Viagem Literária
Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.
About Me
- Name: Silvio Pilau
- Location: Porto Alegre, RS, Brazil
Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.
Tuesday, September 30, 2008
Monday, September 29, 2008
Estranho e curioso caso
Como a maioria das oito pessoas que freqüentam esse blog devem saber, escrevo contos de vez em quando. Faz alguns meses que não publico nada novo aqui nesse sentido, mas é só procurar em posts antigos que existem vários textos ficcionais mal-escritos e sem-graça saídos das idéias da minha cabeça. Falando nisso, agora na Feira do Livro vou dar mais autógrafos pelo Ficção de Polpa. Mas isso eu falo mais além.
Gosto bastante de escrever estes contos. E a inspiração vem de diversas formas. Já surgiu em conversas com amigos, lendo outros livros, defecando e sei lá o que mais. Às vezes, começa com um personagem. Em outros, com uma frase. Pode ser a idéia de uma situação. Uma reviravolta final. Ou, ocasionalmente, um conto pode partir de um título.
Estes dois parágrafos de blábláblá foram pra chegar a esse ponto. Sempre empaco nos títulos dos meus textos. Títulos e nomes de personagens – ainda que esse segundo problema se resolva ao pegar o primeiro nome de uma revista ou jornal por perto. Título, porém, é mais complicado. Às vezes, cabe o mais básico possível, como O Fígado pro meu conto no primeiro Ficção de Polpa. Cada caso, porém, é um caso.
Também tem aquelas vezes que a gente acerta em cheio. Aquele conto que me deu o prêmio que recebi no Teatro São Pedro tinha o título O Estranho Caso de Ricardo Almeida. Nada inovador ou criativo, mas dava o tom certo pra história que viria a seguir. E sei que era um bom título porque David Fincher, simplesmente o diretor de Seven e Clube da Luta, chamou o novo filme dele de O Curioso Caso de Benjamin Button.
Será que cabe processar Hollywood por plágio?
Gosto bastante de escrever estes contos. E a inspiração vem de diversas formas. Já surgiu em conversas com amigos, lendo outros livros, defecando e sei lá o que mais. Às vezes, começa com um personagem. Em outros, com uma frase. Pode ser a idéia de uma situação. Uma reviravolta final. Ou, ocasionalmente, um conto pode partir de um título.
Estes dois parágrafos de blábláblá foram pra chegar a esse ponto. Sempre empaco nos títulos dos meus textos. Títulos e nomes de personagens – ainda que esse segundo problema se resolva ao pegar o primeiro nome de uma revista ou jornal por perto. Título, porém, é mais complicado. Às vezes, cabe o mais básico possível, como O Fígado pro meu conto no primeiro Ficção de Polpa. Cada caso, porém, é um caso.
Também tem aquelas vezes que a gente acerta em cheio. Aquele conto que me deu o prêmio que recebi no Teatro São Pedro tinha o título O Estranho Caso de Ricardo Almeida. Nada inovador ou criativo, mas dava o tom certo pra história que viria a seguir. E sei que era um bom título porque David Fincher, simplesmente o diretor de Seven e Clube da Luta, chamou o novo filme dele de O Curioso Caso de Benjamin Button.
Será que cabe processar Hollywood por plágio?
Thursday, September 18, 2008
U2 3D
Lembro da última vez que tinha assistido a um filme em terceira dimensão no cinema. Foi em terreno ianque, na Disney, e o filme era uma versão de Exterminador do Futuro. Isso faz uns dez anos, mas recordo que tinha sido uma experiência muito bacana. Depois, nunca mais.
Eis que o Unibanco Arteplex inaugurou, há duas semanas, a primeira sala com projeção 3D em Porto Alegre. No país todo, são apenas nove ou dez. E, para a estréia aqui na província, um show dos irlandeses do U2 – mais especificamente a turnês deles na América Latina, Brasil incluso.
E o troço é fantástico. Sério mesmo. O efeito de profundidade é absurdamente sensacional. A primeira vez que aparece a bateria de Larry Mullen Jr., filmada de cima, percebe-se a diferença que a tecnologia faz. Não vou tão longe a ponto de dizer que o espectador vai se sentir como no show, porém, garanto: é o mais próximo que se pode chegar disso.
Catherine Owens e Mark Pellington, os diretores, utilizam o recurso de diversas formas, com diversos artifícios. Por vezes, quando o plano mostra o palco a partir da perspectiva do público, as mãos da platéia do show chegam a incomodar, parecendo das pessoas da fileira à frente no cinema. E o momento em que Bono canta o verso “Wipe your tears away” em Sunday Bloody Sunday, esticando o braço para alcançar o rosto do espectador, é genial.
Claro que, passado o deslumbre inicial, o que sobra é o talento de showman de Bono e sua trupe. Após quinze, vinte minutos, o 3D se torna comum, com destaque apenas para momentos específicos. No entanto, vale muito a pena pagar um pouco mais caro para uma experiência como essa.
Mas que fique a lição para cineastas que pretendem utilizar a tecnologia: ela ajuda, mas cansa rápido se o filme não tiver suas próprias qualidades.
Nota: 8.5
Eis que o Unibanco Arteplex inaugurou, há duas semanas, a primeira sala com projeção 3D em Porto Alegre. No país todo, são apenas nove ou dez. E, para a estréia aqui na província, um show dos irlandeses do U2 – mais especificamente a turnês deles na América Latina, Brasil incluso.
E o troço é fantástico. Sério mesmo. O efeito de profundidade é absurdamente sensacional. A primeira vez que aparece a bateria de Larry Mullen Jr., filmada de cima, percebe-se a diferença que a tecnologia faz. Não vou tão longe a ponto de dizer que o espectador vai se sentir como no show, porém, garanto: é o mais próximo que se pode chegar disso.
Catherine Owens e Mark Pellington, os diretores, utilizam o recurso de diversas formas, com diversos artifícios. Por vezes, quando o plano mostra o palco a partir da perspectiva do público, as mãos da platéia do show chegam a incomodar, parecendo das pessoas da fileira à frente no cinema. E o momento em que Bono canta o verso “Wipe your tears away” em Sunday Bloody Sunday, esticando o braço para alcançar o rosto do espectador, é genial.
Claro que, passado o deslumbre inicial, o que sobra é o talento de showman de Bono e sua trupe. Após quinze, vinte minutos, o 3D se torna comum, com destaque apenas para momentos específicos. No entanto, vale muito a pena pagar um pouco mais caro para uma experiência como essa.
Mas que fique a lição para cineastas que pretendem utilizar a tecnologia: ela ajuda, mas cansa rápido se o filme não tiver suas próprias qualidades.
Nota: 8.5
O NEVOEIRO
O Nevoeiro (The Mist)
EUA, 2007
Após Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre, Frank Darabont acerta novamente ao adaptar Stephen King com O Nevoeiro. Ainda que o filme seja uma obra de terror, é o lado humano da história que realmente eleva a produção para outro nível. Presas e amedrontadas diante de algo inexplicável, as pessoas de uma cidadezinha começam a ceder aos seus instintos mais primitivos, tornando-se mais ameaçadoras do que as criaturas. Darabont mantém o clima de tensão constante e realiza uma bela alegoria sobre a natureza humana. De quebra, O Nevoeiro possui um dos melhores e mais corajosos finais dos últimos anos.
Nota: 7.5
EUA, 2007
Após Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre, Frank Darabont acerta novamente ao adaptar Stephen King com O Nevoeiro. Ainda que o filme seja uma obra de terror, é o lado humano da história que realmente eleva a produção para outro nível. Presas e amedrontadas diante de algo inexplicável, as pessoas de uma cidadezinha começam a ceder aos seus instintos mais primitivos, tornando-se mais ameaçadoras do que as criaturas. Darabont mantém o clima de tensão constante e realiza uma bela alegoria sobre a natureza humana. De quebra, O Nevoeiro possui um dos melhores e mais corajosos finais dos últimos anos.
Nota: 7.5
LONGE DELA
Longe Dela (Away From Her)
Canadá, 2006
A atriz Sarah Polley tinha apenas 28 anos quanto aventurou-se atrás das câmeras com esse difícil conto sobre um casal lidando com o mal de Alzheimer. Com extrema maturidade, Polley construiu um filme tocante, que trata com sensibilidade e sem pieguice temas como o amor na velhice e a dificuldade de seguir em frente. Julie Christie, indicada ao Oscar, está impecável no papel de Fiona, em uma mistura de doçura e inteligência, enquanto Gordon Pinsent quebra o coração da platéia como o dedicado marido. Longe Dela é um filme triste e melancólico, mas belíssimo.
Nota: 7.5
Canadá, 2006
A atriz Sarah Polley tinha apenas 28 anos quanto aventurou-se atrás das câmeras com esse difícil conto sobre um casal lidando com o mal de Alzheimer. Com extrema maturidade, Polley construiu um filme tocante, que trata com sensibilidade e sem pieguice temas como o amor na velhice e a dificuldade de seguir em frente. Julie Christie, indicada ao Oscar, está impecável no papel de Fiona, em uma mistura de doçura e inteligência, enquanto Gordon Pinsent quebra o coração da platéia como o dedicado marido. Longe Dela é um filme triste e melancólico, mas belíssimo.
Nota: 7.5
TRÊS VEZES AMOR
Três Vezes Amor (Definitely, Maybe)
EUA/Inglaterra, 2008
Ao contrário da maioria das comédias românticas, o final de Três Vezes Amor não é previsível. Este é o principal mérito do filme de Adam Brooks, que apresenta um pai contando a sua filha a história de como conheceu e se apaixonou pela mãe dela. Ainda que os relacionamentos sejam tratados de forma rápida e superficial, o talento do elenco feminino faz de Três Vezes Amor uma obra adorável. Rachel Weisz, Elizabeth Banks, Abigail Breslin e, principalmente, Isla Fisher dão um show de carisma e naturalidade, não deixando o insosso Ryan Reynolds estragar a produção. Recomendável.
Nota: 6.0
EUA/Inglaterra, 2008
Ao contrário da maioria das comédias românticas, o final de Três Vezes Amor não é previsível. Este é o principal mérito do filme de Adam Brooks, que apresenta um pai contando a sua filha a história de como conheceu e se apaixonou pela mãe dela. Ainda que os relacionamentos sejam tratados de forma rápida e superficial, o talento do elenco feminino faz de Três Vezes Amor uma obra adorável. Rachel Weisz, Elizabeth Banks, Abigail Breslin e, principalmente, Isla Fisher dão um show de carisma e naturalidade, não deixando o insosso Ryan Reynolds estragar a produção. Recomendável.
Nota: 6.0
Thursday, September 11, 2008
O Apanhador no Campo de Centeio
Em 1980, um maluco chamado Tracy Chapman assassinou John Lennon em frente ao edifício Dakota, em New York. Quando preso, trazia debaixo do braço um dos livros mais icônicos da literatura mundial. Perguntado sobre as razões para o crime, Chapman respondeu:
- Leiam O Apanhador no Campo de Centeio. Meus motivos estão todos lá.
Pois bem. Li O Apanhador no Campo de Centeio na época do colégio, há uns oito ou nove anos. Até então, não sabia da relação da obra de J.D. Salinger com o assassinato do ex-Beatle. Reli, agora, e continuo não entendendo os motivos de Chapman.
O que dá pra entender é porque O Apanhador no Campo de Centeio tornou-se uma das obras mais cultuadas e adoradas da literatura. O misterioso Salinger conseguiu, em apenas duzentas páginas, versar sobre toda a insatisfação, inconformismo e falta de rumo da juventude. Sua história, que acompanha um final de semana na vida do riquinho Holden Caufield, tornou-se bíblia da juventude norte-americana, que encontrou no protagonista uma representação acurada de seus sentimentos.
Caufield é um jovem recém-expulso do colégio que não quer voltar para casa antes da data prevista, para que seus pais não saibam que levou bomba. Então, tenta matar o tempo de todas as formas, revelando ao leitor sua indignação com o mundo, com as pessoas, com as aparências, enquanto tenta encontrar um caminho para si mesmo.
O que Salinger atingiu com sua obra foi um equilíbrio perfeito entre a exposição da alma atormentada de um jovem e uma narrativa extremamente agradável de ler. A narrativa é realizada em “fluxo de consciência”, com o personagem falando sobre diversos assuntos ao mesmo tempo, muitas vezes sem coesão alguma. O bom-humor está presente, sempre com os comentários ácidos de Caufield, e o personagem ainda encontra espaço para expor sua humanidade, especialmente em direção aos fracos – como crianças e derrotados.
O Apanhador no Campo de Centeio é, sim, uma leitura obrigatória tanto para quem gosta de literatura quanto para qualquer jovem do mundo, apesar da péssima tradução para o português. O livro, lançado em 1951, foi uma febre e, por tratar principalmente de temas interiores da juventude, continua atual ainda hoje.
Uma obra que, provavelmente, até Holden Caufield teria gostado.
- Leiam O Apanhador no Campo de Centeio. Meus motivos estão todos lá.
Pois bem. Li O Apanhador no Campo de Centeio na época do colégio, há uns oito ou nove anos. Até então, não sabia da relação da obra de J.D. Salinger com o assassinato do ex-Beatle. Reli, agora, e continuo não entendendo os motivos de Chapman.
O que dá pra entender é porque O Apanhador no Campo de Centeio tornou-se uma das obras mais cultuadas e adoradas da literatura. O misterioso Salinger conseguiu, em apenas duzentas páginas, versar sobre toda a insatisfação, inconformismo e falta de rumo da juventude. Sua história, que acompanha um final de semana na vida do riquinho Holden Caufield, tornou-se bíblia da juventude norte-americana, que encontrou no protagonista uma representação acurada de seus sentimentos.
Caufield é um jovem recém-expulso do colégio que não quer voltar para casa antes da data prevista, para que seus pais não saibam que levou bomba. Então, tenta matar o tempo de todas as formas, revelando ao leitor sua indignação com o mundo, com as pessoas, com as aparências, enquanto tenta encontrar um caminho para si mesmo.
O que Salinger atingiu com sua obra foi um equilíbrio perfeito entre a exposição da alma atormentada de um jovem e uma narrativa extremamente agradável de ler. A narrativa é realizada em “fluxo de consciência”, com o personagem falando sobre diversos assuntos ao mesmo tempo, muitas vezes sem coesão alguma. O bom-humor está presente, sempre com os comentários ácidos de Caufield, e o personagem ainda encontra espaço para expor sua humanidade, especialmente em direção aos fracos – como crianças e derrotados.
O Apanhador no Campo de Centeio é, sim, uma leitura obrigatória tanto para quem gosta de literatura quanto para qualquer jovem do mundo, apesar da péssima tradução para o português. O livro, lançado em 1951, foi uma febre e, por tratar principalmente de temas interiores da juventude, continua atual ainda hoje.
Uma obra que, provavelmente, até Holden Caufield teria gostado.
Monday, September 08, 2008
POSSUÍDOS
Juro que ainda não sei o que pensar de Possuídos. Na verdade, sei que admiro a obra e a coragem de William Friedkin em contar essa difícil história. Afinal, espera-se que um cineasta consagrado, pertencente ao panteão do cinema norte-americano graças a O Exorcista, limite-se a projetos mais seguros, onde pudesse manter seu status e não despertar o ódio das platéias. Particularmente, não odeio Friedkin por Possuídos, mas é bem provável que muita gente o fará.
Quem assistiu a algum trailer de Possuídos, pode começar a esquecer o que viu. O filme nada tem a ver com o que foi vendido. Não é uma história de terror sobre insetos assassinos se infiltrando sobre a pele das pessoas. O único inseto que o espectador verá é o que vai pousar na tela da televisão. Nada mais. Possuídos, na realidade, é um interessantíssimo estudo de personagens, repleto de significados e detalhes que deixam muitas questões para a platéia responder.
E isso é bom? Nem sempre. É um caminho arriscado para qualquer cineasta construir uma obra vaga, que deixa lacunas a serem preenchidas. Quando o diretor sabe o que faz, o resultado é positivo. Fellini em 8 e ½, Kubrick em 2001 – Uma Odisséia no Espaço e David Lynch em Cidade dos Sonhos são exemplos de incursões bem-sucedidas nessa área. No entanto, estes são raros acertos. Normalmente, o que se vê são filmes confusos, sem pé nem cabeça, que tentam mascarar os problemas sob o rótulo de “inteligente”.
Possuídos não é nem um, nem outro. O filme possui, sim, sua parcela de falhas. A narrativa é repetitiva, revelando sua a origem teatral, com os personagens voltando ao mesmo assunto dezenas de vezes, o que torna o filme, por vezes, cansativo. Da mesma forma, há cenas desnecessárias, com o único propósito de encher lingüiça. E, claro, muitos momentos criados por Friedkin e pelo roteirista Tracy Letts parecerão sem o menor sentido para a grande maioria.
No entanto, Possuídos não chega a ser uma produção tão difícil de acompanhar ou entender. A construção da história é interessante, uma vez que Friedkin não tem pressa em apresentar e construir os personagens. Somente depois que o espectador conhece Agnes e Peter, as maluquices começam a acontecer. Por isso afirmei lá em cima que Possuídos foi mal marqueteado. Na realidade, não é um filme de terror, mas um conto sobre a aproximação entre duas pessoas repletas de problemas. Pode parecer estranha essa afirmação, mas Possuídos é, em sua essência, uma história de amor. Perturbada e doentia, mas uma história de amor.
É aí, porém, que começam as perguntas. Quanto do que se passou foi real e quanto foi ilusão? Quem eram, realmente, personagens como Peter, dr. Sweet e RC? Que fim levou o filho de Agnes? Quem ligava para a protagonista? De onde surgiu o entregador de pizza? São diversas questões, todas passíveis de múltiplas interpretações, o que certamente fará com que o grande público vire a cara para o filme, mas também o que tem feito Possuídos ganhar uma crescente legião de seguidores.
Escrevi lá no início que ainda não sabia o que pensar de Possuídos. Continuo não sabendo, mas escrever esse texto já ajudou um pouco. É, certamente, uma obra ousada, destinada a um público restrito, com boas interpretações e boas idéias. Mas é, também, um filme com problemas de ritmo e de soluções vagas. O resultado final é interessante, com certeza. Bom? Não sei. Espero que me ajudem a chegar a alguma conclusão.
Nota: 7.0
Quem assistiu a algum trailer de Possuídos, pode começar a esquecer o que viu. O filme nada tem a ver com o que foi vendido. Não é uma história de terror sobre insetos assassinos se infiltrando sobre a pele das pessoas. O único inseto que o espectador verá é o que vai pousar na tela da televisão. Nada mais. Possuídos, na realidade, é um interessantíssimo estudo de personagens, repleto de significados e detalhes que deixam muitas questões para a platéia responder.
E isso é bom? Nem sempre. É um caminho arriscado para qualquer cineasta construir uma obra vaga, que deixa lacunas a serem preenchidas. Quando o diretor sabe o que faz, o resultado é positivo. Fellini em 8 e ½, Kubrick em 2001 – Uma Odisséia no Espaço e David Lynch em Cidade dos Sonhos são exemplos de incursões bem-sucedidas nessa área. No entanto, estes são raros acertos. Normalmente, o que se vê são filmes confusos, sem pé nem cabeça, que tentam mascarar os problemas sob o rótulo de “inteligente”.
Possuídos não é nem um, nem outro. O filme possui, sim, sua parcela de falhas. A narrativa é repetitiva, revelando sua a origem teatral, com os personagens voltando ao mesmo assunto dezenas de vezes, o que torna o filme, por vezes, cansativo. Da mesma forma, há cenas desnecessárias, com o único propósito de encher lingüiça. E, claro, muitos momentos criados por Friedkin e pelo roteirista Tracy Letts parecerão sem o menor sentido para a grande maioria.
No entanto, Possuídos não chega a ser uma produção tão difícil de acompanhar ou entender. A construção da história é interessante, uma vez que Friedkin não tem pressa em apresentar e construir os personagens. Somente depois que o espectador conhece Agnes e Peter, as maluquices começam a acontecer. Por isso afirmei lá em cima que Possuídos foi mal marqueteado. Na realidade, não é um filme de terror, mas um conto sobre a aproximação entre duas pessoas repletas de problemas. Pode parecer estranha essa afirmação, mas Possuídos é, em sua essência, uma história de amor. Perturbada e doentia, mas uma história de amor.
É aí, porém, que começam as perguntas. Quanto do que se passou foi real e quanto foi ilusão? Quem eram, realmente, personagens como Peter, dr. Sweet e RC? Que fim levou o filho de Agnes? Quem ligava para a protagonista? De onde surgiu o entregador de pizza? São diversas questões, todas passíveis de múltiplas interpretações, o que certamente fará com que o grande público vire a cara para o filme, mas também o que tem feito Possuídos ganhar uma crescente legião de seguidores.
Escrevi lá no início que ainda não sabia o que pensar de Possuídos. Continuo não sabendo, mas escrever esse texto já ajudou um pouco. É, certamente, uma obra ousada, destinada a um público restrito, com boas interpretações e boas idéias. Mas é, também, um filme com problemas de ritmo e de soluções vagas. O resultado final é interessante, com certeza. Bom? Não sei. Espero que me ajudem a chegar a alguma conclusão.
Nota: 7.0
Friday, September 05, 2008
Dion Maquein
Vi uma parte do discurso do McCain ontem no encontro dos Bushianos lá na Xisburguerlândia. Simplista, superficial e batendo fortemente no patriotismo e na história de ter sido preso pelos vietcongues. Os ianques adoram. Chegou inclusive a tentar trazer a palavra-chave da campanha do Obama, “mudança”, pro seu lado. Sinceramente, não tem como afirmar que o Hussein (Barack, não o Saddam) será um bom presidente, mas ele tem tudo pra fazer um grande mandato. Primeiro que é um puta orador: os discursos dele são fascinantes e McCain não chega aos seus pés nesse sentido. E, segundo, se for para acreditar em um discurso de mudança, será o de Obama. McCain só vai seguir a linha George Júnior de ser. Mas os americanos são idiotas. Era irritante ver os caras aplaudindo qualquer merdinha que o cabeça branca falava. O negócio é esperar.
O PROCURADO
O Procurado é um filme idiota. Muito. A trama é simplista, as reviravoltas não fazem o menor sentido e as cenas de ação desafiam toda e qualquer lei da física. Mas O Procurado é um filme incrivelmente divertido. Dirigida pelo russo Timur Bekmambetov (responsável pelo mediano Guardiões da Noite e sua continuação, que não assisti), a produção entra pra lista dos filmes de ação sem cérebro. Em termos de conteúdo, zero. Mas essa não é a proposta da obra. O objetivo é pura e simplesmente diversão com os pés na lua. E, nesse sentido, O Procurado funciona. Primeiro, pelo bom elenco. James McAvoy não possui o perfil de herói de ação, mas convence pela sua capacidade como intérprete, com boa identificação com a platéia; Angelina Jolie utiliza toda sua sensualidade e magnetismo para construir a misteriosa Fox; e Morgan Freeman, como sempre, traz um pouco de classe à trama. No entanto, o destaque fica mesmo por conta das cenas ação mirabolantes. Sabemos que o que acontece é impossível, mas o filme não se leva a sério em momento algum, o que torna aceitável os carros dando piruetas e as balas atiradas em curva – um conceito, no mínimo, original. Há diversos momentos de pura criatividade visual, como as teclas do teclado formando uma palavra no ar, alguns claramente inspirados em Matrix. O Procurado não vai acrescentar nada ao espectador, mas quem topar entrar na brincadeira, como o elenco fez, provavelmente vai se divertir um bocado.
Nota: 6.0
Nota: 6.0
Wednesday, September 03, 2008
Linha tênue
Ao contrário da maioria, nada tenho contra o horário político. Muito pelo contrário: adoro. Divirto-me. Além de superar CQC e Pânico como o melhor programa de humor da televisão brasileira, o horário político serve para muitas coisas, mesmo que a menor delas seja ajudar na escolha sobre em qual dos políticos/atores votar. No mínimo, faz as pessoas conversarem sobre política. Pode ser sem conhecimento e com a profundidade que Sabrina Sato discutiria o tema, mas já é alguma coisa.
Por alguns dias, as pessoas falam sobre isso. Que seja sobre o cabelo de uma. Que seja sobre as gírias utilizadas no jingle de outro. Por menor que seja, o grau de envolvimento entre a população e a classe política aumenta, o que só traz benefícios. Não custa sonhar que esse possa ser um primeiro passo para que o jovem, comendo cachorro-quente na frente da tela antes de sair com os amigos, se interesse pelo assunto. Pode ser o ponto de partida para que a mãe, fazendo o jantar enquanto espera a novela começar, queira se envolver mais com os candidatos. Para chegar à solução, é preciso iniciar de alguma forma.
Claro que o ideal seria essa aproximação durante os quatro anos de mandato de cada eleito. Mas não vivemos na utopia de Thomas More. Os eleitores, e não me eximo de culpa alguma, nem fiscalizam o desempenho de seus candidatos. Pedir algo além seria exigir demais. O horário político, porém, não deixa de ser um começo. A linha que separa governantes de governados é mais tênue do que parece. Ao menos, deveria ser. Eles estão lá por nossa causa. Porque acreditamos que aquele homem ou mulher seria o melhor para representar nossos interesses. Ou o menos pior. De nada adianta levar a boca deles até a teta do governo e não cobrar se estão fazendo o que prometeram.
É preciso acabar com a história de nós aqui e eles lá. A consciência que deve surgir é a de que o cara não está ocupando um cargo público de destaque para construir uma carreira e ser bem-sucedido financeiramente. Ele foi eleito para lutar pelos direitos do povo, por agir por uma sociedade mais democrática, justa e igualitária. Para batalhar por segurança, educação, justiça e saúde. Para que possamos acreditar na pesquisa recém-divulgada que afirma ser o jovem brasileiro o mais otimista do mundo.
Estamos longe disso, eu sei. A ignorância política do povo brasileiro é imensa e, infelizmente, ainda vista como motivo de orgulho por muitos. Boa parte da população quer distância do que ocorre nos poderes, mas, paradoxalmente, acredita ter o direito de reclamar por melhorias. Apenas quando cada um despertar em si a consciência de que governantes e governados estão juntos, de que depende de nós o papel desempenhado por eles lá em cima, podemos começar a pensar em um país mais evoluído.
Porque o Brasil é, sim, um grande país. A merda é o deixamos fazerem dele.
Por alguns dias, as pessoas falam sobre isso. Que seja sobre o cabelo de uma. Que seja sobre as gírias utilizadas no jingle de outro. Por menor que seja, o grau de envolvimento entre a população e a classe política aumenta, o que só traz benefícios. Não custa sonhar que esse possa ser um primeiro passo para que o jovem, comendo cachorro-quente na frente da tela antes de sair com os amigos, se interesse pelo assunto. Pode ser o ponto de partida para que a mãe, fazendo o jantar enquanto espera a novela começar, queira se envolver mais com os candidatos. Para chegar à solução, é preciso iniciar de alguma forma.
Claro que o ideal seria essa aproximação durante os quatro anos de mandato de cada eleito. Mas não vivemos na utopia de Thomas More. Os eleitores, e não me eximo de culpa alguma, nem fiscalizam o desempenho de seus candidatos. Pedir algo além seria exigir demais. O horário político, porém, não deixa de ser um começo. A linha que separa governantes de governados é mais tênue do que parece. Ao menos, deveria ser. Eles estão lá por nossa causa. Porque acreditamos que aquele homem ou mulher seria o melhor para representar nossos interesses. Ou o menos pior. De nada adianta levar a boca deles até a teta do governo e não cobrar se estão fazendo o que prometeram.
É preciso acabar com a história de nós aqui e eles lá. A consciência que deve surgir é a de que o cara não está ocupando um cargo público de destaque para construir uma carreira e ser bem-sucedido financeiramente. Ele foi eleito para lutar pelos direitos do povo, por agir por uma sociedade mais democrática, justa e igualitária. Para batalhar por segurança, educação, justiça e saúde. Para que possamos acreditar na pesquisa recém-divulgada que afirma ser o jovem brasileiro o mais otimista do mundo.
Estamos longe disso, eu sei. A ignorância política do povo brasileiro é imensa e, infelizmente, ainda vista como motivo de orgulho por muitos. Boa parte da população quer distância do que ocorre nos poderes, mas, paradoxalmente, acredita ter o direito de reclamar por melhorias. Apenas quando cada um despertar em si a consciência de que governantes e governados estão juntos, de que depende de nós o papel desempenhado por eles lá em cima, podemos começar a pensar em um país mais evoluído.
Porque o Brasil é, sim, um grande país. A merda é o deixamos fazerem dele.
Tuesday, September 02, 2008
Sonho de nerd
Tá, eu sou um nerd. Nunca neguei isso. Mas até hoje nunca fui nerd o suficiente pra ser viciado em gibis e ter coleções de bonequinhos. Os únicos que tenho são uns pequenos do Homer, Bart e Lisa, que ganhei de aniversário este ano, e um outro do Homer maior, de pelúcia, com o qual durmo abraçado todos os dias e que também foi presente - diretamente de Las Vegas.
Agora, me deu vontade de ter esse aí de cima do Coringa. Um dos personagens mais divertidos e fantásticos do Cinema nos últimos anos em um boneco simplesmente perfeito. Os detalhes são impressionantes. Pela bagatela do duzentos dinheiros do Tio Sam.
Ah, se eu não fosse pobre, terceiro-mundista e quisesse passar a imagem de ser normal...
Agora, me deu vontade de ter esse aí de cima do Coringa. Um dos personagens mais divertidos e fantásticos do Cinema nos últimos anos em um boneco simplesmente perfeito. Os detalhes são impressionantes. Pela bagatela do duzentos dinheiros do Tio Sam.
Ah, se eu não fosse pobre, terceiro-mundista e quisesse passar a imagem de ser normal...
O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA
Apesar de fã dos textos de Gabriel García Márquez, jamais li O Amor nos Tempos do Cólera, uma de suas mais cultuadas obras. Ainda assim, tenho absoluta certeza de que o livro do Nobelizado colombiano é infinitamente melhor que a adaptação cinematográfica dirigida por Mike Newell. A abordagem superficial do roteiro e da direção fazem de O Amor nos Tempos do Cólera uma insuportável lenga-lenga de mais de duas horas, onde a história de amor e sacrifício do protagonista jamais encontra qualquer ressonância no espectador. A identificação com os personagens é nula, pela construção estereotipada e pelo fato destes tomarem atitudes sem o menor sentido, como a recusa de Fermina a ficar com Florentino após anos de cartas apaixonadas. Enquanto isso, as atuações são caricatas (inclusive Javier Bardem e Fernanda Montenegro) e os intérpretes jamais transformam seus personagens em pessoas reais – a falta de química entre eles também contribui para isso. De quebra, a mão pesada de Newell dá o tom errado de diversas cenas, com momentos embaraçosos de humor e a tentativa de emocionar de qualquer forma. O Amor nos Tempos do Cólera é tecnicamente primoroso – fotografia e direção de arte, especialmente –, mas falha monumentalmente quando se trata de narrativa e despertar sentimentos genuínos. García Márquez merecia coisa melhor.
Nota: 4.0
Nota: 4.0
Alice no País das Maravilhas
Considerada uma das mais importantes obras da literatura infantil, Alice no País das Maravilhas é muito mais que isso. A história de Lewis Carroll sobre a garota que vai parar em uma terra de seres malucos e situações estranhas pode, sim, ser vista como um conto de fadas. No entanto, não é difícil perceber que cada página do livro traz insuspeitada profundidade, com diálogos inteligentes e situações repletas de metáforas. Alice no País das Maravilhas é uma leitura fascinante, seja para compreender seus significados, seja para se divertir com a fantástica imaginação de Carroll - que só poderia estar expandindo a consciência quando criou essa fascinante viagem.
Crônica de um Amor Louco
Ame-o ou odeie-o. Por mais clichê que seja, a frase é perfeita para definir um dos escritores mais politicamente incorretos da literatura mundial. Crônica de um Amor Louco – Ereções, Ejaculações e Exibicionismos é um exemplo da verve ácida de Charles Bukowski. São diversos contos, a maioria em primeira pessoa, envolvendo noitadas repletas de sexo, tragos homéricos, ressacas e libertinagem, contados com ironia e subversão. Quem conhece o trabalho de Bukowski, sabe o que esperar. Quem não conhece, vale a pena conhecer. Só não espere um conto de fadas.