KING KONG
KING KONG ****1/2
De Peter Jackson. Com Naomi Watts, Adrien Brody, Jack Black, Thomas Kretschmann, Andy Serkis, Jamie Bell, Colin Hanks e Evan Parke.
27/12/05 – Silvio Pilau
A esta altura, todos já estão familiarizados com o nome de Peter Jackson. Após o monumental sucesso artístico e financeiro da trilogia O Senhor dos Anéis, o ex-gordinho neozelandês tornou-se um dos diretores mais requisitados da indústria cinematográfica. Sabe-se, então que Jackson é capaz de realizar um bom trabalho a partir de um rico material, no caso, a obra de J. R. R. Tolkien. A dúvida ficava sobre o que Jackson poderia fazer com uma história mais comum. Em outras palavras, o diretor conseguiria fazer um bom filme a partir de um roteiro apenas correto? King Kong é a resposta.
De Peter Jackson. Com Naomi Watts, Adrien Brody, Jack Black, Thomas Kretschmann, Andy Serkis, Jamie Bell, Colin Hanks e Evan Parke.
27/12/05 – Silvio Pilau
A esta altura, todos já estão familiarizados com o nome de Peter Jackson. Após o monumental sucesso artístico e financeiro da trilogia O Senhor dos Anéis, o ex-gordinho neozelandês tornou-se um dos diretores mais requisitados da indústria cinematográfica. Sabe-se, então que Jackson é capaz de realizar um bom trabalho a partir de um rico material, no caso, a obra de J. R. R. Tolkien. A dúvida ficava sobre o que Jackson poderia fazer com uma história mais comum. Em outras palavras, o diretor conseguiria fazer um bom filme a partir de um roteiro apenas correto? King Kong é a resposta.
Terceira versão da história do gorila gigante, o novo filme, assim como o original, se passa em 1933, durante a Grande Depressão que assolou os EUA após a quebra da bolsa de Nova York. Neste cenário, encontramos Carl Denhan, um diretor contestado que, no desespero de acabar seu último filme, parte para uma ilha desconhecida na companhia de Ann Darrow, uma atriz recém-contratada, e Jack Driscoll, o roteirista. Chegando ao local, o grupo, junto com o resto da tripulação do barco, se depara com uma tribo de nativos que seqüestra a mulher para oferecê-la à criatura que habita a ilha: um gigantesco gorila de 8 metros de altura. Enquanto o resto tenta escapar dos perigos da ilha, Ann e Kong iniciam um improvável relacionamento.
King Kong é um magistral trabalho de direção, que coloca Peter Jackson de vez no rol dos grandes cineastas de todos os tempos. O diretor simplesmente pega uma história sem grandes arroubos de criatividade e entrega um filme espetacular, capaz de arrebatar até o mais cético dos espectadores. Mas vamos por partes.
A verdade é que, mesmo com todas as qualidades (que logo comentarei com maiores detalhes), King Kong tem seus deslizes. O mais óbvio deles é a longa duração. Três horas eram adequadas para cada parte da trilogia O Senhor dos Anéis, pois realmente havia história para contar. Os 180 minutos de King Kong, no entanto, soam como mero capricho do diretor, uma vez que diversas cenas poderiam ter sido cortadas, especialmente no primeiro ato da obra.
Jackson (que escreveu o roteiro junto com sua esposa Fran Walsh e Phillipa Boyens) excede-se desnecessariamente na apresentação dos personagens. Ainda que funcione no sentido de aproximar o público das pessoas vistas na tela e, portanto, tornando mais emocionantes os fatos que se desenrolarão em seguida, este início poderia ser mais objetivo e menos dispersivo.
No entanto, assim que os personagens chegam na Ilha da Caveira, King Kong se transforma, talvez, no melhor filme de ação/aventura desde que o próprio Jackson orquestrou uma obra-prima chamada O Retorno do Rei. A partir do momento em que aquela criança nativa aparece na tela, King Kong acumula uma emoção atrás da outra, culminando no grandioso final no Empire State Building, em Nova York.
O embate entre Kong e os três Tiranossauros na Ilha da Caveira, por exemplo, é o que há de melhor em termos de entretenimento no cinema. Jackson comprova ser capaz de construir uma cena de ação e pegar o espectador pela garganta como poucos outros diretores da atualidade. A seqüência em questão é uma interminável sucessão de adrenalina injetada diretamente na veia do espectador, com Kong e Ann escapando de uma situação perigosa para, em seguida, caírem em outra. Só estes aproximadamente dez minutos já valem todo o preço do ingresso, eu garanto.
É nesta seqüência, inclusive, que está um dos momentos mais belos do filme. Presa entre Kong e um Tiranossauro em uma clareira, Ann lentamente move-se em direção ao gorila, como que reconhecendo seu protetor naquela criatura ameaçadora. É uma cena sutil, mas muito bem realizada, que amarra definitivamente o laço entre os dois personagens.
E, mesmo com todas as impressionantes seqüências de ação, é mesmo a relação entre Ann e Kong o tema central do filme. Na realidade, King Kong é uma belíssima – e improvável – história de amor. Os poucos momentos calmos que os dois compartilham são tão ou mais eficientes do que as cenas de ação, seja o “casal” apreciando um pôr-do-sol na Ilha da Caveira, deslizando sobre o gelo em Nova York (em uma cena maravilhosa) ou nos últimos momentos de Kong no Empire State.
Apesar da relação entre Kong e Ann ser muito bem desenvolvida, o mesmo não se pode dizer das outras tentativas de Jackson. O laço entre Hayes e o jovem Jimmy, por exemplo, apesar de tornar os personagens mais familiares aos olhos do espectador, é nada essencial à trama central. De qualquer forma, o momento em que Hayes explica ao garoto do significado da obra No Coração das Trevas é um dos pontos altos da produção.
Da mesma maneira, a ligação entre a própria Ann e Jack Driscoll não convence. O romance entre os dois acontece de forma rápida e jamais soa natural, apesar das boas atuações de Naomi Watts e Adrien Brody. Watts, aliás, demonstra mais uma vez ser uma das atrizes mais talentosas do momento, pois grande parte de seu tempo em tela é preenchido por “diálogos” com Kong apenas através do olhar.
Já que estou falando das atuações, o maior crédito neste sentido deve ir a Jack Black, que constrói o personagem mais complexo do filme de forma talentosa. Seu Carl Denham consegue esconder, por trás de toda a megalomania, um certo arrependimento após tomar certas atitudes e Black encarna o personagem de forma consciente e comedida.
E, finalmente, chegamos ao grande astro do filme: Kong. Talvez tenha me enganado ao colocar Carl Denham como o personagem mais complexo da produção, pois Kong é, provavelmente, mais bem desenvolvido do que qualquer outro. Em um realismo digital poucas vezes antes visto, inclusive com cicatrizes e marcas no rosto, Kong representa mais do que um monstro, mas uma criatura com sentimentos, que passa por diversas mudanças ao longo da história. E o impressionante é que tudo isso consegue ser transmitido através do olhar do animal, em uma conquista maravilhosa da equipe de efeitos especiais.
Mas se Kong alcança este nível de realismo, o mesmo não pode ser dito de outras partes da produção. Em certas cenas, é visível aquilo que é digital e o que não é, como na debandada do grupo de dinossauros. Ainda assim, não é algo que comprometa o filme. A própria seqüência da corrida dos braquiossauros, apesar dos claros retoques digitais, é tão bem dirigida e empolgante que supera este problema.
Esta vitória de Peter Jackson na direção consegue, inclusive, eclipsar alguns pontos no qual o filme poderia sair prejudicado, especialmente no que tange ao roteiro. Além do já comentado primeiro ato prolixo, King Kong possui uma trama clichê, sem nenhuma surpresa (mesmo para que não conhece a história), diálogos apenas corretos e personagens rasos (ainda que, como já comentei, seja oferecido o suficiente para o espectador se preocupar com eles). E algumas perguntas ficam no ar: como Kong foi transportado da ilha até Nova York naquele navio? Ou de onde Carl Denham tirou o mapa para a ilha?
E antes que alguém venha comentar sobre a inverossimilhança de algumas cenas, rebato com este argumento: quem vai assistir um filme sobre um gorila de oito metros que mora em uma ilha jamais visitada pelo homem junto a alguns dinossauros não pode esperar realismo.
O fato é que King Kong não é um filme perfeito. Talvez esteja longe disso. Mas é, indubitavelmente, um exemplar quase irrepreensível do gênero ação/aventura. Peter Jackson assume de vez o trono outrora ocupado por Spielberg e Lucas como o cineasta capaz de colocar no cinema a magia que ele sempre deveria ter. King Kong é uma obra divertida, emocionante e grandiosa. Ou seja, tudo aquilo que o cinema sempre buscou ser.