Depois de um tempo ausente, eis a lista dos filmes que vi no mês, com respectiva cotação e comentários.
A GENERAL (THE GENERAL) – EUA, 1927 ****1/2
De Buster Keaton. Com Buster Keaton, Glen Cavender, Jim Farley, Marion Mack e Frederick Vroom.
Um grande clássico do cinema americano, que faz jus à sua reputação. Praticamente impecável do início ao fim, A General é a prova de que filmes mudos não precisam ser chatos. Graças à genialidade e impressionante timing cômico de Buster “O homem que nunca ri” Keaton, a obra faz rir e ainda apresenta cenas elaboradas que impressionam até hoje.
ADAPTAÇÃO (ADAPTATION) – EUA, 2002 ****1/2
De Spike Jonze. Com Nicolas Cage, Meryl Streep, Chris Cooper, Tilda Swinton, Brian Cox, Maggie Gylenhall e Ron Livingston.
Charlie Kaufman não erra. O mais original roteirista americano e o diretor Spike Jonze deram seqüência ao sucesso de Quero Ser John Malkovich com esta obra que transpira criatividade. Utilizando-se de constantes exercícios de metalinguagem e críticas à indústria cinematográfica, Kaufman cria um filme surpreendente, que conta a história do próprio Kaufman escrevendo o roteiro de Adaptação. Como sempre, a premissa é bem explorada, rendendo momentos, diálogos e personagens impagáveis, encarnados com maestria pelo elenco.
36 (36 QUAI DES ORFÉVRES) – França, 2004 ****
De Olivier Marchal. Com Daniel Auteuil, Gerard Depardieu, André Dussollier, Valeria Golino e Daniel Duval.
Interessantíssimo policial francês que valoriza o desenvolvimento dos personagens no lugar da ação. O ritmo lento e introspectivo, apesar de arrastar o filme algumas vezes, auxilia na construção de um ambiente soturno e melancólico, refletindo o estado de espírito dos protagonistas. Com isso, os ótimos Auteuil e Depardieu ganham espaço, construindo personagens convincentes em situações realistas.
A FAMÍLIA DA NOIVA (GUESS WHO) – EUA, 2005 **
De Kevin Rodney Sullivan. Com Bernie Mac, Ashton Kutcher, Zoe Saldana, Judith Scott e Hal Williams.
Filme boboca que só consegue alguma coisa graças à dinâmica entre Kutcher e Mac. Bons comediantes, os atores superam a falta de criatividade e inspiração do roteiro (que não deixa de ser uma versão de Entrando numa Fria) em momentos esporádicos, mas nada que seja suficiente para tornar A Família da Noiva um divertimento recomendável.
RICKY BOBBY: A TODA VELOCIDADE (TALLADEGA NIGHTS – THE BALLAD OF RICKY BOBBY) – EUA, 2006 ***
De Adam McKay. Com Will Ferrel, John C. Reilly, Amy Adams, Michael Clarke Duncan, Sacha Baron Cohen e Leslie Bibb.
Assim como Jim Carrey, Will Ferrel é um cara disposto a fazer qualquer coisa para o público rir. Ricky Bobby: A Toda Velocidade é um poço de idiotice, um filme repleto de cenas imbecis e personagens mais ainda. No entanto, é engraçado. O besteirol é constante e, boa parte das vezes, funciona, com cenas realmente capazes de fazer o público rir. Ferrel é um ótimo comediante e aqui ainda recebe os acréscimos de um hilário John C. Reilly e do agora estrela Sacha Borat, ops, Baron Cohen.
O HOMEM URSO (THE GRIZZLY MAN) – EUA, 2005 ****
De Werner Herzog.
Belíssimo filme de Herzog sobre Timothy Treadwell, um homem que passou grande parte de sua vida estudando ursos, até ser morto por um deles. Mais do que um documentário sobre a carreira do explorador, Herzog investiga a fundo a personalidade de Treadwell, tentando descobrir os motivos que fizeram este homem virar as costas para a sociedade e preferir a companhia de animais. Um fascinante estudo sobre a natureza humana.
MENINA MÁ.COM (HARD CANDY) – EUA, 2005 ***1/2
De David Slade. Com Patrick Wilson, Ellen Page, Sandra Oh e Odessa Rae.
Surpreendendo desde os primeiros minutos, Menina Má.com é um filme muito interessante, passando-se quase que inteiramente no mesmo local e com pouquíssimos personagens. David Slade consegue arrancar boa tensão na relação entre Wilson e Page, contando com bons trabalhos dos dois atores e mantendo sua câmera sempre fechada no rosto dos protagonistas. O filme acaba se prejudicando um pouco por não ter tanta história para desenvolver, mas resulta como um suspense acima da média e exercício de estilo que merece ser visto.
VALE PROIBIDO (DOWN IN THE VALLEY) – EUA, 2005 **
De David Jacobson. Com Edward Norton, Evan Rachel Wood, David Morse, Rory Culkin e Bruce Dern.
Os dois primeiros atos de Vale Proibido são ótimos, com Norton construindo um personagem adorável e extremamente interessante. Infelizmente, o diretor Jacobson se perde na terceira parte do filme, quando surgem algumas revelações sobre o protagonista e a obra se estende de maneira incrivelmente tediosa por um caminho desnecessário. A mudança de tom quebra a apreciação por parte do espectador, que fica com aquele gostinho de que Vale Proibido poderia ter sido muito mais.
UM GRITO NO ESCURO (A CRY IN THE DARK) – EUA, 1988 ***
De Fred Schepisi. Com Meryl Streep, Sam Neill, David Reeves e David Hoflin.
Baseado em uma história real, Um Grito no Escuro é, principalmente, um veículo para mais uma brilhante interpretação de Streep. Ainda que o espectador saiba a verdade sobre o fato em questão, a atriz consegue criar dúvidas sobre a culpabilidade da personagem apenas através de suas expressões e postura. No mais, é um filme de tribunal comum, ainda que eficiente, feito sem ousadia ou criatividade.
TERRA DOS MORTOS (LAND OF THE DEAD) – EUA, 2005 *
De George A. Romero. Com Simon Baker, John Leguizamo, Dennis Hopper, Asia Argento e Robert Joy.
Apesar de ter praticamente criado os filmes de zumbi, Romero parece não ter percebido que o “gênero” acabou se tornando uma espécie de paródia de si mesmo. Levando-se a sério demais e sem a originalidade que Zack Snyder imprimiu em Madrugada dos Mortos, a última obra de Romero é surpreendentemente sem graça, sem tensão alguma ou personagens interessantes. Um esforço desnecessário para o grande mestre do gênero.
O PODEROSO CHEFÃO (THE GODFATHER) – EUA, 1972 *****
De Francis Ford Coppola. Com Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Richard Castellano, Diane Keaton, Talia Shire e John Cazale.
Escrever sobre O Poderoso Chefão é difícil, uma vez que palavras jamais farão jus à obra. Irrepreensível desde o monólogo inicial à sensacional cena de encerramento, o filme é talvez uma das mais completas peças cinematográficas já produzidas, com atuações magistrais, personagens moralmente complexos, direção com completo domínio narrativo e uma trama construída de maneira cuidadosa e surpreendente. Um dos melhores filmes de todos os tempo, que faz parte da cultura mundial. Impossível cansar de assistir.
BRUBAKER – EUA, 1980 ****
De Stuart Rosenberg. Com Robert Redford, Yaphet Kotto, Jane Alexander, Murray Hamilton, David Keith e Morgan Freeman.
Redford é o destaque nesta interessante versão da história real do diretor de uma prisão. Trazendo a clássica história do homem de princípios lutando pelo que acredita e contra o sistema, Brubaker perde pontos apenas por sua longa duração e o excesso de subtramas, mas é um filme que consegue fazer com que o espectador torça pelo protagonista até o final.
MISS SIMPATIA 2: ARMADA E PERIGOSA (MISS CONGENIALITY 2 – ARMED AND FABULOUS) – EUA, 2005 **
De John Pasquin. Com Sandra Bullock, Regina King, Enrique Murciano, William Shatner, Ernie Hudson e Treat Williams.
Continuação de Miss Simpatia, bastante inferior ao original, que já não era grande coisa. Sandra Bullock continua com boa presença em tela e agora recebe a companhia de Regina King, que normalmente rouba as cenas nos projetos em que aparece. Aqui, as duas são prejudicadas por um roteiro caótico e sem inspiração, que não cria piadas boas e não se preocupa em amarrar a trama. Uma ou outra cena é salva por Bullock e King, mas é muito pouco.
O PODEROSO CHEFÃO – PARTE II (THE GODFATHER – PART II) – EUA, 1974 *****
De Francis Ford Coppola. Com Al Pacino, Robert De Niro, Robert Duvall, Talia Shire, Diane Keaton, John Cazale, Lee Strasberg, Michael V. Gazzo e Bruno Kirby.
Ainda prefiro o filme original, mas O Poderoso Chefão – Parte II é tão bom quanto. Francis Ford Coppola dá continuidade à saga da família Corleone ao mesmo tempo em que mostra a ascensão de Vito. As duas tramas paralelas são compostas de maneira exemplar, uma contrapondo-se e dando valor à outra: enquanto Vito cria uma família, Michael, apesar de todos os seus esforços, acaba por destruir a sua. A construção dos personagens é fabulosa e as atuações idem, sem contar as dezenas de seqüências e diálogos que já entraram para a história. Assim como o primeiro filme, inesquecível.
UM BEIJO A MAIS (THE LAST KISS) – EUA, 2007 ***1/2
De Tony Goldwyn. Com Zach Braff, Jacinda Barrett, Rachel Bilson, Casey Affleck, Tom Wilkinson, Blythe Danner e Harold Ramis.
Um Beijo a Mais é a refilmagem de um sucesso recente do cinema italiano, O Último Beijo. Ainda que não mantenha a mesma qualidade da versão original, a tentativa americana é eficiente, com boas considerações sobre relacionamentos. Mas o filme de Tony Goldwyn não consegue dar o mesmo destaque a todos os personagens e as tramas secundárias perdem a força, inclusive aquela sobre os pais da protagonista. Além disso, o filme tem um final completamente anti-climático. A trama principal, no entanto, sobre os dois personagens principais, é boa, com diálogos interessantes e Braff e Barret têm boa química juntos.
O PODEROSO CHEFÃO – PARTE III (THE GODFATHER – PART III) – EUA, 1990 ****1/2
De Francis Ford Coppola. Com Al Pacino, Diane Keaton, Andy Garcia, Joe Mantegna, Talia Shire, Sofia Coppola, Eli Wallach, Bridget Fonda e George Hamilton.
Ainda que inferior às duas partes anteriores (o que, convenhamos, não é nenhum pecado), O Poderoso Chefão – Parte III é um belíssimo filme, que encerra de maneira justa a saga dos Corleone. Algumas seqüências parecem mera encheção de lingüiça e as atuações não são tão uniformes, mas o filme possui inúmeras qualidades, como o retrato amargurado de Michael Corleone e seqüências como a do tiroteio e o final na ópera. Não é uma obra-prima, mas não deixa de ser um grande filme.
SIN CITY – A CIDADE DO PECADO (SIN CITY) – EUA, 2005 *****
De Robert Rodriguez e Frank Miller. Com Bruce Willis, Benicio Del Toro, Jessica Alba, Mickey Rourke, Elijah Wood, Carla Gugino, Powers Boothe, Rutger Hauer, Clive Owen, Rosario Dawson, Michael Clarke Duncan, Nick Stahl, Devon Aoki, Alexis Bledel, Michael Madsen, Brittany Murphy e Josh Hartnett.
Mistura exuberante de um visual arrebatador com um roteiro inteligente, Sin City traz uma coleção impressionante de astros se divertindo à beça. Diálogos inteligentes e afiados são a cereja do bolo para uma galeria de personagens à margem da lei e um apuro estético sem igual. Rodriguez criou não apenas um deleite para os olhos com sua técnica, mas um filme divertidíssimo de se assistir, que ajudou a desenvolver uma nova maneira de fazer cinema.
SERPENTES A BORDO (SNAKES ON A PLANE) - EUA, 2006 ***
De David R. Ellis. Com Samuel L. Jackson, Julianna Margulies, Nathan Phillips, Rachel Blanchard e Flex Alexander.
O filme que gerou o maior buzz na internet não fez jus à expectativa. Assumidamente trash, Serpentes a Bordo foi prejudicado pela direção de Ellis e pelo roteiro, que levam-se a sério demais em diversos momentos. O clima de deboche ocasionalmente dilui-se na obra, mas Samuel L. Jackson continua “o cara” e a obra oferece momentos divertidos, bem ao estilo do gênero. Funciona, mas fica longe da obra-prima trash O Ataque dos Vermes Malditos.
NÓ NA GARGANTA (THE BUTCHER BOY) – Irlanda, 1997 ****
De Neil Jordan. Com Eammon Owens, Stephen Rea, Fiona Shaw e Alan Boyle.
O talentoso Neil Jordan acerta a mãe nesse filme narrativamente difícil. Combinando de maneira magistral fantasia e realidade, humor e drama, o cineasta cria um retrato perturbador da mente de uma criança problemática e as conseqüências às quais isso leva. O garoto Eammon Owens assume o papel com muita energia, nesse filme que causa impacto e faz pensar.
O MAIOR AMOR DO MUNDO – Brasil, 2006 ***1/2
De Cacá Diegues. Com José Wilker, Taís Araújo, Sérgio Brito, Deborah Evelyn, Hugo Carvana, Marco Ricca, Ana Sophia Folch e Stepan Nercessian.
O Maior Amor do Mundo é mais um acerto na recente cinematografia nacional. Apesar de alguns deslizes, como o protagonista ser um cara excessivamente tedioso e personagens que desaparecem sem muito sentido, a obra de Diegues tem momentos belos e boas soluções. A crítica social, de certa forma, é eficiente e a surpresa final é capaz de emocionar.
AS BRANQUELAS (WHITE CHICKS) – EUA, 2004 *
De Keenen Ivory Wayans. Com Shawn Wayans, Marlon Wayans, Jaime King, John Heard e Terry Crews.
Um dos maiores atentados à Sétima Arte. Simplesmente um dos filmes mais execráveis já produzidos. Tenebroso do início ao fim, com piadas grotescas e completamente sem graça, timing cômico reduzido a zero, tanto por parte dos atores quanto do diretor, e, claro, uma falta de lógica que chama o espectador de burro a todo momento. Algumas cenas fariam os irmãos Lumiére se revirar no túmulo, apenas por saber que sua invenção deu oportunidade para esse lixo.
MUITO BEM ACOMPANHADA (THE WEDDING DATE) – EUA, 2005 **1/2
De Clare Kilner. Com Debra Messing, Dermott Mulroney, Amy Adams, Jack Davenport e Sarah Parish.
Comédia romântica sem sal, que até rende alguns bons momentos, mas segue à risca a fórmula do gênero. Messing e Mulroney têm certa química juntos, fazendo com que assistir a Muito Bem Acompanhada não se torne um problema. No entanto, faltam situações engraçadas no roteiro e mais cuidado no desenvolvimento do romance, que acontece de uma hora pra outra.
A COLHEITA DO MAL (THE REAPING) – EUA, 2007 **
De Stephen Hopkins. Com Hilary Swank, David Morrissey, Idris Elba, AnnaSophia Robb e Stephen Rea.
Se funciona em sua primeira metade, A Colheita do Mal colapsa desastrosamente na parte final. O ponto de partida é intrigante o suficiente para manter o espectador interessado por um tempo, mas as soluções propostas e a falta de lógica da trama jogam tudo por água abaixo. Nem a talentosa Swank consegue salvar o filme, que culmina em excessos desnecessários, inclusive em termos de efeitos visuais.