008

CLOVERFIELD

"Curto, Cloverfield nada mais é do que uma experiência divertida e diferente ao que se está acostumado a ver no Cinema. É irregular em alguns momentos e perde um pouco de seu potencial por trazer um recurso já visto antes, mas consegue segurar a atenção durante toda sua projeção."

Confiram em www.cineplayers.com minha crítica completa de Cloverfield, o mais novo filme originado da mente do criador de Lost J. J. Abrams.

Friday, February 08, 2008

DESEJO E REPARAÇÃO


Só pra não deixar passar em branco, vou colocar aqui uns breves comentários sobre dois dos indicados ao Oscar de Melhor Filme, Desejo e Reparação e Onde os Fracos Não Têm Vez. Fiquei sem tempo pra crítica, mas dá pra dizer o que eu achei destes dois concorrentes.

Desejo e Reparação
É um filme de época que, pouco a pouco, vai envolvendo o espectador. Começa de maneira simples, ainda que eficaz, e graças a algumas surpresas do roteiro e um belíssimo trabalho de direção de Joe Wright, captura a platéia de forma magistral, seguindo por caminhos não esperados. Algumas quebras na narrativa, mostrando acontecimentos através de vários pontos de vista, dão o sinal da grande truque que está por vir e deixam claro que, mais do que uma historinha de amor passada em outra época, Desejo e Reparação é um exercício de linguagem cinematográfica de primeiro nível. Algumas opções são perfeitas, hipnotizando o espectador, como a trilha sonora com a batida nas teclas da máquina de escrever e o magistral plano-seqüência na praia, onde a câmera acompanha, sem cortes, o protagonista vagando em meio à guerra. Wright ainda brinca com as percepções do público, em um artifício admirável e complicado de ser utilizado, mas que funciona muito bem. Grandes personagens e ótimas atuações (destaque para Vanessa Redgrave, que deixa forte impressão em poucos minutos) completam esta obra complexa e surpreendente, digna de figurar entre as melhores produções do ano.
Nota: 9.0

ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ


Onde os Fracos Não Têm Vez
Como poderia se esperar dos irmãos Coen, é um filme estranho. Na filmografia deles, isto pode tanto ser bom quanto ruim. Neste caso, é excelente. Onde os Fracos Não Têm Vez é uma obra que vai desagradar a maioria, especialmente em função de seu final. É daqueles encerramentos que deixa todo mundo se perguntando se realmente acabou, mas, logo, a estranheza se transforma em admiração quando se reflete sobre a intenção dos Coen com este final, pois percebe-se como é perfeitamente adequado para uma obra tão diferenciada. O enredo em si é simples, enriquecido pela peculiaridade dos personagens e pelo subtexto da história, com uma mensagem entregue de maneira natural e criativa. Onde os Fracos Não têm Vez ainda mantém as características dos melhores trabalhos dos Coen, combinando gêneros de maneira exemplar, com a violência, o drama e a comédia agindo tal qual uma equipe bem entrosada. Há momentos de puro brilhantismo, diálogos impecáveis e atuações dignas de figurar entre as melhores do ano, com destaque para o fascinante psicopata de Javier Bardem e o perplexo policial de Tommy Lee Jones. Um grande filme, indubitavelmente, que vai se tornando cada vez melhor à medida que se pensa nele.
Nota: 9.0

Conduta de Risco

Esse entra como bônus. É mais um indicado à principal categoria do Oscar que já estreou em Porto Alegre. Quem quiser saber meu comentário, acesse http://www.cineplayers.com/ e confira minha crítica. Mas fica a opinião: apesar de bom, não merecia estar entre os cinco melhores do ano.
Nota: 7.0